120 - Nascimento de Fogo

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- Taehyung on-

Perfurei o ombro de Mark até sentir a lâmina da faca passar rente ao osso de sua clavícula, perfurando a pele impiedosamente até afundar toda lâmina pra dentro da carne. Mark gruniu ofegante debaixo de mim e virou o rosto pro lado, para não me olhar diretamente, estava exausto, suado e cheio de machucados e sangue, e eu não estava muito diferente. A única diferença é que os meus machucados já haviam cicatrizado, a não ser pelas manchas roxas pelo corpo, essas não sumiram, que nem o meu cansaço e as dores.
- Vamos acabar logo com isso, eu só quero as minhas memórias do Ciclo, depois que me devolve-las você pode até ir pro inferno com a encapetada da sua mãe que eu não ligo! - Falei exasperado e Mark cerrou os olhos de dor segurando meu pulso e tentando me obrigar a tirar a lâmina da faca de seu ombro, mas eu forçei a faca mais pra baixo, fazendo Mark grunir de dor novamente. O sangue dele estava manchando a manga da minha blusa, e molhando a minha mão que empunhava a faca.
- Eu não posso te devolver suas memórias... - Respondeu Mark e eu forçei a faca pra baixo com raiva, meu sangue fervia a ponto de borbulhar dentro das veias.
- E por que não?? Por que você não pode me devolver o que é meu por direito??! - Bradei em protestos sentindo meus olhos se encherem de lágrimas e Mark colocou uma de suas mãos em meu ombro, desta vez, por incrível que pareça, sem nenhuma intenção de me atacar. Eu estava cansado, exausto desse joguinho doentil, eu preciso me lembrar das coisas que aconteceram.
- Por que você perdeu suas memórias? - Perguntou Mark exausto e virou o rosto para me encarar, e pelo fato de estar quase chorando, eu tirei a faca do ombro dele, o que o fez gemer de dor e engolir em seco. Meus olhos estavam carregados de lágrimas, mas eu estava me segurando, não queria chorar na frente dele.
- Eu não me lembro. - Respondi e sai de cima dele, me sentando na areia ao lado de seu corpo, Mark não se moveu, estava cansado demais pra se sentar também. Eu me limitei a abraçar minhas pernas e conter o choro. Havia um nó tão grande na minha garganta.
- Como assim? - Perguntou Mark confuso e eu suspirei pesadamente, por um instante eu tive a impressão de que havia algo diferente no tom de voz de Mark, não era caçoa, nem divertimento, parecia compaixão... Mas afastei esse pensamento, era impossível ele ter isso, ele é um monstro! Meu coração ainda estava batendo forte por causa da adrenalina da briga de poucos minutos atrás.
- Eu não me lembro de nada do Ciclo, - Respondi amargurado sentindo uma lágrima descer pelo meu rosto - Eu não sei por que perdi minhas memórias, não sei o que a Mallya e a Alícia são, e também não me lembro porque fui expulso do céu. Eu só me lembro que chorei muito depois, mas não me lembro porque cai. - Quando terminei de dizer coloquei uma mão na cabeça, meus dedos ensanguentados entre os fios da franja do meu cabelo, sentindo aquela vontade esmagadora de chorar, por causa de tanta coisa.
- Eu não aguento mais... - Sussurrei quando as lágrimas desceram, e então me permiti chorar. Chorar alto e angustiado, como eu sempre fazia quando sentia a tristeza que a saudade do céu me fazia.
- Eu não posso te devolver as suas memórias, - Mark se pronunciou, colocando sua mão em meu ombro, minhas omoplatas latejavam para que eu libertasse minhas asas para me encolher e chorar envolto nelas - Eu não posso porque nem eu sei o que realmente aconteceu no Ciclo, eu não tenho poder pra isso, mas a minha mãe tem, e quando eu encontra-la, eu vou descobrir como te devolver. Eu prometo Taehyung. - Disse Mark e então eu vi ele guardar sua faca, uma demonstração de sentimentos, e a atitude de parar uma confusão... O que aconteceu com ele? Mark não era assim, ele sempre ria ou desprezava o meu sofrimento, por que agora ele está agindo como uma pessoa? Será que a conexão entre ele e a Alícia é tão forte a ponto de fazê-lo controlar o monstro que ele é?
- Eu pensei que você fosse o Gap Dong quando vi a primeira vítima do serial killer, mas você está mais diferente do que eu conhecia, eu não sei se você é o Gap Dong. - Desabafei e Mark arqueou as sobrancelhas.
- Eu não sou um monstro. - Restrucou Mark ofendido e eu limpei minhas lágrimas.
- Desde pequeno você é um monstro. - O corrigi, e então Mark balançou a cabeça em negação.
- Eu jamais machucaria uma pessoa inocente. Só os que merecem. - Respondeu Mark e eu respirei fundo, sentindo a brisa salgada pelo mar confrontar meu rosto.
- E eu merecia? - Mark não teve tempo de responder minha pergunta, quando começaria a falar, um sinal apareceu no céu, invisível aos olhos humanos, porém visíveis a seres sobrenaturais. Era um brasão de uma família antiga, irradiando chamas ofuscadas de um Dragão. Subindo pra cima como se fosse fumaça, e se dissolvendo no ar, como se fosse nuvem. E por alguma parte na minha mente eu lembrei que aquilo simbolizava o nascimento de um Dragão.
- A Mallya e a Alícia! - Mark falou preocupado e eu me virei pra ele com os olhos arregalados.

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