188 - Até a Morte

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  - Já chega! - Ele esbravejou e eu estremeci, meus pesadelos nunca tinham sido tão reais como aquele momento que eu estava presenciando, Mark parecia ter saído de um dos meus pesadelos, irado, completamente nervoso e sombrio, mas desta vez eu sabia que ele não pretendia me matar, o seu único objetivo era me tirar das garras de sua mãe.
  - Vai ser para o seu bem filho, - Falou a mulher e eu senti até ânsia do tom que ela usou, aquele típico tom de manipulação -  Eu sei que você não quer morrer, e vale mais um coração partido do que a sua morte.  - Ela tentou persuadi-lo com um tom de voz amável que confundiria a mente de qualquer um, mas Mark... Mark começou a vir em nossa direção, seus passos nunca estiveram tão frios e calculados como estavam naquele momento, não dava para concluir muita coisa por causa da criatura que estava escondendo sua face por baixo dos ossos, mas eu o conhecia o bastante para saber que ele não estava gostando do que estava acontecendo, a mãe o afetava, e agora ele estava decepcionado pela atitude que ela tomou.
  - Eu já estou resolvendo isso. - Disse Mark com frieza, e sua mãe baixou a foice, nunca relaxei tanto na vida como quando isso aconteceu, o alívio correu nas minhas veias como sangue.
  - Só há uma maneira de resolver... - A mulher começou a discordar e Mark baixou sua foice, fazendo com que a lâmina arrastasse no chão fazendo barulho enquanto ele andava, ainda não estava perto o suficiente, mas sua raiva parecia que não deixaria nada e nem ninguém lhe impedir de fazer o que queria.
  - Existe sim, você não fez por ser covarde Margery, mas eu estou fazendo e vou terminar o que você começou e salvar todos nós. - Falou Mark determinado e o espanto preencheu o rosto da mãe de Mark, que supostamente se chamava Margery.
  - Você sabe o que isso compromete?!! - Margery bradou enfurecida, os olhos azuis estavam arregalados e perturbados - Tudo que você pede à morte tem um preço! - Rosnou ela e então levantou a foice outra vez. Mark ainda não estava tão perto, e eu ainda estava vulnerável, não ia conseguir fazer nada, minha arma tinha sumido, e meus ossos... Comprometiam muito mais do que só meus movimentos, eu estava cheia de dor.
  - Não precisa ser assim Margery. - Falou Mark tentando apelar pela bondade da mãe, mas eu duvido um pouco que exista isso dentro dela. Foi o momento quando eu avistei o meu gatinho escondido no manto, Mark o havia trazido, e estava tentando destrair sua mãe para que ele pudesse me alcançar, o problema, que eu estou tentando entender é que: O que um gato doméstico, que ainda é praticamente novo demais, está fazendo num conflito como esses?!! O que Mark tem na cabeça??!
  - Você mudou, - Ponderou a mulher com decepção - Essa menina afetou você... E está na hora disso acabar. - Margery olhou pra mim, dentro dos meus olhos, com a falta eminente de emoções em sua face pálida que lembravam traços do filho, o gatinho pulou no meu colo, e então Margery desceu a foice com tudo, sem pensar duas vezes, ou sequer pestanejar.
  Eu não gritei, mal consegui respirar com o impacto, meus reflexos falaram mais alto e eu levantei as mãos pra me proteger, Suga, meu pequeno gatinho parecia ter correspondido a minha tentativa de proteção e de alguma forma, quando ele se aproximou dos meus machucados, eu senti eles pararem de doer no mesmo instante, e então eu consegui reagir. No mesmo instante que a lâmina da foice desceria sobre mim, uma força poderosa escapou das minhas mãos, automaticamente emanando do meu corpo como se fosse gelo, e uma rajada de alguma coisa que eu não soube identificar o que era se apoderou da foice flamejante de Margery e a incenirou, desintegrando-a ainda no ar ainda em movimento, em seguida, Mark atravessou a lâmina de sua própria foice na barriga da mãe e depois rasgou a cintura dela.
  Meu coração, que antes estava na garganta, parou. As dores voltaram, e meu espanto me atingiu tão violentamente como um choque atravessando minhas veias.
  - Alícia... - Escutei a voz de Mark chamando o meu nome, mas eu só conseguia olhar para o corpo de Margery caindo de joelhos, e depois no chão. Parecia que eu havia mergulhado, e estava embaixo d'água.
  - Ela... - Sussurrei perplexa, quase engasgando com a palavra, ele havia matado a própria mãe?!! A mãe dele? Pra me proteger?!! A própria mãe?!!
  - Alícia... - Escutei a voz de Mark de novo, e meu corpo começou a escorregar pro lado, eu não aguentava mais sustentar a estrutura do meu corpo de pé, as dores já haviam me feito ceder a muito tempo.
  - Mark... - Balbuciei atordoada quando senti ele vestir uma jaqueta em mim, depois os braços me envolvendo e me pegando no colo, meu corpo gelado, da cabeça aos pés eu sentia frio, como se estivesse no meio da neve sem roupa nenhuma, tremendo impotente nos braços de Mark - Mark... - Sussurrei e eu não soube identificar se o ar frio que saiu da minha boca acompanhado de fumaça branca era real ou só parte da minha mente atordoada-  Está tão frio... - Chorei, queria me aquecer, estava confusa, e mal conseguia me mecher.
  - Vai ficar tudo bem. - Falou Mark me envolvendo num abraço enquanto pegava meu gatinho no chão - Vai ficar tudo bem.

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