132 - Mais um Funeral

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- Alícia on-

  - Alícia não faça isso. - Meu pai pediu pondo uma mão no meu ombro na tentativa de me confortar e eu o fitei por um instante, ninguém prestava atenção em nós, estavam ocupados ouvindo o padre falar palavras de conforto para a família enlutada que chorava rios na frente de uma lápide. Meu pai queria que eu ficasse, mas eu não entendia o significado disso, e se entendia não queria admitir que me importava, já havia uma parte de mim que não se importava mais, uma parte que não tinha mais a capacidade de sentir. E agora eu não dava a mínima para o que ele pensava, para o que se passava na cabeça de ninguém, mas por mais que minha vontade fosse uma, eu deveria ser cuidadosa para sair do local, sem chamar atenção, meu pai não pode suspeitar que a morte da minha mãe libertou um sentimento a muitos anos esquecido. Um sentimento que nem uma psiquiatra foi capaz de conter.
  Desviei os olhos do rosto cansado do meu pai e olhei para o meu irmão, estava tão desolado quanto meu pai. E depois procurei pela Mallya, encontrando sua expressão séria e ausente de sentimentos. Mesmo sendo a minha mãe... Mesmo ela tendo praticamente criado a Mallya desde que saiu da floresta, a Mallya não se compadecia com funerais, não era culpa dela, nós duas somos assim, incapazes de ter compaixão, e eu incapaz de ter sentimentos. Eu nasci assim, minha mãe tentou me mudar me levando a sessões incessantes de terapia durante minha infância, e agora ela está morta, pelas mãos de um desgraçado que tem os mesmos transtornos que eu, e ainda pior, incriminou um inocente. E agora, enquanto todos aqui se lamentam pra uma lápide que guarda um corpo que jamais vai se levantar ou se importar com o que está acontecendo pelo fato de já estar morta, Taehyung deve estar levando uma surra na delegacia. Enquanto todos acreditam na armação mais cretina já feita.
  Olhei mais uma vez para a lápide da minha mãe, apenas pro meu pai pensar que eu me importava, e forçei um choro, mesmo não sentindo mais que tinha essa capacidade de lamentar, agindo teatralmente para ele me liberar. E meu pai o fez, me envolvendo num abraço que ele pensava que fosse acolhedor.
  - Vá para casa meu anjo, descanse, você passou a noite em claro. O papai não vai trabalhar hoje e assim que o funeral acabar eu e o BamBam vamos pra casa. - Avisou meu pai carinhosamente e me soltou, foi então que sai daquela multidão de parentes, de cabeça baixa para não mostrar o quanto estava enojada com tantas e tantas pessoas que por tantos anos sumiram, e só apareceram logo agora para ver uma lápide, se minha mãe estivesse aqui tenho certeza que expulsaria mais da metade dos convidados, mesmo com o coração de ouro que tinha ela nunca gostou desses puxa-sacos.
  Limpei as lágrimas quentes que desciam sorrateiramente pelas maças do meu rosto e enfiei as mãos geladas pelo frio nos bolsos da jaqueta, seguindo para fora do cemitério, com passadas calmas, enquanto observava a chuva fina caindo sobre as diversas lápides do local até finalmente sair de lá.

  Adeentrei na mata, fugindo da trilha para poder passear com mais liberdade dentre as extensas fileiras de pinheiros que se estendiam por quase incontáveis quilômetros quadrados de floresta. Ainda eram onze da manhã, e eu estava pensando, juntando peças e reavaliando o caso para pensar em algo que o Gap Dong possa ter deixado escapar, alguma pista, qualquer coisa... Não existe crime perfeito, existe crime mal investigado! E eu preciso investigar, talvez tenha algo na cena do crime... Ou algo que o Tae saiba... Afinal por que o Tae estava bebado? E por que o Wonho relatou que ele estava sorrindo quando foi preso? Será que o Tae... Dentre um emaranhado de pensamentos fui interrompida por um barulho no meio das árvores, ainda chovia, mas eu estava de capuz e não me importava de me molhar, além disso, o som de passos pareceu quase inaudível pra mim enquanto pensava, mas eu havia escutado, e havia parado, olhando o redor calmamente na busca do dono dos passos que escutei.
  Em pouco tempo escutei de novo, peguei meu celular e dei uma olhada rápida na tela vendo o horário, ainda onze horas, além de ninguém se aventurar pelos arredores por esse horário, não é comum as pessoas saírem da trilha, eu saio por que conheço a região, mas boa parte da cidade não conhece... Então quem está aqui?
  - Saia das sombras. - Ordenei e escutei passos novamente, mas estes não pareciam ser da mesma pessoa que escutei antes. E mal tive tempo de pensar sobre e fui abordada por Mallya que estava estressada, por diversos motivos.
  - Você não acha que é ele? - Indagou ela impaciente e eu tirei o capuz para olhar nos olhos dela, mas não respondi a sua pergunta, pois a poucos metros de nós avistei um coturno masculino. Tinha alguém nos vigiando. Troquei um olhar com a Mallya e tirei a arma da cintura, e então apontei e atirei. Mas não pra matar, apenas pra assustar, denunciando a localização do indivíduo com um tiro na árvore. E ele saiu de seu esconderijo tranquilamente.
  - Quem é você? - Perguntei e ele levantou os olhos para me encarar nos olhos.
  - Pode me chamar de Jung Kook.

  - Pode me chamar de Jung Kook

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