Capítulo 27

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— Clara, pode vir a minha sala por favor. — Disse assim que cheguei a agência.
— Sim, só um instante. — Entrei na sala e fui surpreendido por Rafael já estar lá dentro, mechendo em meu computador.
— Que ta fazendo? — Ele me olha.
— Preciso dos contratos com as modelos da campanha com o Rodrigo. Não as encontrei no meu computador, acho que esqueci de salvar. E bem, eu pensei que não viria hoje, ou se atrazaria como sempre. — Debocha e volta sua atenção ao computador.
— Bem, como vê eu estou aqui. E não me atraso sempre, só aconteceu duas vezes. — Ele ergueu a mão mostrando três dedos. — Bom, que seja, três vezes então.
— Sim, mas isso em menos de duas semanas. E com seu histórico de nunca atrasar ou faltar no trabalho, eu estou começando a ficar preocupado com você. — Diz rindo. A porta se abre e Clara entra.
— O que deseja senhor?
— Ah... Sim Clara. Minha mulher quer fazer um curso de inglês. Você poderia ligar pra esse número e matricular ela? Desconte o valor da minha conta pessoal. — Entrego o papel pra ela.
— Claro, vou fazer isso agora mesmo.
— Certo, o curso que ela quer tem a duração de um mês e que seja no período da tarde.
— Ta bem, mas precisarei dos dados dela para a matrícula.
— Bem, então ligue pra ela. No numero lá de casa.
— Ta bem, é só isso?
— Sim. — Ela vai saindo. — Espere... faça isso mais tarde. Ela está dormindo agora.
— Certo. — Então ela sai. E Rafael está com os braços cruzados me olhando.
— Você vai demorar muito ai? — Aponto pro computador. — Eu quero trabalhar.
— É... Agora você faz favores pra ela também? — Franzo a testa. — Não finja que não sabe, estou falando da Maite. — Suspiro.
— É apenas uma matrícula.
— Sei... É... Faça mais tarde, ela está dormindo agora. — Ele me imita. — Sabe até que horas ela dorme? E o pior não é isso, pior é você se preocupar em não acorda-lá kkkkkk.
— Cai fora daqui Rafael. — Vou até minha cadeira e faço ele levantar.
— Eu ainda não peguei o contratos.
— Te envio por e-mail, agora me deixa trabalhar em paz, sem suas piadinhas idiotas.
— Ele sai rindo e fecha a porta, suspiro zangado. O que ele tem haver com isso? Nada. É apenas uma porcaria de uma matrícula.
Balanço a cabeça e me sento,começando a trabalhar. O dia passa rápido, em meio a tanto trabalho, quase não tive tempo de nem sequer almoçar. Mas a tarde fui surpreendido com uma ligação.
— Mãe! Como a senhora está?
— Bem meu filho, se eu não te ligar, você nem lembra de mim não é? — Sorrio.
— Sempre tão dramática Dona Lúcia. Eu te liguei semana passada.
— Sim, mas já faz uma semana. Como você está meu filho?
— Estou muito bem, cheio de trabalho.
— Você tem comido direito?
— Sim. — Lembro de Bela e sua preocupação se estou com fome sempre que chego em casa. — Nisso você e Bela combinam.
— Nisso o que? E quem é Bela? — Me ajeito na cadeira. Porque sempre acabo relevando esse apelido? Ainda mais pra minha mãe, que nunca concordou com esse casamento. — Bela é um apelido da Maite.
— Ah... — Ela não vai falar nada, minha mãe nunca foi de demostrar quando está aborrecida com algo. — Bem, e em que nós duas concordamos?
— Ela também se preocupa se eu comi direito.
— Ah. — Dessa vez seu "ah" teve o tom de surpresa.
— Mas a senhora, está no Brasil ou Nova York? Semana passa me disse que viria.
— Estou no Brasil, seu pai vai acabar com a sociedade que fez com o pai da... Maite. — Lembro que essa foi a desculpa usada para eu ter um motivo e me casar com Maite.
— Porque ele vai terminar?
— Sabemos que o pai dessa menina nunca foi correto e seu pai não quer se meter em problemas. E como você já se casou com ela afinal, não tem motivos para continuarmos.
— Entendo. — Penso em como Maite vai reagir a isto. Ela se casou porque o pai queria estreitar os laços das nossas famílias, por causa dessa sociedade e agora essa sociedade acaba.
— E então filho? O que me diz?
— Sobre o que?... Me desculpe mãe, eu estava distraido.
— Sobre jantarmos juntos hoje.
— Sim, claro.
— Ótimo, eu vou escolher um restaurante e te ligo passando o endereço.
— Ou podemos fazer o jantar lá em casa, é mais reservado.
— Mas... Estava pensando em jantar, apenas eu você e seu pai. — Suspiro.
— Mãe, agora Maite é a minha esposa.  Não posso sair pra jantar e não levar ela junto.
— William, sabemos que esse casamento não é de verdade.
— É de verdade pra ela. E mesmo depois que o nosso casamento acabar, ela vai continuar sendo da família, ela é a filha da tia Isabel, é bom começar a aceita-lá.
— Eu não consigo confiar nessa menina, sabendo que ela é filha daquele crápula que tanto fez mal a sua tia.
— Maite é completamente diferente do pai, quando a conhecer melhor, vai perceber isso mãe. E tenho certeza que vocês ainda serão grandes amigas. — Ouço ela suspirar do outro lado da linha.
— Tudo bem William, só não quero que você saia machucado dessa história toda.
— Eu estou bem mãe. Não se preocupe comigo, nada vai me acontecer.
— Eu te amo filho. — Agora ela está sentimental.
— Eu também te amo mãe, muito. Não se preocupe com isso, tudo está bem.
— Hurum. Então o jantar será no seu apartamento?
— Sim, é melhor assim. Ando muito cansado com tanto trabalho, prefiro estar em casa.
— Tudo bem, até a noite então.
— Até, tchau mãe. — Desligo.

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