Capítulo 78

3.5K 260 36
                                    

Guilherme completou 1 aninho esse mês e não queria saber de caminhar. Apenas ficava em pé quando conseguia se apoiar em algum objeto.
Numa manhã de sábado, eu o deixei na sala brincando no tapete, enquanto fui no banheiro. William estava na mesa próximo a ele, editando umas fotos no computador, então não me preocupei.  Quando eu voltei ele estava em pé sozinho,  sem se apoiar em nada. Fiquei completamente paralisada. Achei que ele ia cair, mas não consegui fazer nada.

— William. — Susssurei baixinho, mas a minha vontade era gritar pra que ele me  olhasse. Quando finalmente ele ergueu o olhar da tela do notebook, congelou no lugar assim como eu. Gui deu um passo, depois, outro até chegar mais perto do sofá onde, finalmente, caiu sentado. Ele sorriu me olhando, fiquei tão emocionada com a nova conquista do meu pequeno! Ele está crescendo tão rápido, daqui a pouco já vai estar correndo pela casa. 
William e eu largamos o que estávamos fazendo e brincamos com ele pelo resto da tarde, ele voltou a dar alguns passos, mas se apoiando em nós.

Quando era noite, Rafael ligou convidando William pra assistir jogo, ele foi levando o nosso pequeno com ele. Eu fiquei, pois já havia dias que eu estava planejando abrir espaço no armário do Guilherme, muitas roupas já não serviam e eu iria dar para a doação. Fiquei concentrada no que fazia, separando tudo, escolhendo as peças que ficariam, no meio da bagunça, encontro a bolsa que eu usava quando ele era bem pequeno, retiro algumas coisas de dentro, no meio das fraldas um envelope amassado. A carta que meu pai escreveu, a carta que eu nunca li, conversei com Will e disse a ele que não deixaria meu pai voltar para nossas vidas, então a carta foi esquecida, Camilla nunca mais mencionou ou voltou a falar nada sobre meu pai, pedi que não o fizesse, entao eu não voltei a ter notícias dele.
Olhei para o papel em minhas mãos e abri, nesses dois anos, eu mudei muito, não sou mais a menina carente de amor e atenção, que buscava sua aprovação, então nada que ele tenha escrito aqui, vai me  machucar. Desdobrei o papel, reconhecendo sua letra, cheia de personalidade, os riscos colocados de forma acentuada, demonstrando o homem de negócios que ele é.

" Filha... Se é que eu posso te chamar assim, nunca fui um pai pra você, eu não tenho esse direito, eu sei! Mas ainda assim é minha filha, sangue do meu sangue...
Desde que você foi embora, muitas coisas mudaram. Não sei se você sabe, imagino que não. Eu quase fui preso, a maioria dos meus bens foram bloqueados pela justiça. Não vou mentir pra você, eu sou culpado,
cometi muitos erros, tanto na vida, como na administração da minha empresa. Já fui julgado, estou pagando indenização pra todos os meus funcionários e gastei quase todo meu dinheiro para não ser preso.
Suas palavras ecoaram na minha mente no dia que Rebecca e Amanda sairam de casa, me deixando sozinho. Você se lembra? Me disse uma vez, que quando o dinheiro acabasse, Rebecca e Amanda sairiam pela primeira porta, foi isso que aconteceu! No fundo eu sempre soube que seria assim.
Mas por favor filha, não pense que estou escrevendo pra pedir o seu dinheiro, ou qualquer tipo de ajuda. Estou em busca de algo muito maior, o seu perdão. Perdão pelas mentiras, pelos anos de ausência, por ter te separado da sua mãe, e principalmente por ter tentando machucar seu filho.
Isabel foi o grande amor da minha vida, a única mulher que eu amei. Eu sei que não justifica, mas perde-lá, destruiu tudo que eu tinha de bom, era ela tudo que eu tinha de bom. Você é a única coisa boa que restou de mim. E você só é boa por causa dela, eu tenho a alma negra, tudo que eu toco se destrói. Sei que me odeia por ter te afastado de mim quando criança, mas que tipo de pessoa você seria se eu tivesse a educado? Egoísta, mesquinha, fútil e má.
De uma forma errada, eu tentei te proteger de mim mesmo. E funcionou. Olhe pra si mesma, veja a pessoa que é, veja a mulher que se tornou, doce como Isabel, estudiosa, vai ser uma psicóloga incrível, bom tenho certeza que já é.
Tenho muito orgulho de você, é a única coisa boa que deixarei no mundo. Porque eu estou morrendo filha, a alguns meses eu  descobri que tenho câncer, em um estado bem avançado, e eu morreria feliz se me perdoasse. Sei que eu não mereço nada vindo de você, mas o arrependimento é um peso muito grande pra suportar, eu não tenho palavras para explicar o tamanho do meu arrependimento, da minha culpa, se pudesse eu faria tudo de novo, mas já não a tempo pra isso.
Então seja feliz, com sua nova família, que seu filho cresça com saúde e que ele nunca saiba que um dia, o avô dele tentou tirar a chance dele viver. Eu imploro seu perdão, eu me arrependi no exato momento que te deixei no estacionamento do hospital, mas era muito orgulhoso para voltar atrás. 
Seja feliz, não pense em mim, me esqueça, eu não trarei nada de bom a você, nunca trouxe, construa junto com seu marido, a família que você sempre sonhou, ele luta por você, ele não tem medo de brigar em seu nome, é um alivio saber que está protegida, que é amada, que é feliz. Por favor seja feliz, viva com sua mãe, recupere todos os anos que eu roubei de vocês. E sabia que eu te amo, que é a única pessoa em todo o universo que eu amo, a única. Porque é a filha mais maravilhosa que alguém poderia ter. Eu te amo, te amo, te amo.... Te amo...  — Virei a folha, vendo a palavra te amo sendo repetida por uma pagina inteira e no final uma pequena frase " por todas as vezes que eu deveria ter dito te amo e não disse. "

Migalhas De AmorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora