Capítulo 58: A família Blue Velvet

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— Ué!

Lucca tinha a expressão de quem parecia ver uma assombração.

Cláudia acabou de fechar a porta de casa atrás de si com uma cara séria e ao ver o exagero típico do sobrinho, lhe mostrou os dentes em um rosnado.

— Credo! – abraçou a si mesmo – Ainda bem que desisti de dar uma festa pros amigos, corria o risco da nossa felicidade estragar seu mau humor!

— Você não tem amigos! – rebateu impaciente.

Lucca fez um muxoxo.

Ainda, não. No plural assim, não posso dizer, mas... – não conteve sua curiosidade –porque voltou de Los Angeles num final de semana, mulher!? Não quis aproveitar, Titi?

Olhou para ele com cara de sono e nada falou, apenas seguiu para o seu quarto.

Lucca viu que suas tentativas de melhorar o ânimo (mesmo usando de certa ironia, o que era típico em sua família) não surtiram efeito e achou melhor deixar a tia curtir o resto do sábado desanimador, trancada sozinha em seu quarto.

Mais precisamente, deitada em sua cama com um roupão olhando para o teto em imensos monólogos com Claudinha interior. Por vezes Claudinha da construção civil dava o ar da graça, fazendo-a lembrar das mãos que há poucas horas dominavam seu corpo.

No mais, ao se desvencilhar dos pensamentos luxuriosos e, mesmo sem perceber, amorosos, a maioria era de grande importância para sua vida pessoal e profissional.

Deixou o cansaço lhe embalar o resto do dia e dormiu mais cedo do que o previsto, enquanto Lucca saiu para curtir a noite de sábado da Grande Maçã.

***

Acordou cedo no domingo e resolveu sair para correr. No caminho, mesmo sem Matilda, escolheu um trajeto diferente para a volta e foi treinando o seu "transpassar de barreiras". Mesmo com toda essa atividade, ainda chegou em casa as nove horas da manhã.

Mal abriu a porta e seu telefone berrava. Não era incomum isso acontecer, apenas pelo horário. E pela insistência.

— Cláudia? – a voz forte de Elisa Christus vinha pelo telefone – querida, eu te acordei?

— Ah não mesmo! – riu – eu estou esbaforida porque acabei de chegar da corrida!

— Menos mal! Claudinha, eu gostaria muitíssimo de almoçar com você hoje, o que acha?

— Ora, que convite delicioso Elisa! Vamos sim, quer sugerir um local?

— Humm, estou tentando fugir da família hoje, me ajude! Onde podemos nos esconder? – riu.

Essa era fácil. Cláudia obviamente, sabendo de certa natureza caseira de ambas nesse momento da vida, a convidou a ir almoçar em sua casa. Decidiriam o almoço juntas.

Elisa aceitou e por volta de onze horas elas já estavam andando por alguns mercados das redondezas procurando o que iriam almoçar. Mas não bateram muita perna. A gravidez avançada de Elisa não a estava permitindo ser tão ágil e resistente quanto gostaria. Mas fizeram questão de darem umas boas olhadas no que havia de verduras e frutas.

Entre comentários sobre a diferença de certos produtos agrícolas de estado para estado e até de país para país, ou sobre as preferências alimentares das pessoas próximas...

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora