Capítulo 37

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Desde que William saiu eu ainda não consegui parar de chorar, quando ele entrou no quarto e tentou falar comigo, eu não disse nada, pois estava tentando segurar as lágrimas e sabia que se eu falasse qualquer coisa, acabaria chorando. Mas quando ele saiu, eu não consegui e me desmanchei em lágrimas.
Me dói a sua desconfiança e abandono. Embora ele tenha tentado conversar, não se aproximou, não me abraçou e nem ao menos se despediu. E isso dói.
— Minha menina? — Candinha bate na porta. Respiro fundo tentando parar de chorar, eu estou cansada de todos me verem chorar, mas eu não consigo parar. Então ela abre a porta e cubro o rosto tentando fingir que estou dormindo.
— Isabela... — As vezes ela me chama de Isabela, e é estranho, não sei porque.
— Quero dormir Cândi. — Sussurro.
— Mas o almoço já está pronto.
— Eu não to com fome, mais tarde eu como. — Ela puxa a coberta de leve e eu me encolho.
— O que ouve menina? Você está... Chorando? — E então eu não consigo mais segurar o choro. Cândi senta na cama, acariciando meu cabelo.
— Você quer me contar o que ouve? — Tento enxugar as lágrimas.
— O Arthur ligou me convidando pra trabalhar com ele, dai o William brigou comigo por isso. E  foi embora sem se despedir de mim.
— Embora? Vão se separar. — Me sento na cama assustada e nego.
— Ele foi pra Nova York, resolver um problema do trabalho.... mas ele me disse que... ia voltar, ele vai voltar né?
— Claro minha filha, se ele falou que vai voltar, é porque ele vai. — Concordo com a cabeça e volto a deitar.
— Tenha paciência, homens são muito ciumentos menina.
— Sim, mas não gostei dele duvidar de mim e insinuar que eu o trairia.
— Com certeza estava nervoso, e falou sem pensar. Espere ele voltar e então  conversem com calma, certo.
— Ta bom.
— Mas não comer, não vai mudar nada, vou te trazer um prato. — Diz saindo do quarto.

Já passa das 7 horas da noite, mais uma vez eu faltei o curso de inglês, não tinha cabeça pra ir. Tomo um banho longo e deixo meu cabelo molhado e visto uma camisola. Então me deito, escolho um filme na TV, tentando me distrair. Essa sensação de saber que ele não vai voltar hoje, é horrível, as horas parecem não passar.
— Onde está a Margarida? — Camilla entra no quarto falando alto, estranho ela ter vindo sem avisar, desligo a TV.
Me sento sobre a cama e Camilla vem até mim.
— Como você está? — Ela me abraça e eu respiro forte pra não voltar a chorar.
— Não muito bem e você? — A solto e ela aperta o olhar pra mim.
— Antes de mais nada, eu trouxe vinho e nos vamos beber hoje. — Olho para a garrafa sem vontade. E logo Candinha surge com duas taças e me entrega, saindo rapidamente.
— Porque está aqui? — Pergunto vendo ela abrir a garrafa com certa dificuldade e encher as duas taças.
— Candinha me ligou, disse que você brigou com o gostosão do seu marido e estava triste, precisando de uma amiga. Então aqui estou. O que ouve? Beba. — Observo ela tomar um longo gole e olho pra minha taça, levando ela até a boca, bebendo um gole, é um pouco amargo e ao mesmo tempo doce, é bom.
— Nós brigamos. — Dou de ombros. E me ajeito na cama dando lugar a ela pra sentar encostada na cabeceira.
— E onde ele está agora?
— Foi pra Nova York.
— O que? Ele se mandou por causa de uma simples briga? Covarde.
— Não... William já havia comentado sobre a viajem antes da briga, ele não tinha como adiar.
— Ah... Entendi, mas  o que aconteceu de fato?
— Nos estávamos bem, até o Arthur ligar
hoje de manhã. — Bufo, estou com raiva dele, não tinha nada que me ligar.
— Oh My good. Ele ainda te quer Bel? Já  imagino os dois brigando na rua por você. — A olho indignada.
— Claro que não. Arhtur me ligou apenas por causa de um projeto que ele está desenvolvendo, pra ajudar as crianças com leucemia.
— Ahn... E o que você tem haver com isso?
— Era... um projeto nosso, combinamos enquanto ainda éramos namorado. Eu sou psicóloga, falaria com as crianças e com pais delas e bom, ele como médico cuidaria do quadro clínico.
— Entendi... E o que você disse?
— Eu falei que não podia, e ele insistiu então falei que iria pensar, e desliguei. Mas a essa altura, o William já estava muito zangado. E quando eu falei do que se tratava, disse que não permitiria que eu fosse trabalhar com ele, porque não queria levar chifres.
— Bom, nesse quesito, eu concordo com o William. — A olho espantada. — Não que você fosse trair ele, mas é melhor manter a tentação longe né amiga.
— Eu nunca trairia ele, nem mesmo que existisse mil tentações na minha frente.
— Ta bom, madre Tereza. — Reviro os olhos pra ela. — Agora continua.
— Bom, no momento eu lembrei do que você disse sobre não deixar ele montar em cima de mim e disse que ele não era meu Dono.
— Oh My good. — Ela bebe outro longo gole de vinho. — E o que ele disse? — Lembro o que foi e fico envergonhada. Camilla ergue a sombrancelha e sorri como se soubesse que foi algo safado.
— O que foi Bel? Anda me falaaaaaa, por favorrrr, Beeeeeel.
— Aiii Camilla, ele disse que não era isso que eu falava, quando gemia dizendo que era dele. — Falo tudo de uma vez.  Ela abre a boca, ficando pasma e em seguida RI.
— Primeiro o sexo na mesa e agora isso, quem te viu, quem te vê Bel. — Nego com a cabeça e me atrevo a beber outro gole do vinho, isso está me deixando melancólica.
— Me dói que ele tenha desconfiado de mim, eu jamais o trairia, em nenhuma circunstância. — Digo triste.
— Bel, não olhe por esse lado, talvez ele não confie é no Arthur e nem deveria mesmo, se ele não quisesse algo a mais não te ligaria.
— Eu sei.
— Então porque está brigando com seu marido por causa dele burrinha?
— Eu não sei, não sei porque deixei ele pensar que eu queria mesmo trabalhar com Arthur, talvez eu queria exercer o meu direito de decidir a minha vida.
— Bel, você não quer mesmo trabalhar com ele não é?
— É um projeto bonito e tivemos a ideia juntos e não nego que gostaria de participar, mas se isso significa eu me afastar do William, então está fora de cogitação, completamente fora.
— Eu pensei que você gostaria de ser independente financeiramente. — Dou de ombros.
— É... — Digo pensativa. — As pessoas dizem que pra ser feliz é necessário se realizar profissionalmente, mas nunca foi o meu maior desejo, eu só queria trabalhar e ter o suficiente para viver bem. Eu não quero ser uma mulher realizada no trabalho, se eu não estiver realizada no meu casamento. Eu estou colocando William na frente de tudo,  sei disso. E não me importo.
— Porque não se importa? — Inclino a cabeça olhando-a.
— Porque ele merece, William se portou comigo de um jeito, que ninguém jamais fez. Ele cuidou de mim desde o primeiro instante e tem feito isso até agora. Então ele merece estar na frente, de qualquer outra coisa.
— Uau. — Camilla bebe o ultimo gole e pega a garrafa enchendo a sua taça e também a minha que está pela metade.
— Eu não imaginava que seria assim sabe...
— Assim o que?
— Ter alguem, dessa forma. — Ela me olha de lado, franzindo a testa, mas está sorrindo. — Você já está bêbada? Bom... Mas continua...
— Alguém pra dividir a vida, a cama, o espaço. Isso é único. Saber que no final do dia vai terminar nos braços daquela pessoa, dormindo abraçados é um sentimento único. As vezes eu deito no peito dele e penso que eu não poderia ser mais feliz. — Sorrio lembrando dele e quando olho Camilla vejo seus olhos cheios de lágrimas.
— O que?
— Sabe que eu sempre quis que você fosse muito feliz não sabe? É muito gratificante ouvir isso. Me faz pensar que Deus existe e está escolhendo as pessoas certas para serem felizes. — Quando ela termina sou eu que estou em lágrimas e a abraço.
— Eu amo você. — Sussuro e ela diz o mesmo. Então me solta e pega a garrafa enchendo a taça novamente. Sorrio vendo ela e me escosto na cama, fechando os olhos, por um instante consigo sentir os braços do William ao meu redor...  Suspiro fundo.
— O que ouve? Porque tantos suspiros.
— Eu sinto falta dele e queria que ele estivesse aqui e não você. — Camilla  empurra meu ombro. E rio quase de rubando o vinho na coberta. — Sinto muito, mas é a verdade, quero estar com ele o tempo todo e tudo fica sem graça quando ele não está . — Dou outro suspiro, bebendo o resto do meu vinho.
— Uau, nunca te ouvi falar assim de ninguém.
— É que eu nunca havia estado com alguém como William, ele me provoca sensações que eu nunca havia sentido e nunca imaginei sentir. E eu não estou falando apenas de sexo, é mais do que isso, ele mexe com o mais profundo do meu ser. — Respiro fundo, nesse exato instante, sinto meu coração acelerar só de lembrar dele. — Ah... Eu queria ter um passaporte e ir pra Nova York atrás dele, me jogar em seus braços e dizer que...
— Que?
— Que... Eu definitivamente o amo muito. — Olho pra Camilla que me está olhando surpresa. — Ah... Como é bom admitir isso... — E então ela sorri. — Me sinto leve...
— Quer se sentir mais leve ainda? Pega o telefone, liga pro Arthur e diz que não pode participar do projeto. — Pego o telefone ligando para o ultimo numero que ligou e com muita firmeza e sem rodeios, digo pra Arthur procurar uma outra psicóloga, pois eu vou morar em Nova York com meu marido. E sem mais delongas, lhe dou tchau e boa sorte. E me atiro na cama ao lado de Camilla, desejando que esses dias passem muito rápido e logo seja William que esteja comigo nessa cama.

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