27 - Rouxinol e a Porta

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  - Eu passava todos os dias na minha janela tentando entender o por que de tudo aquilo que acontecia ao redor de Thália. E porque ela sentia tanto medo. E com o passar de dois mêses consegui fazer amizade com ela, ela virou minha melhor amiga, passávamos todas as manhãs juntas, e ela me contava tudo que se passava em sua vida. A porta do inferno que ela tanto temia que seu pai a levasse era uma porta de pedra, com uma gravura de um dragão cinza. - Olívia parou por um instante pra beber água em sua garrafinha e eu e Mallya nos entreolhamos com um olhar pensativo, acho que esse dragão é o mesmo que eu e ela encontramos, em seguida Olívia continuou - Essa porta se abria e dava acesso a um porão cheio de flores e que escondia armas de vários tipos, eu nunca soube exatamente se os pais dela eram assassinos de aluguel mercenários ou serial killers, mas sabia que eles batiam e torturavam a Thália, e que não adiantava o que tentávamos fazer pra salvá-la, a polícia nunca acreditou nas minhas denúncias e quando finalmente acreditavam, a menina com medo dos pais dizia que sofria de depressão ou que caiu e protegia a reputação dos pais torturadores. Depois de um mês inteiro que eu passei tentando salvar a menina, ela se apaixonou por um garoto da escola, sim ela ia a escola, mas se isolava e não conversava com ninguém, tanto por ela ter medo dos pais, quanto pelas pessoas terem medo dela. Um ano depois, que o namoro deles estava forte e que eu já sabia muita coisa, a Thália disse que ia passar o aniversário de namoro com Daniel Mason, eles iam passar o dia inteiro juntos, na nossa amizade, a Thália sempre foi muito aberta comigo, e eu sabia tão bem quanto ela que o seu pai estava rondando demais cada passo da menina, e que quase pegou Daniel várias vezes, mas mesmo assim eles marcaram de se encontrar. Naquele dia em que eu vi Daniel entrar na casa de Thália, depois que o pai dela chegou a noite, eu nunca vi o menino sair de lá de dentro. Quando as três horas da manhã chegou, meus pais me acordaram assustados, a Thália tinha posto fogo na própria casa e a chama estava se alastrando e afetando as outras casa da vizinhança. - Olívia suspirou pesadamente, seu olhar fixo nas mãos parecia perdido, mesmo assim eu e Mallya não hesitamos a perguntar.
  - E não aconteceu mais nada depois? Ela simplismente incendiou a própria casa? - Perguntamos juntas e Olívia negou com a cabeça, dando a entender que ainda tinha mais uma parte da história para ser contada.
  - Eu contei tudo que eu sabia para as autoridades, da minha amizade com a menina e sobre o Daniel que não foi mais visto. Mas ninguém acreditou em mim, alguns até me chamaram de louca, não haviam provas para incriminar os pais da Thália, Daniel não contou para os pais que tinha uma namorada, por isso foi simplesmente dado como desaparecido, e a porta do inferno, com a gravura de dragão nunca foi encontrada. Eu também nunca a vi, mas eu sei que Thália não tinha mentido sobre a existência dela pra mim. Mas a minha tristeza e indignação era tanta por ninguém ter acreditado em mim, que eu nunca mais falei sobre o assunto com ninguém. Seis anos depois, eu estava saindo de um baile de máscaras da escola e pelo fato de estar bêbada eu entrei na casa, só porque criaram várias lendas sobre ela, e entrei lá pra praguejar e chorar pela morte injusta da Thália e do desaparecimento do Daniel. Naquela noite que parecia que não ia acabar eu encontrei duas coisas, mas não encontrei a porta do inferno com a gravura de dragão. A primeira coisa foi apenas uma impressão por estar embriagada demais, pensei ter visto a Thália e o Daniel pedindo socorro envoltos num campo de rosas brancas, mas era apenas uma alucinação. E a segunda coisa foi uma carta, quando a casa pegou fogo disseram que a Thália se suicidou mas que não havia deixado nenhuma carta, eu achei essa carta e uma foto, embaixo da cama onde a Thália dormia, com as bordas queimadas, mas dava pra ler as palavras e frases e eu reconheci a letra dela, e além do mais, a foto era de uma porta, a porta com a gravura de um Dragão. Mas eu não mostrei a ninguém, fui dada como louca uma vez e como aquela carta parecia não fazer tanto sentido, eu apenas a publiquei como um livro, com o pseudônimo de Thália River. Publiquei em homenagem dela, e só existem duas cópias desse livro.
  - E onde estão?? - Indagamos eu e Mallya em uníssono e Olívia abriu sua gaveta e tirou um livro de lá de dentro.
  - Um na minha casa e o outro na minha gaveta. - Respondeu mostrando o livro. Na capa havia uma foto de uma porta, com uma gravura de um dragão de pedra. Com um título bem saliente no rodapé: O Rouxinol e a Porta.

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