81 - Regenerar

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  Escutei um miado, mas parecia distante. Respirei fundo e me mexi tentando tatear alguma coisa, mas algo felpudo agarrou meu dedo, tinha garrinhas que faziam cócegas. Escutei mais um miado e então abri os olhos. Demorou um pouco pra me acostumar com a claridade, mas em questão de pouco tempo reconheci onde estava.
  Eu estava na enfermaria da escola, mas por que? Como eu vim parar aqui?
  Parei de pensar nisso quando vi um par de olhos brilhantes me observando, estava escondido entre dois travesseiros ao meu lado, era o gatinho. E não era só isso, o lugar onde eu estava deitada estava com travesseiros nas beiradas e nos pés. Como se fosse a minha cama, toda forrada com travesseiros, como eu sempre faço pra dormir. Mas como eu vim parar aqui...?
  - Você acordou. - Uma voz calma disse e eu me sentei com tudo na cama olhando a sala ao redor assustada, meu coração até tinha disparado com o susto, o gatinho pulou pro lado com a minha reação, mas as pessoas que estavam lá eram a Mallya e o Mark, ela preocupada e ele com um sorriso calmo nos lábios.
  Assim que me viram vieram até a cama e eu reparei que não havia mais nenhum machucado no Mark, nem no rosto e nem nos braços. Foi então que me lembrei das coisas que tinham acontecido. Da briga. Daquela garrafa quebrada, e do momento em que eu me machuquei. Assim que me lembrei eu ergui a camiseta, tateando minha barriga, não tinha nada, muito menos sangue ou sequer uma cicatriz.
  Sem entender minha preocupação o gatinho estava vindo até as minhas mãos, se aproximando enquanto ronronava.
  - Mas o que? - Perguntei e a Mallya me abraçou carinhosamente.
  - Você não sabe o susto que me deu! - Disse ela e Mark se sentou ao meu lado na cama, me fitando calmamente com um sorriso acolhedor. Ele parecia diferente, parecia ainda mais bonito e feroz, se é que isso é possível. Como ele consegue ser lindo assim?!!
  - Mas... Pera, por que eu estou desse jeito? Eu podia jurar que me machuquei pra caramba antes de...- Perguntei confusa, eu não estava conseguindo entender por que eu não estava machucada - Eu desmaiei?
  - Calma Alícia, eu vou te explicar tudo. - Falou Mark tentando me acalmar, isso só me deixou ainda mais confusa. Eu suspeito que talvez o Mark tenha algum poder de regeneração já que ele é uma criatura sobrenatural poderosa pra caramba, mas algo não estava batendo com o meu raciocínio, por que senão quando fomos atacados pelo lobisomem eu teria me curado junto com ele, não é? Mas isso não aconteceu, na verdade nem depois do que aconteceu no carro não houve recuperação sobrenatural nenhuma, então como isso aconteceu?
  - Eu me lembro da sensação da garrafa quebrada perfurando a minha pele, então como agora eu to bem? Assim do nada?? - Perguntei confusa olhando do Mark pra Mallya, mas foi Mark quem se pronunciou.
  - Alícia - Disse Mark - A questão é que pra me regenerar eu preciso me alimentar... - Mark fez uma pausa e eu franzi o cenho.
  - Como assim se alimentar? - Indaguei e seus lábios se curvaram numa linha fina, o sorriso foi diminuindo.
  - Eu acho que talvez você não queira saber agora. - Respondeu ele e eu percebi que a Mallya ficou tensa do meu lado. Ela sabe. Ela sabe de alguma coisa.
  - Fala pra ela Mark, ela não vai te julgar. Mas antes eu vou sair daqui. - Avisou Mallya saindo de perto de mim e Mark ficou indignado.
  - Como assim sair? E se ela me matar? - Indagou ele e eu fiquei séria, estou com a sensação que isso é grave, pra Mallya querer sair assim...
  - Eu vou avisar o BamBam que a Alícia está bem, fique calmo, a Alícia não vai arrancar sua cabeça, foi por uma boa causa. - Se explicou Mallya e saiu da enfermaria, sem dar tempo de Mark falar mais alguma coisa.
  Me voltei pra Mark e cruzei meus braços, esperando pela resposta. Porém Mark se limitou a pegar o gatinho e o puxar pro colo, ele pareceu gostar de receber atenção e começou a pedir por mais. Enquanto isso eu esperava ansiosa.
  - Bem, você sabe que eu sou um cavaleiro do apocalipse, e que sou da morte. Então já provávelmente imaginou o que eu causo. - Respondeu Mark e então levantou os olhos pra olhar pra mim - Eu apenas me alimentei da energia de duas pessoas que morreram. - Disse e eu senti meu coração se acalmar, eu esperava coisas piores, mas isso? Eu acho que não tem nada de errado. As pessoas já morreram mesmo. Não pera, tipo, parando pra analisar, isso quer dizer que ele se aproveitou de cadáveres pra repor suas forças, mas isso não parece tão errado, é o que ele faz normalmente, não é?
  - Tudo bem. - Falei tentando evitar o silêncio - Mas por que você está falando como se fosse ruim? - Perguntei e Mark pegou seu celular no bolso, mecheu em alguma coisa e me entregou. Estava na câmera. Mesmo sem entender eu peguei e olhei para a minha imagem, e depois de reparar no quanto meu cabelo estava bagunçado, eu vi. Ao lado do meu pescoço, perto da jugular, um símbolo estranho, foi então que percebi, que aquelas linhas curvilíneas e levemente onduladas em alguns cantos, nada mais eram do que uma foiça, a foiça que o Mark usa quando está transformado naquela criatura esquelética.

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