Capítulo 63

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Me sentia presa, ouvindo e sentindo as pessoas me tocarem, mas sem conseguir realmente acordar, como se eu estivesse longe dali. E quando volto a mim, ainda me sinto cansada e confusa. Vejo que estou em um quarto branco, com muitas camas, camas de hospital, consigo destinguir um soro em meu braço e logo uma mulher de branco surge na minha frente.
— Acordou, como se sente?
— O que ouve?
— Você desmaiou e te trouxeram aqui para o hospital o doutor Gustavo já te examinou e parecer ser só uma queda de pressão, mas vamos esperar o resultado dos exames pra ter certeza, então por enquanto você vai ficar em observação, tente ficar tranquila.  — Olho em volta procurando por algo familiar.
— Está sentindo alguma dor?
— Não, só... cansada.
— Está bem. Você já teve algum desmaio antes?
— Não, mas semana passada passei mal pelo mesmo motivo.
— Entendi. Você toma remédios para a pressão? Ou para alguma outra finalidade?
— Não. — Ela anota tudo numa prancheta.
— Anticoncepcional?
— Não.
— Tem sentido algo que considere anormal? 
— Enjôos e tontura as vezes. Mas é porque... foi uma semana difícil.
— Ok. Vamos esperar o diagnóstico do médico. Tenta descansar e aperta o botão se precisar. — Ela sai do quarto e fico ali quieta, pensando no que ouve, lembro que estava no escritório do meu pai, da briga que tivemos, não o vejo em lugar nenhum, com certeza foi embora e me deixou aqui sozinha, é típico dele. Mas prefiro que seja assim, estou cansada pra discutir com ele de novo e com medo de tudo que me disse, medo que cumpra as suas ameaças e coloque  William na cadeia, ele não tem poder pra isso ou tem? O desespero me engolfa, fazendo-me voltar a chorar, William não pode ir preso. 
Assusto quando vejo a porta se abrir e meu pai entra por ela, mal respiro deitada na cama. Ele parece adordoado e com mais raiva do que antes me olhando fixamente.
— Seu médico já te deu alta, vão vir tirar isso do seu braço e você vai poder ir pra casa. — Ele diz rápido demais.
— Então... Não estou doente? — O jeito que ele me olha, me faz desviar o olhar.
— Não, como sempre Maite, você está me fazendo perder tempo por nada. Só o que precisa  fazer é comprar um remédio pra enjôo na farmácia.
— Está bem. — Permaneci quieta, mas uma duvida martelava em minha mente. Olhei meu pai que estava no celular, de costas pra mim. E hesitei em falar, mas precisava.
— Pai... Vai mesmo processar o William? — Seu olhar direcionado a mim foi mortal.
— Cadeia ainda é pouco pra ele. — Foi tudo o que me disse, fazendo o medo crescer dentro de mim. Nesse instante uma enfermeira entra no quarto e retira o soro do meu braço. Depois entrega um papel para o meu pai assinar.
— Certinho, estão liberados. — Ela sorri pra mim e se retira. Me levanto, apoiando-me na cama, ainda cansada demais. Fico surpresa quando sinto Jorge pegar meu braço, e me apoio nele pra sair do hospital. Por um instante me permito sonhar que ele se importa e se preocupa comigo, como um verdadeiro pai, mas o sonho não dura muito e ele se solta de mim.
— Tenho que ir trabalhar, você já me atrasou demais. Pense bem no que vai fazer daqui pra frente, não quero você ligada aquele bastardo.
— Sem olhar pra trás ele me deixa ali, sozinha, cheia de duvidas e medos. Sinto vontade de chorar, me sentindo tão desamparada, abraço a mim mesma, numa fracassada tentativa de proteção.
— Mai? — Olhei para o lado e suspirei, me sentindo exausta. E aliviada por ver alguem familiar. O sorriso de Arthur se desfez e ele ficou na minha frente. — Tudo bem? —  Neguei com a cabeça e ele não hesitou em me abraçar. Chorei mais uma vez, como sempre, é tudo que eu faço, chorar e chorar...
Arthur foi gentil, como sempre,me levou até uma sala reservada e me deu água, esperando eu me acalmar. Segurou minha mão e me perguntou o que ouve. Eu precisava desabafar com alguem e ele sempre foi um grande amigo, talvez mais amigo do que namorado na verdade e não hesitei em contar tudo a ele, mas ocultei a parte que William se casou comigo só porque Isabel me pediu, é vergonhoso demais. Ele ouviu quieto e se compadeceu me abraçando, surpreso com a historia e por minha mãe estar viva.
— É realmente muito complicado, Mai. — Acenti com a cabeça, triste. Já havia parado de chorar, cansada demais até pra isso.
— Eu não sei o que fazer. Não tenho coragem de ir até ela e pedir uma explicação. O que ela vai me dizer, vai acabar com a memoria dela, com as lembranças da mãe amorosa e que me amava.
— Sinceramente, eu acho que já acabou, você já não a vê dessa forma. — Suspiro, percebendo que é verdade. — Então... mesmo que seja ruim, deve ouvir o lado dela da história, seu pai nunca foi o melhor dos homens e acho que ele só faz mal a você, talvez tenha feito mal a ela também. — Concordo com a cabeça.
— Obrigada, eu precisava falar com alguém. — Ele sorri.
— Somos amigos, Mai. E embora tenhamos nos afastado, não deixo de te considerar assim. Não demos certo juntos, mas tenho um grande carinho por você. — Sorri, vendo que estava sendo sincero.
— Eu também. — Um silêncio se formou no espaço e notei ele olhando meu braço, onde havia um pequeno curativo, pelo soro.
— Você está doente? — Pergunta.
— Não... Na verdade, estava discutindo com meu pai e desmaiei, ele me trouxe aqui, mas estou bem, acho que tenho me sentido mal por tudo que está acontecendo.
— Entendo, mas desmaiar nunca é algo bom.
— Eu sei, mas acho que foi só uma queda de pressão, os sintomas batem, enjooo e tonturas.
— O seu médico disse isso? — Nego.
— Nem falei com o médico, mas meu pai disse que eu não tenho nada, só preciso comprar um remédio pra enjôo na farmácia e pronto. — Arthur franze a testa e fica pensativo.
— Qual o nome do médico que te atendeu? 
— Ah... Acho que a enfermeira falou Gustavo.. Não sei ao certo... —  Então o celular dele faz barulho.
— Desculpa Mai, vou ter que ir, uma paciente minha está passando mal.
— Sim, claro, eu já estou indo pra casa.  — Ele me dá um abraço rápido e se vai.
Me sinto mais calma, então saio do hospital, compro o remédio pra enjôo na farmácia do outro lado da rua e pego um taxi, voltando pra casa.
Estou pensativa e melancólica, quero me jogar na cama, me enrolar nas cobertas e ficar assim por um bom tempo, pra ver se consigo digerir tudo que meu pai me falou, pensar no que vou fazer, porque ficar com William pode significar a cadeia pra ele e ele não merece passar por isso  por minha causa.

Migalhas De AmorWhere stories live. Discover now