West Sayan

By AlineCarneiro824

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Esta é uma história que se passa num lugar distante e numa época passada quando um cowboy decidiu ir atrás de... More

Prólogo: Bem vindo a West Sayan
Capítulo 1 - O Filho do Céu
Capítulo 2 - Nuvem Dourada
Capítulo 3 - Aves de Rapina
Capítulo 4 - As promessas ao Vovô Gohan
Capítulo 5 - A Garota que derramou o leite
Capítulo 6 - Saloon
Capítulo 7 - O novo emprego de Goku
Capítulo 8 - Para fazer Chichi sorrir
Capítulo 9 - Viajando para Nova Sadala
Capítulo 10 - O Príncipe
Capítulo 11 - O conto dos dois irmãos
Capítulo 12 - Indo embora de Nova Sadala
Capítulo 13 - o Assalto
Capítulo 14 - Heróis de West Sayan
Capítulo 15 - Noite sem luar
Capítulo 16 - O construtor de casas
Capítulo 17 - Bardock e Gine
Capítulo 18 - Frente a Frente
Capítulo 19 - Três cruzes à beira da estrada
Capítulo 21 - A face do meu pai
Capítulo 21 - Nós somos o bando
Capítulo 22- O verão em que Freeza sumiu
Capítulo 23 - Amor é liberdade
Capítulo 24 - O destino não brinca!
Capítulo 25 - Rivalidade
Capítulo 26 - Mulheres de West Sayan
Capítulo 27 - Olhar nos olhos da morte
Capítulo 28 - Como nasce uma lenda
Capítulo 29 - Taioken, luz do meu sol
Capítulo 30 - Vento de Tempestade
Capítulo 31 - O que os olhos vêem
Capítulo 33 - Sobre pais e seus filhos
Capítulo 34 - Quando sopra o Vento Norte
Capítulo 35 - Serpentes na Campina
Capítulo 36 - O pico da Cadeia do Norte
Capítulo 37 - Mundos em confronto
Capítulo 38 - O bem e o mal
Capítulo 39 - Chamas e vingança
Capítulo 40 - Os Campos Infinitos dos Ancestrais
Capítulo 41 - No poço do desejo profundo
Capítulo 42 - A floresta e o Convento
Capítulo 43 - Aonde não se quer ir jamais
Capítulo 44 - A última esfera
Capítulo 45 - West Sayan corre perigo!
Capítulo 46 - Truques de pistoleiro
Capítulo 47 - O fim e o princípio
Capítulo 48 - Em tempos de paz
Capítulo 49 - Até um dia, West Sayan!
Capítulo 50 - Onde residem os bons corações...

Capítulo 32 - Perdoa-me!

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By AlineCarneiro824

"Cotovias não fazem muita coisa, mas fazem música para nós curtirmos. Eles não comem os jardins das pessoas, não se aninham nos milharais, eles não fazem nada demais, mas cantam de coração para nós. É por isso que é pecado matar uma cotovia."

(Harper Lee – O sol é para todos)

"Frio. Muito frio..."

"Meu peito dói. Eu deveria estar morto. Estou morto?"

"Ele matou minha Nuvem. Ele me matou?"

"Por que não estou morto?"

Os olhos de Goku deram-se conta, de repente, de que ele, caído de barriga para cima no chão gelado do deserto, mirava o céu noturno escuro e estrelado. Portanto, ele estava vivo, mesmo que sentisse uma dor forte do lado do peito e sentisse umidade em sua camisa, confirmando que levara um tiro. Hesitante, ele elevou a mão esquerda e levou ao peito. Sua mão esbarrou em algo duro como uma pedra, que rolou pelo seu peito quando ele a tocou. Com a outra mão ele tateou e segurou. Era a bala que o havia atingido.

Ele sentou-se perplexo, com as mãos apalpando o peito novamente. Sentiu a umidade do sangue, mas então, se deu conta que não fora ferido gravemente. Ele olhou para frente e viu a fogueira que Freeza deixara acesa e que, alimentada apenas por poucos galhos secos, estava prestes a se apagar. Ele experimentou levantar-se e andou até a fogueira, juntando mais galhos secos espinhentos que feriram suas mãos em diversos pontos. Jogou os gravetos na fogueira e a noite se iluminou de vermelho.

Ele tornou a examinar o próprio peito. Havia um ponto bem doloroso exatamente sobre o coração, mas quando ele o tocou, a compreensão o atingiu repentinamente. Ele ainda tinha a bala segura na mão direita, e sentiu algo achatado e duro, que estivera ali o dia todo. A sua camisa tinha puído ligeiramente onde a bala o atingira, e abaixo dela, ainda presa em seu bolso, estava uma moeda.

A larga moeda de um dólar em prata que Gohan havia entregue ao pai pela manhã, alegando que não tinha bolsos para carregá-la. Ela agora tinha uma grande mossa no seu centro, e um pequeno furo, e ao amortecer o impacto da bala, o dólar o havia salvo da morte certa, embora a pancada do tiro tivesse sido dolorosa. Ele segurou a moeda diante dos olhos, iluminada pela fogueira, e lágrimas involuntárias vieram aos seus olhos.

O destino. Aquele destino no qual o índio Tenshin acreditava tanto havia acabado de se apresentar diante dele, na forma da pequena moeda entregue pelo seu filho e que havia salvo a sua vida. A dor que sentia do impacto era normal, a pressão da moeda ao segurar a bala havia feito um enorme hematoma e tirado um pouco de sangue do seu peito. Mas ele sobrevivera.

Goku ficou de pé e seus olhos miraram novamente o céu noturno. A fogueira também iluminava a grande silhueta da sua égua, caída de lado, irremediavelmente morta, com um tiro na sua linda e delicada cabeça. Goku se aproximou do animal morto e então, literalmente desabou sobre o corpo, chorando convulsivamente, sentindo um misto de dor, tristeza e, principalmente, culpa.

As empacadas da égua e sua hesitação ao longo da estrada não paravam de assombrá-lo. As palavras de Tenshin, para tomar cuidado com o que os olhos viam, também. Estava pagando o preço de um erro, um erro enorme e que o assombraria para sempre. Havia sido arrogante e tolo, confundira Freeza com todos aqueles bandoleiros de beira de estrada que ele combatera, sempre com sucesso. Ele nunca havia errado um tiro... mas daquela vez, ele errara miseravelmente sem sequer ter tido tempo de atirar.

Abraçado ao pescoço da égua, Goku repetia a mesma coisa, incessantemente, mesmo sabendo que Nuvem jamais o responderia, porque, afinal, estava morta e não poderia responder:

- Perdoa-me, minha nuvem... Perdoa-me.

Ele não conseguia parar de chorar, pela égua, pelo seu erro, por ter sobrevivido, enquanto ela, um ser inocente e sem culpa havia sido abatida sem dó. E, pela primeira vez na vida, Goku chorava por se sentir completamente perdido. Não sabia o que fazer agora. Estava no meio de um deserto onde ninguém passava, no meio de uma madrugada fria que seria seguida por um dia escaldante, sem nenhuma provisão de água, sem montaria e a pelo menos seis horas de caminhada, com sorte, de qualquer ponto civilizado.

Ele havia sobrevivido ao tiro, mas nada garantia que sobreviveria ao deserto. Mais adiante, a fogueira que Freeza acendera continuava, lentamente, a apagar-se. E quando ela apagasse de vez, ele ficaria completamente indefeso contra o vento gelado do deserto.

Goku ergueu a cabeça e olhou para a fogueira se apagando. Precisava tomar uma decisão: continuar obstinadamente atrás de Freeza, sem montaria, sem água e ferido, ou voltar e tentar descobrir uma maneira de derrotá-lo, preferencialmente antes que ele tornasse a reunir um bando. Goku jogou mais um espinheiro na fogueira e a luz dourada do fogo lembrou a tênue luminosidade que ele percebia na esfera mágica. E então, ele se lembrou da fala de Tenshin "as esferas podem reviver quem precisar ser revivido..."

Se ele podia ter de volta várias vidas com um único desejo... era possível reviver não apenas Radditz, mas o senhor Kame e sua preciosa égua. Ele encarou o fogo e disse:

- Minha Nuvem foi meu terceiro erro. Mas foi o último.

Olhou para a armadilha de Freeza que o enganara: ele cobrira com o cobertor um amontoado de pequenos cactos, simulando a forma de um corpo. Goku sentiu-se idiota e com raiva. E prometeu que Freeza pagaria por sua maldade. Ele jogou mais arbustos na fogueira. Passaria a noite ali, acordado, e nas primeiras horas do dia voltaria para West Sayan a pé. Com sorte, chegaria ao último lugar onde parara antes de morrer de sede e calor.

Mas se chegasse ao seu destino, prepararia uma bela vingança.

***

Mais cedo, naquela noite, Vegeta e Bulma conversavam após jantarem juntos. A mãe de Bulma todas as noites entregava a ela seu jantar, uma vez que ela trabalhava o dia todo na loja e não tinha tempo de cozinhar. Quando disse a mãe que naquela noite teria um convidado, a mulher caprichou num assado de coelho que foi devidamente devorado por Vegeta, que tinha um apetite comparável, talvez, apenas ao de Goku. Quando acabou de comer, chupando os ossos do coelho, ele perguntou a Bulma:

- O que são as tais esferas e por que Kakarotto tem tanta fé que elas funcionem?

Bulma deu um suspiro e disse:

- Eu não sei como ele conseguiu aquele mapa, mas a fortuna da minha família foi conseguida com aquelas esferas. O mapa nos pertencia, porque foi desenhado pelo meu bisavô. Ele ouviu a história do presente da serpente alada de um índio Namek, que é um povo mais antigo até que os índios das tribos que vemos por aí e acreditou nela, eles se ajudaram mutuamente a encontrar as esferas pela primeira vez: o índio queria reviver um filho morto e acabar com a grande fome na sua aldeia, e meu bisavô, bem, ele queria ficar rico.

- E conseguiu?

- Sim. Minha família foi bem rica até a época da guerra. Meu bisavô havia desenhado o mapa após achar as esferas: ele registrou onde as havia encontrado, e calculou onde elas cairiam com base nas orientações do Namek: a primeira sempre cai no mesmo lugar, um lago sagrado para eles. As demais se distribuem num círculo em torno delas, cada uma num lugar sagrado. Meu avô também usou o mapa, e o entregou ao seu filho mais velho quando ele foi à guerra, o que foi uma estupidez. Meu tio morreu na guerra e o mapa se perdeu.

- E Kakarotto o achou?

- De alguma forma, meu tio deve tê-lo entregue ao pai dele, os dois estiveram na guerra, pelo que eu soube. E se agora ele quer usá-las para reviver o irmão, como você me disse, eu acho justo. Mas acho que ele poderia me dar um dos três desejos, afinal, o mapa é mais ou menos meu. Sou a única herdeira dos Briefs.

- Ele me disse que me daria um em troca de ajuda. Não sei como posso ajudar, mas se isso for mesmo verdade...

Ele calou-se. Bulma levantou os olhos para ele e perguntou:

- Se isso for mesmo verdade...?

Ele ficou quieto um tempo e então disse:

- Eu vou pedir que cure meu ombro para que eu não perca minha melhor habilidade.

Ela o encarou e sorriu:

- Parece algo bom, Vegeta. Eu achei que pediria outra coisa.

- Outra coisa?

- Sim.,. um milhão de dólares, mulheres, algo assim.

Ele riu e disse:

- Bem, um milhão de dólares cairia bem... mas eu só quero me sentir inteiro de novo. Em outros tempos eu talvez pedisse algo como, sei lá, vida eterna.

- Vida eterna?

- Sim, vida eterna. Deve ser bom, não?

- Não morrer?

- Isso.

- Na verdade – disse Bulma – isso parece um saco. Imagina, todos os seus amigos, as pessoas que você ama, todos morrem. E você vai ficando.

- Dê vida eterna a todos eles...

- Sim, ficarão todos entediados juntos... – ela riu e Vegeta não pôde deixar de rir junto. De repente ela disse – Eu não queria ter te entregado.

Ele balançou a cabeça, ainda rindo e disse:

- Eu não ia te roubar. – ele a encarou com um olhar intenso e disse – fiquei encantado por você.

Ela levantou-se subitamente e disse, enquanto recolhia a louça:

- Eu acho que também fiquei encantada por você... mas foi há muito tempo. Acho melhor esquecermos isso. Seu quarto é o segundo no corredor. Boa noite.

Ela levou a louça para a cozinha e ele ficou um instante na sala perguntando-se o que havia significado aquilo antes de ir para o seu quarto.

***

Chichi pulou da cama num salto e desceu até a sala. O relógio carrilhão, presente de casamento do seu pai, marcava quase uma hora da manhã. Não havia sinal de Goku e ela tomou uma decisão: subiu até seu quarto e pôs uma banqueta próxima ao armário, abrindo uma porta alta que só com o banquinho ela alcançava. Tirou de lá algo que Goku dera a ela há muito tempo, quando ainda passava dias e noites fora de casa: um revólver.

Chichi aprendera a atirar com Goku, e atirava muito bem. Ele havia ensinado a ela nos primeiros meses de casamento, preocupado porque ela ficava sozinha em casa quando ele viajava, mas ela jamais precisara por em pratica aquela habilidade. Mas aquele momento de desespero a fez pegar o revolver, que ela passara a esconder por causa do filho. Ela sentia-se obrigada a fazer alguma coisa e, pondo um vestido sobre a camisola, pegou o cinto com a arma e pôs na cintura, ainda sem saber muito bem o que ia fazer.

Desceu e foi até a porta, abriu-a. Havia parado de chover e a cidade estava quieta. O Saloon não tinha mais movimento e até o bordel já estava em silêncio. Saiu pela porta e então parou, reflexiva.

Não podia deixar Gohan dormindo sozinho. Não tinha um cavalo ou o que equivalesse. Não adiantava ir até a delegacia, Kuririn estaria dormindo àquela hora. Por que estava armada, vestida, pronta para fazer sabia-se lá o quê àquela hora da madrugada?

Por Goku. O seu Goku. Ela sentira que ele estava em perigo, ela precisava fazer alguma coisa. Ela queria fazer alguma coisa, mesmo que tresloucada. De repente, porém, uma voz a tirou do devaneio.

- Senhora Chichi...

Ela sacou o revolver rapidamente e só então olhou para frente e viu Tenshin parado adiante, mãos para cima, encarando-a calmamente.

Ela guardou o revólver com um suspiro e disse:

- Você me assustou, Tenshin... eu estou preocupada com Goku.

- Por isso Tenshin veio, senhora. Para dizer que espere.

- Você sabe onde ele está, Tenshin? Ele está bem?

O índio a encarou, sério e disse:

- Ele vai precisar da senhora quando voltar. Mais do que a senhora pode imaginar. Ele perdeu muito no deserto. Perdeu parte do próprio coração.

Ela o encarou novamente e disse:

- Sempre tive medo de você, Tenshin. Mas sei que você só faz o bem para minha família... então vou esperar, como você diz.

Ele fez um breve aceno de cabeça e desapareceu. Chichi entrou em casa e guardou o revólver, intrigada. Voltou para a cama, mas não conseguiu dormir. Em algum lugar, no meio do deserto que ela tanto temia, Goku estava sofrendo, e por isso ela também sofria.

***

Estava longe ainda de amanhecer quando ele começou a sua caminhada, sabendo que precisava voltar se quisesse, um dia, se vingar de Freeza. A primeira providência era retornar à segurança da estrada. Por sorte, o deserto era tão seco que não tinha sequer coiotes. Ele foi até a égua caída e se despediu do corpo inerte, pegando apenas o bornal da sela. Não tinha faca nem canivete, o que ele lamentou. Isso tirava dele a chance de cortar um cacto barrigudo e espremer sua suculenta polpa para beber água.

Precisava caminhar o máximo possível nas primeiras horas da manhã, antes que o sol o castigasse demais. Sabia do risco de uma insolação, mas sabia também que se tirasse a camisa desidrataria tão rápido que iria desmaiar antes mesmo de atingir a metade do caminho que tinha a vencer.

Quando chegou à estrada, o sol começava a aparecer ao longe, iluminando o planalto Namek com seus raios avermelhados e sedutores. Goku parou um instante e pensou que era um dia bonito demais para morrer no deserto. Mas sabia que tinha de caminhar por dez horas se quisesse sair daquele deserto.

Pensando no destino que pusera um dólar de prata no seu bolso, apostando nele, decidiu caminhar e desafiar o sol e, quem sabe, a morte certa.

***

Yamcha levantara-se pela manhã um pouco mal humorado. Às vezes era aborrecido ter um negócio como o dele. As pessoas o detestavam, as garotas reclamavam o tempo todo, Lunch o acusava de trapaceiro o tempo todo porque ele abrira um bordel bem do lado do saloon... bem, ele precisava sobreviver, não? Já havia sido um bom acordo ele parar de servir bebidas aos clientes e cuidar apenas da logística dos seus quartos. As garotas ficavam apenas por ali, esperando os bêbados que saiam do saloon.

Mas tinha a parte boa: ele nunca estava entediado, tinha sempre uma garota disposta a passar a noite com ele, algumas eram até ótimas ouvintes quando ele resolvia reclamar do seu finado casamento. Pena que aquela noite, especificamente, todas tivessem acabado ocupadas e ele tivesse precisado dormir sozinho. Eram ossos do ofício.

Pual já estava preparando um café para eles quando alguém bateu à porta. Era tão cedo, ele normalmente tomaria café e tornaria a se deitar até meio-dia, mas as batidas insistentes o fizeram arrastar os pés até a porta dos fundos, onde o índio Tenshin estava parado, com cara de poucos amigos.

- Hum. Oi. A Lunch precisa de alguma coisa? – perguntou Yamcha, que percebera a aproximação dos dois.

- Não. Tem um bom cavalo, você. – não era uma pergunta. Mas Yamcha encarou como se fosse.

- Tenho. Quase tão bom quanto aquela égua do Goku...

- Ótimo. Vem com Tenshin.

- Hã? – ele perguntou, ainda meio perdido.

- Vem com Tenshin – respondeu o outro. – bota roupa boa de montar. Pega cantil de água.

- Tenshin, ir para onde? Você ficou maluco.

- Tenshin precisa de amigo de Goku. Ou Goku vai morrer.

- Goku vai morrer?

- Haug. – disse Tenshin – no deserto. Vem com Tenshin.

Ele aprendera a levar Tenshin a sério depois que, do nada, o índio o avisara para tomar cuidado com os cabelos azuis que não pertenciam à sua esposa... conselho que ele não seguira nem um pouco com consequências trágicas.

- Mas... o que aconteceu? Tem a ver com a morte do velho Kame?

- Tem e não tem. Pare de perguntar, pergunte cavalgando – disse Tenshin, impaciente. – deserto grande, mas Goku na estrada. Vamos.

Sabendo que se não fosse por bem ia acabar arrastado pelo índio, Yamcha avisou a Pual que iria demorar e saiu.

***

Ele estava suando, e era um bom sinal. Seu avô ensinara que o perigo era sempre quando se parava de suar porque o corpo começava a se superaquecer e dali para um desmaio era questão de minutos.

Ele caminhava num ritmo moderado, para que nem chegasse muito rápido à exaustão e nem acabasse tragado pelo desânimo, o que era bem difícil: as distâncias eram enganadoras no deserto. Parecia que as montanhas da cadeira FryPan não haviam se movido nem um milímetro para perto desde o nascer do sol.

Uma gota gorda de suor entrou em seu olho, de repente, fazendo arder como brasa, e ele levou o dedo empoeirado até os cílios, piorando mais ainda a situação. Ele sacudiu a cabeça com os olhos fechados e sentiu-se tonto. Não podia parar ou acabaria caindo. Tornou a caminhar, xingando mentalmente o sol e tirou o chapéu por um instante para abanar o rosto.

Era como soprar brasas na pele, no entanto. Ele seguia caminhando, pensando em coisas boas, tentando não desanimar, quando viu a nuvenzinha poeirenta bem longe. Ouvia o tropel como se estivesse mais perto, e aquilo o deu a súbita consciência de como denunciara a si mesmo cavalgando em direção a Freeza.

Continuou seguindo. A princípio pensou que os cavalos iam em direção a Tullace, e sua mente embotada disse a si mesmo: "Peça água. Isso vai ajudar a chegar até a velha mina... dali será mais fácil..."

Ele continuava pondo um pé à frente do outro, tropegamente. Sentia o sol bem acima da sua cabeça, torrando seu cérebro dentro do chapéu. Era perto do meio dia e seus olhos miravam os cavaleiros se aproximando quando de repente ele os reconheceu e seu coração disparou. Tenshin no seu cavalo malhado. Yamcha em sua égua castanha.

Ele finalmente se deu o luxo de parar, e, talvez por isso, suas forças acabaram lhe faltando e ele caiu de joelhos e, então, de bruços na terra árida.

***

Voltou a si com a água fresca jogada sobre o rosto. Viu o sorriso branco de Yamcha que disse:

- Abre essa boca e bebe um golinho de água, amigo. Não muito. Não quero você vomite no lombo da minha égua quando estivermos voltando.

Goku tentou rir, mas sua garganta estava seca demais para isso. Quando a água que Yamcha o ofereceu tocou os seus lábios rachados eles arderam e ele finalmente riu. Se estava doendo daquele jeito é porque havia vida em seu corpo e ele ia sobreviver.

Não estava muito consciente na viagem de volta, soube depois que Yamcha o carregou de alguma forma até West Sayan. Sua recordação seguinte foi a de despertar na penumbra, sentindo o ar fresco sobre seu corpo, agora nu, dentro da banheira de água gelada. Bateu as mãos na água para ver se era real e só então viu Chichi, parada ajoelhada ao seu lado, sustentando sua cabeça para que não caísse na água. Novamente ele abriu a boca, mas não saiu nada. Os olhos dele encontraram os dela, e ela disse, suavemente:

- Yamcha e Tenshin te trouxeram do deserto. Você estava quase morto... eles o salvaram, dando pequenos goles de água a você durante toda a viagem de volta. O doutor Karin me mandou te colocar na banheira porque a temperatura do seu corpo ainda estava alta demais... mas você precisa beber isso – ela estendeu a ele um copo de água fresca, que ele virou quase num fôlego só.

Suspirou aliviado e então disse, de uma vez:

- Perdoe-me, Chichi... eu não queria preocupar você... mas eu...

Ela tocou seus lábios com os dois dedos e disse:

- Shhh... eu te perdoei quando você atravessou a porta de nossa casa vivo. Por favor, não diga mais nada. Apenas deixe que eu cuide de você.

Ele deu um sorriso um pouco triste para a esposa. Ela o havia perdoado, mas o caminho dele para perdoar a si mesmo ainda estava apenas no começo.

Notas:

1. Goku não morreu! E vamos às referencias: o dólar salvador é uma referência ao filme "o dólar furado", de 1965. Nele um homem recebe das mãos do irmão um dólar que depois salva sua vida, parando uma bala exatamente como aqui. Já a caminhada do Goku no deserto é referência ao filme "Três homens em conflito", de Sérgio Leone, também conhecido como "O Bom, o feio e o mau" em que o pistoleiro Blondie é deixado no deserto para morrer por um colega, mas consegue se salvar caminhando pelo deserto até ser socorrido. A música do filme:

2. Então, a premonição de Tenshin acabou salvando nosso amigo. Quem apostou nisso, apostou certo.

3. Eu amo a citação desse capítulo, eu amo o livro de onde saiu.

4. Próximo capítulo: "Sobre pais e seus filhos"

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