Capítulo 62

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Te sinto aqui, abraçando-me, respirando sobre mim, seu corpo pequeno buscando proteção em meu peito. Ainda que tenha ido, eu não me soltei de você, eu te puxo de volta, quantas vezes precisar.

— Bela... — Murmurei, deslizando a mão para seu rosto e fitei seus olhos. Ela sorriu, seus cabelos caindo sobre mim, me impedindo de a ver direito. - Bela... — Repiti sem acreditar que a tinha em meus braços. Surpreso, emocionado.

— William... Independente do que me disser agora... — A calei com um beijo, a apertei contra mim, deslizando os meus dedos sobre suas costas desnudas. Seu corpo encaixado no meu, rebolando de maneira sexy, causando um prazer indescritível e ambos gememos. Mordisquei sua garganta, parando pra respirar. E tudo voltou a minha mente, deixando-me agoniado.

— Desde que você se foi... eu... não sei o que fazer... — Minha voz trêmula, as palavras presas em minha garganta. — Não me deixe, nunca mais...

— Shiii... — Colocou os dedos sobre minha boca. Calando-me. — Nunca mais... — Sussurrou. Seus labios desceram sobre os meus novamente, e qualquer pensamento se perdeu diante disso. A amei durante toda noite, beijando e acariciando cada centímetro da sua pele, trocando juras de amor... Anestesiado demais pelo álcool, para perceber o que era sonho e o que era realidade. Somente quando acordei, a cama vazia denunciou que tudo não passou de um sonho. O desespero tomou conta de mim, apertei o travesseiro que ainda guardava o seu perfume, soluçando, sentindo-me sufocado e de mãos atadas diante da situação, quero lutar e a ter de volta, mas ela pediu um tempo e o tempo não passa. Chorei copiosamente, sozinho, quebrando nessa hora completamente.  Chorei a saudade, chorei a dor de perdê-la, chorei por mim mesmo. Chorei como se eu nunca fosse ser capaz de parar, mas em algum momento eu parei, cansado, anestesiado, como se ainda estivesse bêbado. E permaneço ali, na nossa cama, sozinho, não a nenhuma razão pra levantar, desde que Bela se foi, tudo parece sem importância e vazio.
Não sei como minha vida pode mudar tanto, em tão pouco tempo, eu só iria trazer ela pra Isabel, era só isso que eu tinha que fazer, eu não tinha que me encantar com seu sorriso, nem amar sua doçura, não tinha que desejar seu corpo, não tinha que a disvirginar e muito menos deixar tudo em segundo plano para estar com ela. Deveria ter me preocupado com a minha agência, focar no trabalho, esquecer da mulher que estava em casa, me esperando com um sorriso, se preocupando com o meu jantar, se entregando a mim, com doçura e confiança... Porra! Como não me apaixonar? Impossível. Tudo nela é apaixonante e eu não me arrependo de nada, porque ela foi a coisa mais linda que aconteceu na minha vida, a melhor, de tudo o que eu tenho, ela se tornou o meu maior bem, meu tesouro. E eu não mudaria nada, porque cada detalhe, cada gesto e momento me fizeram ama-la cada dia mais. A ponto de enlouquecer com sua partida e beber metade de uma garrafa de whisky. E agora tudo que faço é olhar para o enorme quadro em minha parede, uma ampliaçao em preto e branco, dos seus olhos, seu sorriso, as covinhas que a deixam tão charmosa, foi a unica forma que encontrei de a ter perto, mesmo longe de mim.

Foi quase que automático, acordar e minhas mãos procurarem o celular entre as cobertas, ele havia se desligado. Droga! O joguei de volta na cama irritado, na noite anterior, liguei pra Bela, e não aguentei fingir, chorei e pedi que voltasse, ela negou, mas disse que me amava, que ainda precisava de tempo. E me mandou dormir, dizendo que não desligaria e de fato eu dormi, ouvindo sua respiração, como se ela estivesse comigo, mas é frustante, acordar e ela não estar. Depois de um banho me forcei a ir trabalhar, já fazia dois dias que não aparecia na agência e não posso me dar ao luxo de desistir, muita gente depende de mim. Candelária estava lá com a mesa do café pronta, fazendo eu lembrar da Bela imediatamente.
— Bom dia Candelária, não estou com fome, mas obrigado. — Ela virou-se, parecendo decepcionada com a minha recusa.
— Bom dia, só um café então? — Me pediu parecendo esperançosa. Nego mais uma vez, pego meu notebook no sofá e ia saindo, mas...
— Senhor William, ontem noite não jantou e mal comeu de meio dia, se continuar assim, vai ficar doente. — Estranhei ela estar tão interessada no que eu como, Candelária sempre foi muito reservada comigo, apesar de ter muita liberdade com a Bela.
— Vou comer algo na agência. — Ela abaixa a cabeça como se concordasse, mas volta a me fitar, como se tivesse algo a me dizer.
— Mais alguma coisa?
— É... Me desculpe por estar me intrometendo, mas Maite me pediu para que cuidasse do senhor.
—  Ela pediu? — Perguntou chegando mais perto.
— Sim, ela disse que o senhor não come direito se não ficar insistindo. — Um sorriso bobo cresce em meus lábios, por saber que ela se preocupa e conhece as minhas manias. Disfarço minha alegria ao ver Candelária me fitando.
— Bem... — Finjo olhar a hora no celular. — Ainda tenho tempo. — Me sento na mesa e Candelária me serve o café sorrindo.
— Ela falou mais alguma coisa? — Pergunto curioso.
— Não. — Concordo, tomando meu café. — Mas ela vai voltar, Maite tem o coração de ouro e ela gosta muito do senhor, vai entender que tudo que fez foi pelo bem dela.
— Espero que sim, esse apartamento não tem vida sem ela. — Respiro pra não voltar a chorar e Candelária se afasta, deixando-me sozinho. Ao fim comi quase tudo que tinha na mesa, saber que Bela pediu pra cuidarem de mim, abriu meu apetite e reacendeu minhas esperanças.
Cheguei na agência as oito e fui direto  para minha sala, Clara entrou logo em seguida com papeis e relatórios.
— Obrigada, peça pro Rafael vir até aqui por favor.
— Ele não está, tirou o dia de folga para resolver problemas pessoais.
— Tudo bem. — Me preocupo, afinal nesses  últimos três dias não tenho falado muito com ele, só me importei com a minha dor e esqueci que não sou o único a sofrer, Isabel deve estar muito mal. Pego meu celular e ligo pra ele que demora a atender.
— Alô?
— Rafael! Está tudo bem? Estou na agência e Clara me falou que tirou o dia de folga pra resolver problemas pessoais. É algo com a Isabel? Ela está bem?
— Bem não, mas está instável. Estou resolvendo outra coisa.
— Entendi.
— Você disse que está na agência? Eu deixei algumas coisas que precisam da sua assinatura em cima da sua mesa.
— Sim, eu já vi. Desculpe ter deixado tudo nas suas costas, eu só não tinha cabeça pra trabalho.
— Eu entendo. Eu volto a tarde, até mais.
— Até...  Hey! Espera, eu vi um relatório sobre... — Olho o celular, notando que ele desligou, parecia estar ocupado, mas se o problema não é Isabel, então qual é?
Tento me concentrar e trabalhar, mas minha mente está longe, preciso ler três vezes um paragrafo pra entender o que está escrito. Olhei pra frente e lembrei de Bela, sentada no sofá, me esperando acabar o trabalho para irmos almoçar juntos, então o pai dela ligou, o que a deixou triste e ela me confessou que ele havia pedido pra ela se divorciar de mim, fiquei louco, então ela veio até mim, sentou no meu colo, olhou em meus olhos e me disse que eu não iria perdê-la, ela disse que eu não iria perdê-lá. E então ela saiu de casa e foi morar com a Camilla. Lágrimas vertem em meus olhos, não consigo evitar, passo a mão no rosto, me afundando na cadeira. Batem na porta nesse instante. Droga! Enxugo os olhos rapidamente e mando entrar.

— Mãe. — Digo surpreso. Ela sorri, mas logo sua expressão fica séria.
— Como você está meu filho? — Levanto da cadeira recebendo seu abraço. Todas minhas defesas caindo por terra, ela me acaricia e depois me olha no rosto.
— Estou bem. — Minto, mas ela sabe que não é verdade.
— Você está tão magro e... triste. — Suspiro, negando.
— Estou bem. Porque está aqui?
— Vim ajudar Heriberto a cuidar da Isabel e também te ver meu amor. — Ela toca meu rosto, preocupada. — Você nunca me conta nada, sempre dizendo que tudo ta bem, quando eu sei que não está. 
— Só não queria te preocupar, mãe.
— Sou sua mãe, sempre vou estar preocupada com você, não importa como esteja. — Sorrio.
— Eu sei, obrigada. — A abraço apertado, acho que eu precisava disso. Ser cuidado por alguém. Me sentir amado. — Agora, senta por favor. — Indico o sofá e me sento ao seu lado.
— Como Isabel está?
— Ainda não sei, cheguei hoje e vim correndo te ver, vou lá ver ela depois. — Ela segura a minha mão, me analisando.
—  Precisa comer William, está muito magro. — Sorrio lembrando de Candinha, querendo que eu coma, sob as ordens da Bela.
— Mãe olha pro meu tamanho, acha que eu vou ficar doente por falta de comida?
— Isso não importa, quero que coma e que fique bem.
— Estou comendo. E o papai? — Mudo de assunto.
— Ele está bem, ficou pra cuidar da empresa, sem o Heriberto está uma correria.
— Entendi.
— Mas ele também está preocupado com você.
— Já disse que estou bem mãe. — Ela me olha e sei que não acredita.
— Guilherme, eu sei que gosta da Isabel e fico orgulhosa por ter ajudado ela, mas você já fez a sua parte, já trouxe a Isabel e contou a verdade pra Maite, está na hora de deixar elas se resolverem e ir viver a sua vida filho.
— Minha vida está ligada a Maite, de uma forma que... — Paro de falar, ou vou chorar na frente dela e não quero preocupa-la mais.
— Filho essa história não é sua... Só precisa pedir o divórcio...
— NÃO! — Nego categoricamente. — Mãe? O que eu preciso dizer pra que você entenda que eu amo a Maite, amo de verdade e quero ela na minha vida.
— Tudo bem, vamos ser sinceros meu filho. Eu não acho que ela seja mulher pra você, foi criada pelo pai e sabe lá que valores ela tem.
— Mãe...
— Ela te deixou na primeira oportunidade, foi embora com a amiga e nem ao menos quis ouvir a Isabel.
— Não, não foi assim, ela não foi embora, ela só pediu um tempo pra pensar.
— De qualquer forma William... Eu não quero ela como sua mulher, quero que seja feliz meu filho, com uma mulher que te mereça e se esforce pra te fazer feliz, não uma que só te traga problemas. — Encaro minha mãe sem acreditar em suas palavras.
— Uma que se esforçe pra me fazer feliz? Uma que se preocupe se eu comi direito? Que me espere no sofá da sala quando eu demoro a chegar do trabalho? Que escute meus problemas e mesmo sem entender, diga que tudo vai se resolver. Que faça fotos que ela nem queria, só pra eu não perder um cliente?
Que mesmo indo embora, deixou uma ordem clara a empregada pra que insistisse que eu comesse direito? Porque é tudo isso que a Bela faz mãe e se isso não é se esforçar pra me fazer feliz, eu não sei o que é. — Minha mãe parece surpresa, mas ela ainda não se dá por vencida.
— Se Maite se preocupa e te ama assim, porque ela foi embora de casa?
— Porque ela está com medo, eu vejo isso, com medo de tudo... Ela sempre sonhou em ter a mãe com ela, e agora ela tá com medo de viver esse sonho e se machucar, tá com medo de confiar em mim e eu a machucar... Porque mãe todos sempre a machucaram. — Suspiro e dessa vez não evito as lágrimas. — O próprio pai a machucou tantas vezes, a madrasta, a meia irmã, todos... — Meu peito se aperta só de pensar no sofrimento dela. —  Mãe... ela foi abusada sexualmente pelo diretor do colegio interno onde o pai a mantinha, ainda era uma menina e passou por tudo isso sozinha. —Vejo minha mãe levar a mão na boca, perplexa. — E mesmo diante de tudo, ela continua sendo doce, honesta, justa e gentil. Ela confiou em mim, era virgem e se entregou a mim com amor e doçura, fui o único homem da sua vida. E agora ela descobriu que eu menti, com razão ela precisa de um tempo... — Enxugo as lágrimas com as costa da mão. — Mas mãe... Cada vez que eu olho pra ela, sinto vontade de abraca-la e de protegé-la de todos. Porque eu nunca mais quero deixar ninguém machuca-la mãe. Eu quero dar a ela uma família, uma família amorosa, ela nunca teve isso. E eu preciso que goste dela, que me ajude a cuidar dela, mãe. Porque ela vai ser a mãe dos seus netos, a mulher que eu amo...
— Vou ajudar meu filho. Ela vai ser querida e amada como uma filha. — Diz me abraçando com força. Então choro de verdade, como um menino, me aninhando em seus braços. E ela sussura que tudo bem, que tudo vai ficar bem.


Eu resolvi mudar o final desse capitulo, faltava a cena do William com a mãe dele, alguém que cuidasse dele! E pra quando Bela voltar e entrar de verdade nessa familia, não reste nenhuma duvida que ela é uma grande mulher e que seja amada por todos como ela merecê, principalmente pela mãe do Wil que ainda tinha dúvidas.

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