Capítulo 40: Vendo de cima

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Subiram até o último andar. Entraram na escada de incêndio, e foram até o alto do prédio. Além do ultimo andar. Apesar de estarem no verão, lá em cima fazia frio. Claudia abraçou a si mesma, se protegendo do vento noturno. Seth foi até a beira do prédio. Era como um muro que chegava basicamente na cintura dele. o prédio com mais de vinte andares era um dos mais altos da região, e proporcionava uma bela visão da cidade. Apesar de apreensiva, Claudia não pode ignorar a bela, e de certa forma aterradora, visão.

— É como ter o controle de tudo e ao mesmo tempo estar sozinho – Seth comentou, olhando as luzes abaixo, soltando um breve sorriso melancólico.

Claudia estava próxima a ele, mas mantinha certa distância segura (de que, não sabia, apenas não queria se aproximar demais).

— Como eu disse, quero que tenha confiança em mim. Mas sei que não posso esperar isso sem dar nada em troca, então... Você tem algo que queira me perguntar?

Ali em cima, Seth sentia-se mais seguro. Confiava em Claudia, mas não poderia confiar que o tal Maguire não tenha espalhado qualquer coisa no apartamento dela, escutas ou algo assim.

Claudia queria perguntar várias coisas, mas sabia que não deveria. Deveria esperar o que ele tinha a falar, e estava sinceramente curiosa.

Um silêncio perturbador se fez. Ele não falaria enquanto ela não iniciasse. Sentiu uma pressão enorme, havia tantas coisas que queria saber dele. Mas uma coisa não saia de sua cabeça há meses...

— Você matou o tal Big Maze — juntou coragem antes de terminar a frase, sentindo um leve arrepio — Com suas próprias mãos.

Não foi uma pergunta.

Seth continuava olhando para frente. Claudia pode perceber que ele trincou os dentes. Respirou fundo rapidamente.

— Há três anos... quase que exatamente três anos, o Brian nasceu – Seth fez uma pausa – isso foi uns meses depois da morte de Giulia... e...

Seth respirou fundo. Virou um pouco a cabeça para a direção oposta de Claudia. Ela o observava discretamente, de soslaio.

Sentiu um gosto amargo na boca. Faz tempo não fala sobre a esposa e sobre a morte do sobrinho com alguém. Afinal, o que teria para falar? Seus amigos já conhecem a historia e falar de sentimentos não é algo que pessoas como ele possam fazer assim, abertamente. Seus olhos umedecidos lhe lembravam há quanto tempo não chorava realmente. Ao menos a ponto de assumir o ato. Choro, só em sonhos ou em meio ao sono bêbado em sua cama. Sozinho. Desde a partida dela, sempre sozinho. Não ousava se revelar a ninguém, até porque, se essas pessoas que o rodeavam eram sócios ou dependentes, como ele poderia realmente se abrir com elas? Ele era a figura forte e centrada. A ele não lhe era permitido falhas, dúvidas ou abalos. Apenas Giulia o conhecia, apenas com ela se sentia à vontade.

Mas ele via Claudia, e seu instinto o guiava; ela era confiável. Estava apenas se protegendo, não poderia culpa-la, na verdade achava bom. E agora, que propôs colocarem as cartas na mesa, sentiu-se aliviado. Para Claudia, ele poderia falar sobre o que sentia.

— Ninguém sabe, mas ele foi a única coisa que me segurou naquele momento... eu não teria aguentado a ausência dela sem o nascimento dele... era como um milagre... um pequeno milagre sorridente e loirinho... — mordeu os lábios — e eu nunca imaginei que pudesse amar alguém tanto quanto eu amava aquele menino.

Claudia não o olhava diretamente, ele estava visivelmente emocionado e ela não queria ser indiscreta, entendia que para um homem que sempre mostrava controle, revelar sentimentos íntimos era algo difícil. Com os olhos baixos, ela tinha a cabeça levemente virada na direção dele. Estava prestando atenção em suas palavras, mas não o encarava abertamente.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora