Capítulo 60: Ponto de conversão

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Enquanto estava sentada em sua mesa pensando em tudo o que vira e ouvira, foi surpreendida com a chegada de Mercedez e Leontine. Ambas sentaram-se e começaram a conversar animadamente com Cláudia. Mas apesar de ser uma boa jogadora, era perceptível certa ansiedade vinda de Mercedez, que a certa altura colocou as cartas na mesa:

— É, não tem nada a ver com meus sistemas e robôs, o problema é com o velho!

— Conflito de interesses? – arqueou a sobrancelha enquanto bebeu o vinho.

— Tsc! – abriu seu zippo e acendeu o cigarro — ele anda tendo problemas com os sócios.

Leontine fez uma discreta expressão de surpresa. Cláudia sentiu que perdia alguma informação na conversa.

— Aquele porra louca não está tão acostumado a lidar com os sócios americanos – apontou com o queixo à sua volta – e não contava que precisaria ser mais rígido com os números.

— Problemas de ordem contábil?

Eram. Mercedez comentou por alto que há qualquer coisa em seus cadernos que seu pai não está organizando direito, e que estão fazendo parecer que ele está querendo dar o cano em certas "partilhas" dos negócios, coisa que ela afirma – que o próprio Medeiros a teria afirmado – que ele não está fazendo.

— Se tem uma coisa que aprendi é que a civilidade dos yankees não é sinônimo de bundamolice. Quando o negocio feder, eles só vão cortar a cabeça do meu pai, simples assim. Sem alarde, mas sem misericórdia – deu de ombros e comentou em direção à Leontine – não é assim que eles fazem?

Cláudia concluiu com isso a suspeita de que Mercedes se referia à Seth e seus outros sócios (entre eles, certamente, West) e em sua mente rememorou a conversa que teve com Elisa, que a procurou para que intercedesse com o cabeça do esquema. Mercedes estaria fazendo a mesma coisa, indiretamente?

Cláudia deu alguns conselhos contábeis básicos e Mercedes perguntou se ela não poderia dar uma olhada nas contas pessoalmente.

— Você é a única pessoa que posso confiar pra isso.

Ela não pode recusar. Sentia a aflição da garota, e não queria que um incidente acontecesse entre aqueles homens "selvagens", conforme as palavras da esposa de Christus.

— Vamos combinar um almoço e você me passa o que precisa, querida – Cláudia sorriu e se levantou, pedindo licença para uma ida ao banheiro e se afastou do barulho das vozes misturadas à musica de fundo e louças sendo usadas, aos poucos deixando as luzes da festa para trás. Em busca de um abrigo. Ou de um banheiro, daria no mesmo.

***

Mal ouviu os passos quem vinham em sua direção quando chegava próximo a porta do banheiro.

— Ah, Cláudia...

A contadora também se surpreendeu com a presença de sua amiga Rebecca e por um segundo as duas hesitaram, querendo ceder a vez à outra. Sorriram sem graça diante os movimentos desentrosados.

Suspiraram fundo quase ao mesmo tempo e se encararam. Cláudia decidiu tomar a frente e abriu a porta, puxando a amiga para dentro conformada.

— Também tava procurando pegar um ar? – falou após uns instantes de silêncio.

Rebecca fez uma careta. Cláudia olhou a sua volta e ambas desataram a rir.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora