Capítulo 29: Jantar em uma casa de famiglia

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Depois do expediente daquela quarta feira, Seth Cunnings passaria na casa de Claudia para irem juntos até Staten Island. Durante o caminho, ele a alertou que Paolo era um homem já idoso, mas paternal. Ele não gosta de pessoas rudes, mas também não gosta de quem não consegue manter sua posição. Para Cunnings, ela não precisaria se preocupar, certamente Paolo gostaria dela pela própria personalidade. O importante é que ela não falasse nada que não lhe fosse perguntado, pois o assunto já foi tratado, de certa forma, previamente.

Preferiram pegar o caminho pelo Brooklyn ao invés de Nova Jersey pela praticidade. Em torno de meia hora conseguiriam chegar à Avenida Longfellow. A casa ficava em um condomínio próximo ao bairro ocupado por uma maioria italiana, no final da rua, número 110. O lugar não era ostensivo como as casas dos ricaços de Manhattan, mas dada a grande área verde em uma cidade basicamente vertical, certamente denotava ser a residência de alguém rico. A casa era muito bonita e tinha uma arquitetura em estilo inglês tudor, com telhados altos e muretas de pedra, ambos de cor escura, contrastando com lisas paredes de tons claros. O quintal era imenso e havia muitas árvores rodeando a casa, que teria possivelmente em torno de vinte cômodos.

Foram informados de que Paolo estava em sua adega e pediu que fossem até lá.

Claudia e Seth foram guiados por um homem até a tal adega, que ficava no porão da casa. Enquanto desciam a estreita escada de madeira talhada, ouviram a voz de dois homens conversando. Logo viram um espaço vão com quatro paredes cheias de garrafas das mais variadas bebidas, mas predominantemente vinhos. Haviam algumas caixas de madeira no chão também, além de pequenos barris. Um homem na casa dos trinta acompanhava o que possivelmente seria Paolo, um senhor por volta dos sessenta anos, um pouco acima do peso e já ostentando certa calvície. Ao ver Seth descendo, ele abre os braços e o cumprimenta animado, falando em italiano. Seth o corresponde e os dois se abraçam. Fazia alguns bons anos que Claudia não ouvia alguém falando com ela naquela língua. Seth os apresentou. Paolo pegou a mão de Claudia entre as suas murmurando alguns elogios.

— Ele disse que você é muito bonita...

— Sim, eu entendi... – Claudia respondeu à Seth, educadamente.

Seth arqueia as sobrancelhas; não lembrava que ela soubesse italiano. Paolo também ficou animadamente surpreso.

— Bem que achei que você tem carinha de italiana! – ele deu tapinhas carinhosos no rosto dela – Qual é o seu nome mesmo?

— Claudia Cazarotto.

— Cazarotto, hein? De onde vem sua família?

— Ahn... Bem, parece que do Vêneto...

— Humm. Que interessante, não tem muita gente do Vêneto por aqui...

— Mas no meu país é comum. A maioria dos imigrantes italianos de lá vieram do Vêneto e Lombardia. Aprendi isso no curso de italiano — Piscou.

Paolo fez uma cara de surpreso. Se interessou pelo assunto. A pegou pela mão, e caminhou para uma parte da adega aonde se concentravam os vinhos.

— Pensei que fosse americana! Me conte mais, de qual país veio?

— Sou brasileira. Nasci em São Paulo.

— Seus pais são italianos? – o homem parecia interessado.

— Não, não – ela sorriu – meus pais são brasileiros. O pai da minha mãe é italiano mesmo, porque veio, digo, foi pra lá, na época da guerra. O restante é descendente mais antigo. – Claudia ia parar de falar, mas os homens estavam a ouvindo com interesse, e Paolo balançou a cabeça em sinal claro de incentivo para que ela continuasse a falar –... foram pra trabalhar no campo. Meus pais são de duas cidades de interior, São Roque e Pedrinhas Paulista, e lá é possível encontrar ainda alguns nonni que conversam em italiano. Eu não sei muito mais coisas, pois lá não temos esse costume de saber tão profundamente as origens como os norte-americanos parece que têm, até porque muitos que iam pra lá, queriam se integrar e forçavam os filhos a aprender português o mais rápido possível. Lá em casa, só minha mãe e eu falamos um italiano meio enferrujado...

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora