96 - Parto

532 77 7
                                    

  O homem sacou uma faca, e enterrou ela na barriga da minha mãe, sem hesitar. Eu gritei alto, sentindo alguma coisa no meu ombro, mas eu não consegui ver machucado algum em mim. Em seguida escutei a mulher gritar alto, tomada pela dor, o que me fez voltar a olhar pra dentro e então os olhos dela ficaram totalmente negros.
  Minha mãe levantou da cadeira, as roupas rasgadas que ela estava vestindo se incendiaram, e dali surgiu um vestido vermelho que nem fogo, com uma abertura que deixava a perna direita a mostra. Parecia uma armadura, com detalhes na cintura e no busto. Das costas dela saíram asas grandiosas e belas, em tons de vermelho e laranja, o colar que ela tinha no pescoço brilhou e nos braços dela surgiram braceletes de ouro, e quando a transformação acabou ela abriu um sorriso, e o chão tremeu.
  Os homens começaram a se esperventar, correndo de uma lado para o outro, mas ninguém escapou, uma luz forte atingiu os meus olhos, e correndo de um lado para o outro dentro do cômodo um Dragão enorme surgiu. Arrancando cabeças com suas garras, até chegar no líder dos homens, o homem que esfaqueou a barriga da minha mãe. Este foi pego pela garganta, as garras do grandioso Dragão atravessaram a garganta do homem e o levantou do chão, colocando-o na frente da minha mãe. Praticamente o entregando como um troféu, enquanto o homem se engasgava com o próprio sangue e esperniava desesperado, cheio de medo.
  Com um sorriso ainda mais largo, e uma graciosidade fora do comum, ela sacou uma adaga da cintura e rasgou, do peito pra baixo, cada extensão de pele que havia no homem. E então ele caiu no chão todo ensaguentado e tendo convulsões enquanto seus órgãos saiam pra fora do corpo, junto com uma grande quantidade de sangue. Mesmo distante e não tendo como entrar na casa, eu podia sentir o cheiro de sangue, mesmo sem estar perto, eu podia imaginar aquele cheiro metálico que parecia se infiltrar pelas narinas, subindo direto pro nariz, e me dando ânsia.
  Depois de tudo, minha mãe colocou as mãos na barriga, respirando com dificuldade, ela foi até o Dragão, e ele começou a fazer uma espécie de ninho no chão, com os corpos dos mortos, e então cuspiu fogo nos corpos, e como se não bastasse, minha mãe foi até o fogo, entrando nas chamas e se deitou sobre as cinzas. Ela não se queimava, era como se o fogo e ela fossem um só.
  Começei a sentir falta de ar de novo, tentei me escorar no parapeito da janela, o Dragão estava ajudando a minha mãe, dando suporte pra ela, queimando mais e mais coisas, todas as roupas ou acessórios que estavam pelo chão, tudo que estivesse pela frente, mas quando o fogo tocou a rosa negra ela permaneceu intacta.
  Eu queria continuar a ver, eu estava prestes a nascer, e eu queria continuar assistindo pra saber o que ia acontecer depois, mas minhas pernas cederam e eu cai no chão, sem conseguir mais me levantar, meu corpo não correspondia mais aos meus comandos, eu estava cada vez mais sem ar.
  Escutei mais gritos da minha mãe, gritos altos, carregados de dor enquanto eu sentia o desespero me afogando.
  O ar não voltava mais para os meus pulmões, eu tentava puxar e não conseguia, nem entrar ar e nem sair.
  Até escutar o choro de um bebê. Todo o meu ar voltou, eu consegui sentir meu corpo novamente, livre, tomado pela leveza, e enquanto o ar voltava para o meu pulmão eu escutei a voz dela, da minha mãe.
  - Eu te amo Mally... - Ela estava chorando, pelo jeito que falou, deu pra perceber que estava feliz, que estava chorando de felicidade. Meu coração se apertou, e eu senti como se alguém tivesse puxado o mundo ao meu redor, como se fosse um tapete, e então eu acordei.

  Inspirei todo ar que conseguia, e meus olhos abriram, comecei a tocir, as palmas das minhas mãos estavam ardendo, eu estava em algum lugar, mas meus olhos não conseguiam me dar visão, estava tudo escuro, tateei desesperadamente o solo ao meu redor, e só pude sentir lençois e cobertores, edredons e até mesmo um travesseiro, até finalmente sentir os dedos dele, se entrelaçando nos meus, senti suas asas me guiarem, e quando percebi eu ainda estava com os olhos fechados, por isso eu não estava enxergando, o mais estranho é que eu podia jurar que tinha aberto os olhos antes.
  - Está tudo bem, eu estou aqui Mallya. - Sussurrou uma voz rouca perto de mim, e então eu finalmente abri os olhos, avistando Taehyung na minha frente. Meu coração estava na garganta.
  Olhei ao redor buscando me lembrar onde eu estava e o que tinha acontecido, aos poucos recobrando a consciência. Eu ainda estava na casa do Tae. No quarto dele, e no atual momento, no colo dele, enquanto ele me envolvia num abraço, tanto com seus braços quanto com as suas asas negras.
  - Eu estou aqui, está tudo bem. - Falou Taehyung e eu abraçei ele, com as lágrimas descendo, a voz dela, a voz da minha mãe falando que me amava, dizendo isso feliz, estava na minha cabeça, e jamais sairia de lá. Agora eu sei a verdade, minha mãe me amava, e sempre me quis.

PRISON IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora