63 - Raízes Antigas

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  - E como uma pessoa esquece que tem um gato? - Indagou me acusando, se segurando pra não rir e eu me aproximei dele pra fazer carinho na cabeça do gatinho, o de estimação.
  - É que eu e a Mallya adotamos ele e o BamBam trouxe ele pra cá hoje, mas eu tinha me esquecido disso. - Respondi e Mark pareceu compreender.
  - E agora essa coisinha fofa vai dormir com a gente? - Perguntou Mark colocando o gatinho no colchão, a criaturinha peluda estava preguiçosamente se esparramando no lençol, deitando para voltar a dormir.
  - Acho que sim. - Assenti e me deitei novamente, coloquei o gatinho do meu lado e Mark se deitou na minha frente, me abraçando de novo. O gatinho que estava entre nossos corpos se acomodou perto da minha barriga. Em pouco tempo eu e Mark estávamos caindo no sono também.

- Mallya on-

  Me levantei do chão, eu estava com sono ainda pra ter coragem de levantar, mas algo havia me acordado e eu não ia conseguir voltar a dormir, então o melhor era despertar de uma vez. Estava com muito frio e mal sentia meus dedos. Por um instante eu pensei que estivesse no meu quarto, mas depois eu percebi que eu estava dentro de um buraco, na neve, tinham várias pedras espalhadas pelo chão e eu estava nua, mas esse ainda não era o fator mais confuso, o mais confuso era que eu não era mais uma adolescente, agora eu estava pequena, como se estivesse nos meus três anos de idade. Como se minha vida tivesse voltado no tempo, e eu estivesse de novo morando na floresta.
  Com meu pequeno corpo enfraquecido e fragilizado pelo frio devastador, eu me virei para trás e olhei o buraco onde havia caído. Como eu vim parar aqui?
  Andando com um pouco de dificuldade por não estar sentindo os meus pés completamente, eu fui até uma das paredes do buraco e tentei subir em algumas pedras, eu queria sair dali, mas na minha falha tentativa eu apenas consegui ralar o joelho. Meu pé escorregou e eu cai no chão.
  Impotente e sem saber o que fazer eu comecei a chorar, o meu machucado estava ardendo e gotinhas pequenas de sangue começaram a manchar a brancura da neve, eu queria sair dali, parecia estar começando a anoitecer e eu estava com medo.
  Mas de repente eu escutei algo sibilar entre as pedras no chão, com medo eu me virei para as pedras, encarando o local de onde tinha vindo o barulho. Eu já havia escutado isso antes, mas não sabia que estava tão perto de mim.
  De repente uma criatura bela e ameaçadora saiu debaixo das folhas secas, ela era grande, muito maior que eu e se rastejava no chão. Eu sabia que já tinha escutado isso, era uma cobra.
  Suas cores realçavam enquanto ela vinha na minha direção lentamente.
  Na parte superior a cor preta predominava, mas embaixo ela era laranjada, era linda, mas não parecia nem um pouco amigável, se aproximando e sibilando enquanto mostrava sua língua com uma fenda no meio.
  Eu recuei até a parede de neve do buraco, já imaginando que assim que ela tomasse uma distância favorável entre nós duas daria o bote. Mas quando ela se aproximou o suficiente para me fazer pensar que seria atingida, um uivo de um lobo interviu sobre o ataque. De repente um rosnado e logo depois um lobo preto pulou dentro do buraco onde eu estava, ele avançou na cobra e a derrubou para longe, em seguida deu patadas nela e a estraçalhou com os dentes, até arrancar a cabeça do animal fora.
  Ao terminar ele se virou para mim, com um olhar pesado que me fez cobrir meu próprio rosto envergonhada. Ele queria dizer: você não deveria ter saído do lugar onde eu te deixei. E eu sabia que ele estava bravo porque eu desobedeci ele.
  Tirei as mãos do rosto e fui abraçar o lobo preto, eu estava morrendo de frio e mesmo assim não me importei com o fato de seu focinho estar cheio de sangue.
  O lobo preto pulou pra fora do buraco e depois voltou pra dentro, trazendo consigo um cobertor que segurava com os caninos afiados. Eu me enrolei no cobertor e montei nas costas do lobo. Depois ele pulou pra fora do buraco novamente, e eu fiquei abraçada no pescoço peludo dele, me esquentando enquanto ele me levava de volta pra toca.

  Abraçei o corpo na minha cama, me aninhando em seu peito, mas não parecia mais ser o meu lobo e quando eu abri os olhos percebi que eu havia tido um sonho, na verdade era mais uma lembrança, eu não estava mais na floresta, eu não estava mais com o lobo. Agora eu estava deitada na minha cama, de volta à minha realidade, e abraçada com o Tae. Os cabelos cinza caindo nos olhos fechados dele. Uma saudade inesplicavel me assolou o peito, o lobo no meu sonho era o lobo que cuidou de mim quando eu vivia na floresta. E eu sinto tanta falta dele. Acho que já tem um ano que eu não vou visita-lo. Olhei o quarto ao redor e percebi que já havia amanhecido. Tae ainda estava dormindo. Eu acho que vou esperar ele acordar e vou dar um passeio pela floresta hoje, quero ver se encontro um velho amigo peludo. Quem sabe eu dou sorte.

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