West Sayan

By AlineCarneiro824

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Esta é uma história que se passa num lugar distante e numa época passada quando um cowboy decidiu ir atrás de... More

Prólogo: Bem vindo a West Sayan
Capítulo 1 - O Filho do Céu
Capítulo 2 - Nuvem Dourada
Capítulo 3 - Aves de Rapina
Capítulo 4 - As promessas ao Vovô Gohan
Capítulo 5 - A Garota que derramou o leite
Capítulo 6 - Saloon
Capítulo 7 - O novo emprego de Goku
Capítulo 8 - Para fazer Chichi sorrir
Capítulo 9 - Viajando para Nova Sadala
Capítulo 10 - O Príncipe
Capítulo 11 - O conto dos dois irmãos
Capítulo 12 - Indo embora de Nova Sadala
Capítulo 13 - o Assalto
Capítulo 14 - Heróis de West Sayan
Capítulo 15 - Noite sem luar
Capítulo 16 - O construtor de casas
Capítulo 17 - Bardock e Gine
Capítulo 18 - Frente a Frente
Capítulo 19 - Três cruzes à beira da estrada
Capítulo 21 - A face do meu pai
Capítulo 21 - Nós somos o bando
Capítulo 23 - Amor é liberdade
Capítulo 24 - O destino não brinca!
Capítulo 25 - Rivalidade
Capítulo 26 - Mulheres de West Sayan
Capítulo 27 - Olhar nos olhos da morte
Capítulo 28 - Como nasce uma lenda
Capítulo 29 - Taioken, luz do meu sol
Capítulo 30 - Vento de Tempestade
Capítulo 31 - O que os olhos vêem
Capítulo 32 - Perdoa-me!
Capítulo 33 - Sobre pais e seus filhos
Capítulo 34 - Quando sopra o Vento Norte
Capítulo 35 - Serpentes na Campina
Capítulo 36 - O pico da Cadeia do Norte
Capítulo 37 - Mundos em confronto
Capítulo 38 - O bem e o mal
Capítulo 39 - Chamas e vingança
Capítulo 40 - Os Campos Infinitos dos Ancestrais
Capítulo 41 - No poço do desejo profundo
Capítulo 42 - A floresta e o Convento
Capítulo 43 - Aonde não se quer ir jamais
Capítulo 44 - A última esfera
Capítulo 45 - West Sayan corre perigo!
Capítulo 46 - Truques de pistoleiro
Capítulo 47 - O fim e o princípio
Capítulo 48 - Em tempos de paz
Capítulo 49 - Até um dia, West Sayan!
Capítulo 50 - Onde residem os bons corações...

Capítulo 22- O verão em que Freeza sumiu

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By AlineCarneiro824


"Ele a queria, de repente e completamente, com uma profundidade desesperada de sentimento que parecia doença. Tudo o que ele era e tudo o que ele procurara, aparentemente, era secundário diante dela."

(Stephen King, Mago e Vidro – A Torre Negra, Volume I)

"Um homem tão dolorosamente apaixonado é capaz de auto-tortura além da crença ".

(John Steinbeck – a leste do éden)

O oficial Hitto lia relatórios confusos sobre o aumento súbito de incidentes criminosos entre Nova Sadala e Vegetown quando ouviu a confusão na antessala da delegacia.

- Mas eu conheço ele! E acho que ele vai gostar de saber o que eu tenho a dizer, poxa.

- Meu jovem, você não pode ir entrando assim, desse jeito. Isso é uma delegacia, o Oficial Hitto é uma autoridade!

Hitto levantou-se, com vontade de rir. Havia reconhecido a voz de Goku. O jovem era impetuoso e não entendia conceitos muito básicos como hierarquia e autoridade. Mas se entrava daquela forma, vindo de West Sayan, podia estar trazendo alguma informação relevante.

- Eu vou recebê-lo – disse Hitto, e o policial que atendia Goku calou-se instantaneamente. – Olá, Goku.

- Boa noite, oficial Hitto, ainda bem que o encontrei ainda na delegacia. – disse o rapaz, alegremente – foi uma viagem bem complicada. Uns caras tentaram assaltar a diligência.

- "Uns caras?" – perguntou Hitto, curioso.

- É, eram uns vinte. Mas não eram muito espertos – disse Goku – quando eu acertei a mão do primeiro os outros ficaram com medo. Eu acertei a mão do segundo e eles começaram a correr. Mas eu consegui pegar um deles. Está aí fora amarrado e ele parece ter uma história interessante para contar para o senhor.

- Você trouxe um ladrão de diligência vivo? Sabe se é do bando de Freeza?

- Aí é que está... ele diz que o bando de Freeza acabou.

Os olhos do homem se arregalaram diante da notícia que parecia tão impossível quanto acharem ouro no leito do Rio Sadala. Ele olhou para Goku e perguntou:

- Ele disse o quê?

- Que houve um levante e o bando foi desmantelado. Acho melhor você perguntar a ele – Goku falou, tirando o chapéu e coçando a parte de trás da cabeça – me pareceu uma história bem interessante...

Hitto imediatamente saiu e foi ao encontro do rapaz, que tinha um aspecto miserável. Não parecia nem um pouco com os ameaçadores bandidos que assaltavam as diligências que iam para West Sayan, Vegetown e Oozaru, lembrava mais os mendigos que esmolavam na entrada de cidades como Porto Feroz e Nova Sadala.

- Qual o seu nome, rapaz? – Hitto perguntou e o homem o encarou com olhos perdidos e deu um sorriso meio estúpido.

- Toobi, senhor – o homem riu e ele percebeu que era um jovem, embora seus dentes fossem amarelos e bem estragados – e eu era do bando de Freeza...

- Como quer que eu acredite nisso? Homens do bando de Freeza que eu vi e persegui não se pareciam contigo...

- Porque eram os grandes. Os conhecidos, sabe? Dodoria, Zarbon, Ginyu... Eu não era como eles, eu era um dos pobres coitados que seguiam o bando e ajudavam nos roubos com mais gente... mas nós levamos uma caixa bem grande de dinamite da obra da ferrovia não faz muito tempo eu ajudei a carregar! O senhor deve ter ouvido falar.

Hitto teve certeza de que ele falava a verdade quando mencionou o roubo, que não havia sido divulgado, era o tipo de coisa que atraía mais assaltantes para um alvo difícil de proteger.

- Certo. Então como você e tantos outros acabaram tentando atacar a diligência de West Sayan?

- Bem – o homem sorriu seu sorriso de dentes podres – era o tipo de coisa que o senhor Raditz fazia... e todos nós o admiramos. Mas ele tinha razão, senhor, é impossível vencer o guarda da diligência, o demônio que atira! – ele apontou para Goku - Acho que só o senhor Vegeta poderia ser páreo para ele.

Goku pigarreou e coçou a cabeça. Por algum motivo, desde que ouvira falar no tal Vegeta teve vontade de saber se realmente ele era mais rápido que ele. Hitto prosseguia com as perguntas:

- Sabemos que Freeza mandava homens muito específicos para esses assaltos, não entendo como vocês...

- Porque o bando acabou, senhor. Foi destruído e as munições, armas e cavalos finalmente foram distribuídas com justiça entre todos nós pelos nossos libertadores.

- Libertadores? – Hitto o encarou com estranhamento e o homem respondeu:

- Sim, os dois homens mais corajosos que eu conheci em minha vida. O senhor Raditz e o senhor Vegeta. Eles se rebelaram e nos inspiraram a matar os nossos tiranos! Zarbon, Nappa, Apur, Tagoma, Shishama, Garana, Sorbet, Litt... todos mortos! Toda elite de Freeza, menos os nossos libertadores.

- Mataram? Então Freeza está morto?

O rosto do homem se entristeceu subitamente. Ele suspirou e disse:

- O senhor Raditz lutou com ele bravamente, mas aquele verme conseguiu fugir, porém não sem algum estrago! Ele foi atingido no rosto e no flanco, senhor... e acredito que ferido como estava deve estar escondido em algum lugar perto de Vegetown.

- Vegetown?

- Sim! – disse o rapaz, triunfante. – é lá que fica a fazenda do velho Mac, que Freeza tomou há anos.

Hitto não podia esconder sua frustração, tantos anos procurando o maldito esconderijo e era apenas um sitio periférico à uma cidade menos importante onde ele e outros haviam interrogado moradores milhares de vezes. E como nunca ninguém entregara o lugar do esconderijo, podia crer que os próprios moradores de Vegetown escondiam essa localização, por medo.

- Quantos homens haviam no bando? – Perguntou Hitto, pois aquela era uma curiosidade que ele sempre tivera.

- Uns cem. Mas a maioria era assim, como eu. Vivíamos dos restos do bando. Cercávamos gado nas fazendas nas costas de fazendeiros, roubávamos armazéns e entrepostos em invasões noturnas... e vivíamos cheios de medo. Freeza era implacável.

- Prenda esse homem, Botamo – disse Hitto, para o guarda que havia testemunhado todo o interrogatório.

- Senhor, senhor... – o homem perguntou, apavorado – eu não vou ser enforcado por ter parte naquele bando maldito, vou?

- Enforcado? – Hitto riu e prosseguiu – não acredito ter provas de nenhum crime grave contra você, rapaz. Nem mesmo dos roubos que você tolamente confessou. E você entregou as mais importantes informações desde que começamos a perseguir o bando de Freeza, e deu as mais importantes notícias... vou te prender por um tempo enquanto verifico a sua história e então, te solto, com a condição que você arrume um trabalho decente.

- Tem comida na cadeia? – o homem perguntou, hesitante.

- Claro. Não deixamos nenhum preso passar fome. Seria crueldade.

- Então é melhor estar preso que no bando de Freeza!

O homem sorriu, agradecido como se tivesse recebido um grande presente e foi levado por Botamo até uma cela. Hitto jamais havia visto um preso tão feliz. Goku entregou a ele a arma de Toobi, um revólver velho, enferrujado e mal lubrificado que o fez rir.

- Foi essa a justiça dos traidores de Freeza? – Hitto riu com vontade – ele deu sorte dessa porcaria não engasgar e estourar na cara dele, não acha?

Goku assentiu silenciosamente. Ele vinha digerindo as informações de Toobi por toda viagem, e isso significava que seu encontro com o irmão havia determinado o destino de muitas pessoas. Mas talvez tivesse sido algo bom. Aquele homem acabaria com uma vida decente, embora ele achasse que o resto do bando provavelmente terminasse morto ou cometendo novos crimes.

E certamente seu irmão não pensava em viver uma vida decente dali em diante.

Depois de uma curta conversa com Hitto, ele foi para o galpão dos Briefs, porque não queria abusar novamente da hospitalidade do Professor Kami e de Poppo, e ali ficou pensando em como seria a vida agora que o bando de Freeza não assombrava mais a diligência. Será que ele teria ainda seu emprego?

***

Mas a verdade, foi que Goku continuou sendo necessário. A notícia do fim do bando de Freeza correu como rastilho de pólvora, e logo outros aventureiros apareceram para tentar assaltar a diligência de West Sayan. Mas ele jamais soube do paradeiro do irmão ou do tal Vegeta, por quem ele sentia uma inexplicável rivalidade. Topou com outros remanescentes do bando, mas nenhum deles foi páreo para suas habilidades. Enquanto isso, sua casa ia sendo construída em West Sayan num ritmo acelerado, e ele, com a eventual ajuda de Kuririn e Yamcha, trabalhava incansavelmente na obra enquanto estava em West Sayan. Aos domingos ia aos cultos do pastor Cutelo, esforçando-se para não dormir, e depois dava passeios com Chichi, sempre levando-a na garupa de Nuvem Dourada, que rapidamente se habituara com a moça e era dócil com ela também.

E, em Nova Sadala, Hitto vivia a bonança do fim do bando de Freeza, a diminuição de assaltos violentos e saques a armazéns e entrepostos, que agora ele sabia, também eram a assinatura do bando. Deu satisfação para a sociedade prendendo cerca de trinta ex-membros do bando que insistiram em assaltar nos arredores de Nova Sadala, e, em meados daquele Julho, foi promovido a Xerife Regional, o que ampliou sua jurisdição para além de Porto Feroz, além de West Sayan e Vegetown, que já eram sua jurisdição. Com melhor salário e posição, ele tomou coragem e pediu a mão de Suno em casamento. Quando Goku foi até ele entregar o convite do seu casamento, ele avisou que Suno iria como sua noiva e o rapaz o abraçou como amigo.

Hitto estranhou, mas aquilo era típico de Goku. Para ele não havia nada na posição do outro ou no seu status que o impedisse de considerá-lo um amigo.

Faltavam alguns dias para seu casamento quando a casa de Goku e Chichi ficou pronta, com móveis que vieram de Nova Sadala, um quarto de banho ao lado do quarto do casal, no segundo andar, uma sala de jantar e uma outra saleta aconchegante, à moda das construções de nova Sadala, e mais dois outros quartos no andar de cima, com varandinhas para a praça e a campina. Uma bomba levava água do poço até a cozinha e o quarto de banho, direto de um poço no quintal. Isso significava não carregar baldes para cima e para baixo, e Chichi ficou radiante ao ver a ampla cozinha onde ela pretendia fazer as melhores refeições do mundo para seu Goku.

Depois que ele mostrou a casa para ela e seu pai, os dois foram andando como bobos até o pátio da igreja, como faziam às vezes quando queriam conversar à sós. Sob a enorme macieira os dois sentaram-se, com Chichi rindo dos comentários bobos de Goku sobre como encheriam a casa de crianças e como ela sentaria na sala fazendo suas costuras à noite enquanto ele contaria histórias para os pequenos, como o vovô Gohan fazia com ele. Goku não escondera de Chichi a história do seu irmão e seu papel no fim do bando de Freeza e ela estava feliz porque agora não havia mais tanto perigo no trajeto da diligência.

De repente, sem aviso, Goku beijou-a. Talvez o fato de pensar nos dois na casa, ou a ideia de que em breve estariam juntos o empolgara e excitara a ponto dele beijá-la daquela forma. Chichi enroscou os braços em torno do seu pescoço, e os dois, sem sentir, foram deitando-se lentamente na relva macia sob a macieira. Os lábios de Chichi se entreabriram e, pela primeira vez, a língua de Goku abriu caminho por eles, brincando com a dela, que timidamente começou a corresponder.

Nenhum dos dois podia se dar conta de como aquilo estava acontecendo, só sabiam que parecia que era impossível parar. A mão de Goku começou a subir lentamente da cintura dela para seu seio esquerdo, e ela ainda tentou debilmente tirar a mão dele dali, mas sua verdadeira vontade era que o toque dele continuasse, fazendo com que ela se perdesse mais naquelas doces sensações que a envolviam.

Goku afastou o rosto por um instante do dela, e os dois ficaram se encarando, ofegantes, ele debruçado sobre ela com a mão direita sobre seu seio esquerdo, cheio de sentimentos confusos em sua cabeça, querendo que já estivessem casados e pudessem aliviar aquele sentimento de urgência que ele tinha. Ela o puxou e eles tornaram a se beijar, e, dessa vez, Goku encostou-se nela, que pulou ligeiramente ao sentir a rigidez dele contra sua coxa.

Foi quando um grito os interrompeu e Goku sentiu mãos pequenas puxando-o para cima, despertando-o atônito do quase transe que era o beijo dele em Chichi.

- Isso é uma indecência! – gritava uma velha senhora, puxando-o para longe de Chichi – não é possível que estejam fazendo isso ao ar livre! À luz do dia! No pátio da igreja! Eu vou contar imediatamente ao pastor Cutelo sobre seu comportamento absolutamente inadequado, jovens!

Goku olhava aquela senhora confuso. Ele a conhecia de vista, mas não conseguia compreender nada do que ela dizia, porque estava furiosa e, principalmente, o que os dois estavam fazendo de tão errado.

- Senhora Octógono – começou Chichi, e Goku pôde perceber o pânico na sua voz – era só um beijo... e eu e Goku estamos noivos...

- Mas isso não diminui o pecado no gesto de vocês! Eu vi! Eu testemunhei sua luxúria aqui, tão perto de sua casa, Chichi, nos fundos de sua igreja! Que moça é você que não se dá o devido respeito?

- E... eu... – Chichi começou, com uma nota de insegurança na voz, ao que Goku respondeu:

- Ô dona Octópode, Chichi é uma moça muito direita! Não tem nada de pecadora nem indecente, ela é a minha noiva e eu vou me casar com ela assim que voltar da minha próxima viagem para Nova Sadala! A senhora não pode chegar e ofende-la apenas porque a gente estava se beijando...

- E sua mão no peito dela, pensa que eu não vi?

- Ela não estava reclamando, estava? – ele disse. – O que a senhora tem a ver com o peito dela?

- Eu tenho tudo a ver com a moral dessa cidade, meu jovem! Onde vamos parar se toda moça se der o desfrute...

- Chega – disse Chichi, com uma nota dolorida na voz – o erro é meu, senhora Octógono – ela baixou os olhos, tristonha – eu não deveria ter permitido...

- Ainda bem que admite! Uma moça precisa zelar por sua pureza...

Goku estava confuso. O que eles tinham feito? Era tão errado assim, tocar o seio de sua noiva? Amá-la desesperadamente, era errado? O que tinham feito de tão pecaminoso?

- Eu zelarei – disse Chichi, e Goku sentiu, mais que a dor, algo horrível na voz da noiva: culpa. – Prometo que até nosso casamento eu e Goku não ficaremos mais... à sós.

- Não é o suficiente – disse a velha, com um olhar de abutre. Você irá à minha casa amanhã para que receba orientações sobre como uma esposa decente deve comportar-se, senhorita Cutelo. E o senhor – ela virou-se para Goku – trate de respeitar sua noiva.

Goku olhou para a mulher, ainda sem entender o que ela tinha a ver com a vida dos dois, e então Chichi fez um gesto para que ele a seguisse e andou até sua casa. Ela parou à porta e conservou uma distância estranha entre eles.

- Goku – ela começou – o erro foi todo meu. Eu não devia...

- Que erro, Chichi?

- Nós não devíamos... eu não podia ter permitido que você fosse tão longe.

- Oh! – ele disse, com uma expressão preocupada – então eu fiz algo errado, algo que eu não devia ter feito porque você não queria... me perdoe, Chichi.

- Não, não, não é isso – disse Chichi. – afinal você é um homem, e...

- O que tem eu ser um homem? Por acaso você também não sentiu... aquela vontade que eu senti?

- Senti, mas aí é que está, eu não devia ter sentido, Goku – lágrimas começaram a brotar nos olhos dela, que exalavam a mais triste e tóxica culpa – eu que não devia ter sentido, você... são seus instintos...

Goku subitamente sentia-se furioso. E não com Chichi, mas com a velha Octógono.

- De onde você tirou essa ideia besta? Claro que você poderia sentir... porque foi bom, Chichi, foi ótimo... estava sendo ótimo, não estava?

Ela baixou os olhos, confusa. Tudo que ela sentia entrava em conflito com tudo que lhe fora ensinado: a mulher, aquela que tenta o homem, aquela que deve se resguardar..., mas ela não podia segurar-se. Não quando estava com ele... sabia que algo a impelia... e era algo bom. Mas..., mas ela queria se casar como uma moça direita e decente, por isso disse:

- Venha jantar conosco amanhã, Goku. Eu... eu não posso ficar à sós com você até nos casarmos. E depois de amanhã você parte para Nova Sadala, não parte? E quando voltar, bem, dois dias depois nos casamos. E aí tudo vai ficar bem, não vai?

Ele a encarou, com um certo estranhamento e murmurou:

- Acho que sim... – ia inclinar-se para um beijo de despedida, mas Chichi o parou, dizendo, quase em pânico:

- Sem beijos até o casamento!

Ele fez uma carranca aborrecida não pela negação do beijo, mas porque sabia que não era ela que não queria o beijo. Mas a maldita velha, como todas as pessoas que tinham a horrível mania de se meter na vida dos outros naquela cidade.

Mais tarde, deitado completamente nu em sua cama no segundo andar do Saloon, ele começou a pensar em Chichi. Embora Goku fosse virgem, ele não era exatamente um tolo. O avô contara a ele o que homens e mulheres faziam quando eram casados, e embora ele tivesse achado nojento quando o avô descrevera, quando ele tinha 12 anos, agora ele mal podia esperar para fazer aquilo com Chichi. De repente, ele sentiu-se excitado. Não seria a primeira vez que faria a "coisa" que aliviava pensando em Chichi. Sua mão segurou a rigidez entre as suas pernas e ele se pôs a pensar em Chichi, numa Chichi entregue e tão ávida por ele quanto estivera aquela tarde, quando ele pudera sentir.

Quando o alívio finalmente veio numa descarga de prazer explosivo ele pensou que mal podia esperar para que aquilo fosse tão bom para ele quanto para Chichi. E adormeceu com um sorriso no rosto.

***

Os dias até o casamento passaram para ele como uma espera agonizante porque além dos sete dias longe de Chichi, quando ele voltou ela mal se aproximava dele, para resguardar a sua dita pureza. E quando finalmente chegou o dia, ele ficou feliz por ver a praça enfeitada, os moradores e os convidados – até mesmo pessoas de fora como a família de Suno e seu agora noivo, o Oficial Hitto. Arale e seus pais também haviam comparecido, assim como toda cidade, até mesmo o reservado Piccolo.

E quando Chichi entrou na igreja, linda num vestido que havia sido de sua falecida mãe, ele até esqueceu como era incômodo usar aquela zroupa feita pelo Oolong que ele certamente jamais usaria novamente, ainda mais num dia quente como aquele, e as botas novas ainda muito duras que ele se forçara a comprar em Nova Sadala porque as suas já estavam velhas, gastas e fedorentas.

Havia valido a pena ter aprendido a dançar para rodopiar com ela pela praça enquanto um Yamcha um pouco alterado cantava, violão em punho, uma música que Goku jamais ouvira, mas que ele gostara de imediato:

When you love a woman,

Tell her that she's really wanted.

When you love a woman,

Tell her that she's the one.

She needs somebody, to tell her

that it's gonna last forever.

So tell me have you ever really ...

Really, really ever loved a woman?

So tell me have you ever really ...

Really, really ever loved a woman?

Ele podia jurar que sentia a presença de seu avô e até de seus pais observando os dois rodopiando pela praça, Chichi sorrindo para ele enquanto ele entendia que, como dizia a musica, ele realmente a amava e ela era a única para quem ele teria olhos.

Enquanto a música tomava conta da praça, não só tocada por Yamcha, mas por outros músicos da cidade, Lunch sorria, de braços cruzados, olhando para os dois noivos dançando na praça. Era uma escolha oposta àquela que ela havia feito, por motivos muito particulares, mas era bonito ver o amor verdadeiro nos olhos dos dois. Lunch era uma boa observadora, e via que entre os casais ali dificilmente o amor fosse tão forte quando o de Chichi e Goku, e aquilo era algo que ela admirava, ainda que soubesse que não era para ela.

Foi quando sentiu que era observada, conhecia aquela sensação. Virou seus olhos e pôde vê-lo no limiar entre a cidade e a campina, iluminado pelo sol que se punha. Tenshin. Ela e o índio haviam estabelecido uma troca silenciosa de presentes. Ele deixava perdizes, marmotas, e, mais de uma vez, gordos perus selvagens que ela sabia que ele não podia ter caçado ali na campina. Ela, por sua vez, deixava frutas, pães, doces, ou alimentos preparados que ela tinha certeza que ele não costumava comer e provavelmente iria apreciar.

Era uma distância respeitosa a que existia entre eles, que jamais se falavam, apenas trocavam aqueles presentes mudos e, às vezes, surpreendentes, como no dia em que ele deixara um suculento favo de mel. Ela pretendia retribuir em algum momento com uma das maçãs da grande macieira do pátio, afinal, maçãs vinham da Europa e provavelmente não haviam por ali em estado selvagem. Olhando o índio de pé no limiar da cidade, ela sentiu-se impelida a ir até ele.

Aproximou-se sorridente e disse:

- Olá, Tenshin. – não parecia que era a primeira vez que se falavam desde a noite em que os prisioneiros haviam sido mortos. De alguma forma, era como se fossem conhecidos.

- Haug, mulher dos Cabelos de Sol.

- Meu nome é Lunch – ela disse e ele sorriu.

- Cabelos de Sol parece mais com você.

- Ninguém o proíbe de chegar até a festa, sabia?

Ele balançou a cabeça e disse:

- Goku chama Tenshim, mas Tenshin não deve ir em lugares de brancos, brancos se assustam com Tenshin.

- Eu não me assusto com você – ela sorriu.

Ele a encarou, sério. Então disse.

- Tenshin parte hoje, Cabelos de Sol, tribo precisa dele.

- Oh... – ela disse, sem saber por que se sentia triste. – você volta?

Ele não disse nada. Deu um sorriso e completou:

- Mulher linda... Cabelos de Sol. Diz a Goku que Tenshin deseja bem a ele e à moça do leite. – ele virou as costas e desapareceu na escuridão que descia sobre a campina. Lunch ainda o observou por um tempo e quando voltou à festa murmurou para si mesma:

- Ficarei te devendo uma maçã, Tenshin.

***

Goku esperava por Chichi nervoso, em pé, ao lado da cama. Ela o instruíra a usar um absurdo pijama comprido que ele não podia esperar a hora para tirar. Ele não dormia de pijama, mas entendia que talvez aquilo fosse por causa da vergonha de ser a primeira vez deles com alguma intimidade.

Ele coçava-se nervosamente: era uma noite quente, tão quente que prenunciava um temporal pela madrugada, ao longe ele já ouvia os relâmpagos. Chichi abriu a porta, então, e entrou no quarto, nervosa. Ela usava uma camisola longa de mangas compridas e Goku perguntou:

- Você não está com calor, Chichi?

Ela disse então:

- Essa é a roupa que eu devo dormir, Goku... eu não devo expor meu corpo e nós não devemos ceder à luxúria.

- Ceder a que?

- Luxúria, o pecado do sexo apenas para satisfação da carne.

- Do que você está falando?

Como se a situação não pudesse ser mais absurda, ela deitou-se na cama e cobriu-se até o pescoço e disse:

- Não se preocupe, eu sei o que devemos fazer, não estou usando roupa de baixo. A senhora Octógono e a Viúva Uranai me instruíram que eu preciso estar preparada para te dar o prazer que você tem direito, Goku.

Ele não conseguia de forma alguma entender o que estava se passando.

- Venha, Goku, apague a luz e deite-se comigo.

Ele ia começar a tirar o pijama quando ela tapou com as duas mãos o rosto e disse:

- Não devemos nos ver nus.

Ora, diabos, o que estava acontecendo ali?

Ele foi até o lampião e o apagou, então deitou-se e ela tocou-o por cima das calças, embaixo das cobertas. Goku sorriu, achando que a partir dali as coisas se resolveriam e debruçou-se para beijá-la. Mas ela disse:

- Goku... não sei se beijos são... – ele ignorou aquilo e a beijou, da mesma forma que havia beijado na campina, e, dessa vez sabendo que ela não tinha roupa de baixo, sua mão insinuou-se sob as fraldas da camisola, procurando tocar a carne nua de Chichi, que deu um gritinho assustado quando ele tocou de leve sua intimidade:

- Isso não é certo, Goku! É luxúria! – ela parecia apavorada, muito distante da Chichi entregue do pátio da igreja. Goku a encarou no escuro e disse:

- Eu sou seu marido. Eu amo você.

- Mas... Goku...

Ele tornou a beijá-la e ela gemeu de leve com o toque dele na intimidade dela, mas não conseguia se entregar, sentia, por tudo que ouvira das duas velhas da igreja, que aquele era um caminho para o inferno. Ela o fez parar e disse:

- Eu... eu estou pronta, Goku.

- Mas...

- Deite-se sobre mim – ela murmurou – e faça o que deve ser feito – ela ordenou e ele retrucou:

- Mas Chichi... – ela tocou-lhe novamente por cima das calças e ele gemeu, ainda era prazeroso o toque dela – Chichi por favor, eu...

- Você está pronto, Goku... – ela fechou os olhos e disse – e eu também.

Hesitante, ele baixou as calças sob as cobertas, e, seguindo as instruções dela postou-se entre suas pernas e, lentamente, começou a penetrá-la.

Goku pôde sentir que não estava sendo confortável para ela, e tentou parar, mas ela o puxou e disse:

- Faça, Goku, faça... eu estou preparada para a dor.

- Chichi... eu – ele queria dizer que aquilo não podia estar certo, mas ela o puxou para cima dele e disse:

- Por favor, meu amor... me faça sua esposa. – Ela fechou os olhos e mordeu os lábios para aguentar a dor e pôs as mãos nas costas dele, empurrando-o mais para dentro dela.

Ele sentiu a ruptura do hímen quando ela o obrigou a penetrá-la, e viu lágrimas se formando nos olhos dela.

- Chichi... isso não pode ser certo – ele disse, ciente do quanto era prazeroso para ele o encontro de suas intimidades, mas tenso e preocupado com ela.

- Faça, Goku, por favor. Eu quero que você faça! – ela disse, olhos fechados, lágrimas escorrendo pela face.

- Ah, Chichi, Chichi – ele disse, movendo-se num misto de culpa e ansiedade, sentindo ao mesmo tempo vontade de seguir e certeza de que aquilo não estava certo, que ele não podia permitir que ela sentisse dor enquanto ele sentia prazer. Então, mesmo com Chichi empurrando os quadris contra os dele, mesmo com ela implorando para continuar, ele fez um esforço e saiu de dentro dela imediatamente. Não era certo – ele pensava – não era certo. Se ele prosseguisse, seria um canalha, um sujo.

Ele olhou para ela, que o encarava espantada, o rosto ainda cheio de culpas e conflitos. E disse, decidido:

- Não pode ser dessa forma, Chichi. Não está certo. Talvez você ainda não esteja preparada para isso.

- Mas... e você? E o seu prazer?

- Eu te faço a mesma pergunta. – ele a encarou no escuro. Os olhos dela lembravam os de uma corça assustada. – Eu sinto muito que nossa primeira vez tenha sido assim, Chichi... – ele disse – mas eu não me casei com você para ter prazer. Eu me casei contigo para te amar.

Chichi se abraçou a ele, chorando e disse:

- Doeu tanto, tanto! E eu senti tanto medo...

- Shhh – ele sussurrou – passou, Chichi. Não precisamos fazer nada.

- E-eu tinha medo de estar cedendo à Luxuria, de estar pecando. Mas eu te amo tanto, Goku...

Ele a aconchegou mais ao peito e disse:

- Eu também te amo, Chi.

Ele não disse mais nada. Mas pensou que no dia seguinte, ou logo que pudesse, tiraria dela aquelas ideias estúpidas que haviam sido enfiadas na sua cabeça por pessoas que não sabiam e não compreendiam o seu amor.

E ele prometeu a si mesmo que jamais se sentiria daquela forma com ela novamente.

Notas:

1. Por favor, não desejem a minha morte por causa da desastrosa primeira vez dos dois. Só queria mostrar os efeitos nefastos da repressão sexual na vida das pessoas.

2. Também queria mostrar uma primeira vez que não fosse aquela coisa irreal e idealizada. A maioria das pessoas não tem uma boa primeira vez...

3. Em breve eles vão achar um caminho... o próximo capítulo se chama "Amor é liberdade".

4. E o bando de Freeza foi para o espaço e ele desapareceu. Alguém imagina onde ele pode estar?

5. E Tenshin e Lunch tem esse momento de diálogo. Mas ele vai embora. Não está sempre na campina. Mas isso pode mudar...

6. As citações deste capítulo tratam do amor extremo, da paixão. Vejo que agora, sem obstáculos e medo, muito amor pode surgir nessa história... A história do livro "Mago e Vidro" é um dos capítulos mais belos, porem dolorosos da série "A Torre Negra" e conta uma história de amor, já foi citado e será várias vezes aqui. Já a citação de "A Leste do Éden" se refere a um personagem que tem um final um pouco mais esperançoso, por amor.

7. Até que Freeza reapareça, pelo menos...

8. A música citada no capítulo é "Have you ever really loved a woman", do Bryan Adams, trilha sonora do filme "Don Juan de Marco", do ano de 1994. A tradução do trecho usado:

Quando você ama uma mulher
Você lhe diz que ela, realmente, é desejada
Quando você ama uma mulher
Você lhe diz que ela é a única
Pois ela precisa de alguém
Para dizer-lhe que vai durar para sempre
Então diga-me: você realmente, realmente
Realmente já amou uma mulher?


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