140 - Aeroporto

452 68 10
                                    

  Assim que sai do meio de bonecas enfileiradas na prateleira me encaminhei para a porta do quarto que estava entreaberta, que nem a porta do guarda-roupas. Andando lentamente enquanto temia espiar o que havia do lado de fora. Eram só crianças rindo, então por que eu sentia tanto medo de ir até lá?
  Engoli em seco assim que passei na frente de um espelho, não havia nada lá, a não ser o meu reflexo numa versão muito mais jovem, com apenas cinco anos. O guarda roupas estava atrás de mim, e o espelho refletia a parte entreaberta da porta.
  Quando pensei em dar mais um passo, um rangido das dobradiças preencheu o ar, a porta do guarda-roupas estava se abrindo.
  Meu coração disparou,  não haviam roupas e nem toda a escuridão que eu havia visto antes, o que tinha era apenas um banheiro, sujo e quebrado, e no final dele havia uma mulher trajando uma camisola de hospital, com um machado na mão, olhando pra mim com a cabeça baixa de forma que seus cabelos cobriam boa parte de seu rosto.
  - Você sabe o que fez... - Ela disse e escutei a voz da minha mãe, mas aquela não era a minha mãe, por causa do medo senti meus nervos travarem, me prendendo no mesmo lugar, eu queria correr, mas quando tentei mover minhas pernas, elas pareciam ter sido afundadas em cimento, meus pés estavam presos no chão. Ela deu um passo a diante, fazendo menção de vir até mim e eu senti vontade de chorar.
  - Por favor... - Tentei implorar, e meu coração disparou de desespero ao perceber que eu estava sem voz, coloquei a mão na garganta, e tentei implorar de novo, e tudo que a mulher fez foi lançar o machado, o medo me atravessou tanto que quando tentei correr eu cai no chão, e o machado passou rente ao meu braço esquerdo e fez um corte no meu ombro, olhei pra porta do quarto na esperança de fugir, e ela bateu com força, se trancando por fora. Começei a chorar.
   - Você sabe... - A mulher acusou novamente e então marcas surgiram nos meus tornozelos, marcas roxas na minha pele, e de repente eu fui arrastada por uma força invisível pra dentro do guarda-roupas, direto pro banheiro, meu coração saltou na garganta, me provocando a vomitar.
  A mulher mal me deu tempo de assimilar o que estava acontecendo e me pegou pelos cabelos me erguendo, tirando meus pés do chão enquanto me arrastava até uma banheira cheia de água suja. Ela me pois de joelhos na frente da banheira, meu rosto estava molhado de lágrimas, eu queria implorar pra ela parar o que estava fazendo, mas eu estava muda, a voz sequer saia da minha garganta, me deixando em pânico.
  - Você deixou sua mãe morrer, e agora vai morrer também. - Sussurrou entre dentes no meu ouvido, e então a mulher segurou meu cabelo, me dando vontade de gritar, por mais que a voz morria na garganta, meu estômago embrulhou quando olhei pra água, ela cheirava a sangue, e mesmo assim a mulher afundou a minha cabeça na água, tentei por as mãos nas laterais da banheira para me levantar, mas a água já havia invadido a minha boca e o meu nariz. Então comecei a me debater.

  Arquejando e tentando puxar ar de volta pros pulmões eu abri os olhos, com o coração martelando no peito enquanto eu tentava tatear as coisas ao redor, com medo de não conseguir respirar. Até meu gatinho pular em cima da minha barriga e me fazer perceber que tudo tinha sido apenas um pesadelo. Cerrei os olhos respirando fundo. Eu estava no meu quarto, durante o dia. Sozinha com meu gato.
  Peguei o gatinho e o coloquei ao meu lado, e então me sentei, acalmando a respiração descontrolada.
  Só mais um pesadelo pra minha memorável coleção.
  Coçei os olhos e então desci da cama, eu tinha coisas a fazer, e o melhor a fazer era ficar longe de coisas onde eu possívelmente possa acabar dormindo. Peguei uma toalha e algumas roupas e então fui pro banheiro, eu precisava de um banho gelado pra relaxar minha cabeça, estava tão perturbada que tinha a impressão de ver aquelas bonecas endiabradas por ai. E eu preciso parar de pensar nelas e naquela mulher que tentou me matar. Por mais que talvez aquela mulher tenha razão. Eu deixei minha mãe morrer... Se eu soubesse teria evitado, mas já que eu não sabia agora eu preciso focar em pegar o verdadeiro Gap Dong e encher ele de tiros.

  Ocupando uma cadeira na mesa, eu me prontifiquei em encher uma xícara com café. A minha volta estavam a Mallya, Jaebum e BamBam, e eu sabia o que faríamos agora de manhã, havia me lembrado durante o banho que Mark voltava hoje da viajem, e iriamos todos juntos buscá-lo no aeroporto. E mesmo que todos na mesa estivessem tomando seu café normalmente, eu reparei em uma coisa que quase passou despercebido pelo meu olhar.
  O dragão da Mallya estava junto a nós na mesa, comendo um prato de carne crua, ao lado do meu gato, que estava bebendo uma tigela de leite. Um pequeno dragão branco ao lado de outro pequeno gato preto. Que coisa fofa.

PRISON IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora