Capítulo 25: Depois do atentado.

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Ainda não eram dez da manhã e Maguire sentia um sono imenso só de olhar aquelas pastas com tantos casos. Riu-se ao lembrar dos colegas novatos que reclamavam das horas que deviam ficar na delegacia. Todo mundo acha que a vida do detetive de homicídios é ficar na rua o tempo inteiro, buscando suspeitos, atendendo ocorrências e interrogando. Nada disso. Dezenas de folhas pra preencher, e se isso não fosse feito, de nada adiantava toda a correria da rua.

— Cara, as vezes eu queria ser um daqueles policiais de filmes dos anos 80...

— Há há, a vida só acontecia quando tinha ação, no resto do tempo a gente nem sabe o que aqueles caras faziam! – gargalhou Batista, acometido pela mesma sina.

— Dormiam, sei lá! Imagina, enquanto não acontecer algo importante ou interessante na sua vida, você simplesmente desligar, dormir e deixar o filme rolando.

Riam da conjectura de Maguire. Seria bem estranho, mas de alguma forma era uma ideia interessante.

Maguire tem sua atenção chamada pelo telefone celular tocando. Ele fica meio sem graça, pois havia esquecido de deixar no silencioso e Batista teve sua atenção chamada. Olhou com cara de zombaria para o parceiro. Virando-se para o outro lado e falando baixo, ele atendeu. Era Claudia com a voz trêmula.

— O que houve?

— Atiraram... na gente, na entrada do prédio.

— O que!? – ele exaltou a voz.

— Tá tudo bem, o diretor tava junto, me ajudou . O Jimmy também mas...

— Eu tô indo ai, chego em meia hora, dependendo do transito. Mas já to saindo!

— Sério? Obrigada!

Desligaram o telefone e Maguire olhou para Batista, que o encarava com uma cara preocupada devido à exaltação do amigo.

— Eu ia fazer uma piada pela ligação da namorada, mas... pelo visto aconteceu algo.

— Essa mulher está numa encrenca que nem consegue medir...

Disse isso enquanto saia apressado. Batista apenas balançou a cabeça negativamente, lamentando a sorte da moça e principalmente a de seu parceiro, que também não tem muita sorte com as mulheres das quais se aproxima. "Todas tem algum tipo de encrenca! Esse cara gosta de problema!"

***

O banho demorou quase uma hora, mas mal sentiu o tempo passar.

Estava agora num estado de torpor estranho, semelhante ao que vivenciou na situação do sequestro. A diferença talvez, estivesse no fato que por alguns momentos dividiu a angustia com aquelas outras mulheres. E que agora, o susto foi maior. Quando lhe apontaram a arma, ela ficou com medo, mas ainda pensava "se me ameaçam, é porque querem me manter sob controle" e dai colaborou o máximo que pode. Mas agora não foi uma ameaça. Simplesmente dispararam. Ninguém disse "faça isso, se não atiro". Ela não teve a oportunidade de negociar nada. Nem mesmo saberia como se defender. Se não fosse por Seth... claro, ela lembrou que o guarda costas estaria com ela e a defenderia, mas quem o designou? O próprio Seth. Mas há algo que ela não pode ignorar; aquele homem se colocou numa posição de risco para defendê-la. Sua reação instintiva poderia ser a de proteger a si mesmo, o que seria natural. Poderia também ser a de deixar o guarda costas agir (ela mesma faria isso, pois não teria experiência para fazer de outra forma), mas o que ele fez, foi proteger a pessoa que estava ao lado dele. Esse homem tinha colhões e era generoso. Pode até ser que ele fosse um homem perigoso, como ela realmente estava convencida de que era, mas ele salvou sua vida, ela jamais esqueceria isso.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora