Capítulo 56

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E então aconteceu! O que eu tanto temia aconteceu, Bela me deixou. E embora nesse momento seja apenas uma porta que separem nos dois, eu sei que é muito mais que isso. Seu olhar de desconfiança direcionado a mim, não engana, eu acho que vou perdê-la. E a simples possibilidade me rompe o coração, eu já não consigo me imaginar sem ela, voltar  a minha antiga vida, que agora parece tão monótona e vazia já não faz nenhum sentido pra mim. Quero continuar casado com ela, voltando toda noite pra casa, dormir abraçado, recebendo beijo de bom dia, eu quero viver tudo isso, de novo, de novo e de novo. Bem se diz, que você não percebe tudo o que tem, até estar prestes a perdê-lo.

— Bela... — Chamo mais uma vez... A voz embargada pelo choro preso em minha garganta! — Abre a porta por favor... — Ela não me responde e só consigo ouvir seu choro abafado pela porta. Maldita porta! Mas não posso abrir, Bela está na frente e se eu empurrar vou acabar machucando ela. — Amor... por favor, vamos conversar? — Não consigo mais ouvir seu choro. Então continuo. — Não desista de nos dois assim, acredita em mim, eu te amo muito. — Seu silêncio me faz respirar fundo pra não chorar. Tenho que ser forte, por ela, por nos dois. Encosto o rosto sobre a madeira, tentando pensar numa solução.

— William é melhor não insistir, deixa ela pensar um pouco e se acalmar.  — Rafael fala e sou obrigado a concordar.

— Sim, meu filho. Talvez ela só precise de um tempo sozinha. — Me afasto da porta. Isabel está chorando sentada no sofá. Eu sei que é injusto e muito egoísta da minha parte, mas estou com raiva dela, raiva por ter vindo na hora errada, por ficar chorando ao invés de explicar tudo de uma vez e por me dizer pra deixar minha Bela sozinha, não quero deixá-la sozinha, quero estar com ela, abraçá-la, protegê-la. Mas como não posso fazer nada disso, me sento no outro sofá, sem lugar pra fugir, eu respiro fechando os olhos, em uma luta contra o choro que está preso em minha garganta.

O dia já está amanhecendo e não a nada além de silêncio, nenhum barulho vindo do quarto, Bela ainda não abriu a porta, pelo contrário a trancou de vez. E aqui na sala, o silêncio parece maior, Isabel dormiu no colo do Rafael e nós ainda não trocamos uma palavra. É como se estivéssemos em um velório e talvez sim, no velório do meu casamento.

A campainha tocou me fazendo abrir os olhos. Encarei Rafael.

— Estranho... — Comento. — Visita a essa hora? Não é nem 6 horas da manhã.
— Talvez seja o pai da Maite. — Rafael falou desconfiado.
— É talvez... Maldito, será que já não foi suficiente o que fez? Juro que vou arrebentar a cara dele. — Me levanto indo até a porta e a abro de uma vez. Me surpreendo por não ser ele e sim...
— Camilla?
— O que você fez com ela? — Disse me empurrando e entrando, logo se virou pra mim num rompante.
— Do que está falando?
— A Bel me ligou chorando desesperada, não entendi direito o que ela disse, mas sei que tem haver com você. Então fala de uma vez, o que fez com ela?

— Nada! Olha é uma longa história...

— Se você traiu ela, eu juro que te mato e arranco seu pênis fora. — Ela aponta o dedo na minha cara e pra baixo. Abro a boca, mas depois disso, nem sei o que dizer. E Rafael começa a rir chamando a atenção dela.

— Barbeiro? O que faz aqui? Veio defender o amiguinho? — Então ela fixa o olhar na Isabel atrás do Rafael.  E me olha confusa.

— Essa mulher não é aa... — Pergunta sussurrando.
— Sim, ela é a Isabel, a mãe da Bela.

— Meu Deus! — Sua expressão é de espanto e leva a mão na boca. —  Então a defunta está viva? — Mas que péssima escolha de palavras.

— Camilla controle essa boca. — Rafa chama sua atenção, mas Camilla nem sequer o olha. A sua atenção esta toda na Isabel.
— E a Bel já sabe disso?
— Sim. — Respondo.
— Por isso ela chorava tanto... Deve ter sido um choque saber que a mãe não morreu...
— Sim, ela se trancou no quarto e não abriu a porta até agora.
— Mas... Como isso? Como ela pode estar viva? Se tinha se afogado num rio.
— Isso é uma mentira, foi o pai da Bela quem inventou tudo isso.
— Tá... — Ela diz parecendo confusa. — Ele mentiu. Mas se a senhora não morreu, então onde esteve todos esses anos? Como pode abandonar a Bel assim? Ela sofreu tanto...

— Eu não abandonei ela... — Camilla ri debochada fazendo Isabel se calar.

—Não é o que tá parecendo. Você não foi comprar pão e demorou a voltar. Você sumiu por vinte anos, vinte longos anos... — Isabel concorda já voltando a chorar. E passo a mão no rosto irritado.

— Eu sei! Mas eu tive os meus motivos e posso explicar tudo a minha filha.

— Eu espero mesmo que possa. E que sejam motivos bem convincentes...
Embora eu ache que.. Nenhum motivo seja suficiente. Que nada justifica abandonar uma criança dessa forma e ainda por cima fingir uma morte que nunca aconteceu... Isso é cruel.

— Não fingi minha morte, Jorge que inventou toda essa mentira, eu jamais faria isso com a minha filha...

— Mas abandonou ela...

— Obrigada por Jorge, ele ameaçou machucar a Isabela se eu não fosse embora. Então não me restou outra alternativa a não ser concordar e ir embora.

— Tenho certeza que haviam outras alternativas sim. Chamasse a polícia, pedisse proteção, fugisse com ela, eu sei lá, qualquer coisa, mas você tinha outras alternativas SIM! — Camilla termina de falar limpando as lágrimas ela estava tão brava, irritada, mas eu nunca imaginei que ela fosse chorar.
— E se escolheu abandonar ela foi por pura  covardia, você não merece ser a mãe dela...

— CALE A BOCA! — Rafael grita indo na frente dela. — Você não é ninguém pra acusar ela dessa forma. — Diz entre dentes. Camilla o encara por longos segundos e dá um passo atrás acenando com a cabeça.

— Eu não sou ninguém? Bem... Talvez eu não seja. Mas eu fui muito mais mãe da Maite, do que ela.  — Aponta pra Isabel. — Eu cuidei dela, fiquei do seu lado nos piores e nos melhores momentos, nos aniversários, nos dias das mães... Eu dormi com ela todas as noites até os doze anos porque ela tinha pesadelos horríveis com o dia que a mãe morreu, morte essa que nunca ocorreu. Então... CALE A BOCA VOCÊ! — Grita dando de dedo na cara dele. — Porque eu tenho todo o direito de gritar, de chorar e de ficar com raiva dela... Porque eu estava aqui sempre, eu sofri junto com ela. Então não venha me dizer que eu não sou ninguém. — Sem deixar de encarar Rafael, ela se afasta, indo até o quarto. Enxuga as lágrimas e respira fundo, antes de bater na porta.

— Bel... Belzinha, sou eu, Cami...  abre por favor? — Em questão de segundos a porta se abriu. Bela se agarrou no pescoço de Camilla assim que a viu, e
me recordo que não é a primeira vez que tive inveja da Camilla. Eu quero estar ali, amparando ela, enxugando suas lágrimas, sussurrando que tudo vai ficar bem. Mas então a porta bate novamente e eu não posso fazer mais nada. Só me resta esperar...

Os minutos parecem intermináveis e ouvir Isabel fazer um resumo de tudo que aconteceu a Candelária não me ajuda a me acalmar. Me levantei mil vezes pra ir até o quarto, mas não me atrevi, não quero interromper elas, Bela tem o direito de desabafar com a amiga, embora eu prefira que seja comigo, quero ser o único a quem ela recorre quando tem problemas, o seu porto seguro...
Então a porta se abre novamente, eu  fico em pé imediatamente, Camilla sai do quarto sozinha e me olha.

— William, ela quer falar com você!

O ar pareceu fugir dos meus pulmões em um misto de alívio e apreensão. E mal senti minhas pernas, enquanto caminhava até a porta, abri de uma vez encontrando a minha Bela sob a cama, os olhos vermelhos se fixaram  em mim, e eu preferia levar um soco ao receber seu olhar cheio de desconfiança.
E por um momento me envergonho! Me envergonho por todas as vezes que tive a chance de contar a verdade e não o fiz, por cada vez que menti e fingi não saber nada sobre seu doloroso passado. Não posso negar que me arrependo de muita coisas, mas não mudaria nada, porque em cada momento que vivemos juntos, me apaixonei um pouco mais por ela. E ela pode me olhar com desconfiança se quiser, mas não vou perdê-lá, essa não é uma opção pra mim.
Devagar fui até ela, me ajoelhei na sua frente, eu me coloquei aos seus pés. E quando uma lágrima escorreu por seu rosto, a trouxe pra mim, onde eu queria que ela estivesse desde o momento que acordou, nos meus braços. Então ela finalmente se fundiu ao meu abraço e  desabou chorando no meu pescoço, me apertando com força.

— Não chore... — Sussurro, não aguento ouvir ela chorar. — Pode me bater se quiser, mas não chore, isso eu não posso suportar. — Imploro. Mas ela não para, não consegue parar e tudo que eu posso fazer é aninha-lá em meus braços até ela se acalmar. Porque quero seu perdão e vou fazê-lá me perdoar... Nunca recuei de um desafio somente porque era difícil e não vai ser agora, que se trata da minha mulher, da que eu quero pra mim, pra minha vida toda, que eu vou recuar.

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