Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]

Capítulo 30: A vigília de Valentine

Se havia uma coisa que Drake Valentine sabia fazer bem era observar. E correr também, seja por si próprio ou com um carro. Felizmente, checar a rotina e contatos da atraente Cazarotto era uma tarefa fácil. Tão fácil que ele não entendia essa cisma do sócio e amigo Seth Cunnings.

— Mas verificamos essa mulher desde que o Jagger indicou chamar ela pra empresa!

— Indispensável lembrar desse fato, Drake. Eu pessoalmente solicitei isso.

— Ah, bem, que seja então! Vou averiguar de novo... – desligaram o telefone e Drake completou apenas para si – Embora eu ache que a única coisa de diferente de lá pra cá, é o tal do detetive que anda de casinho com ela.

O que para ele não parecia boa noticia. Havia a possibilidade dela abrir alguma coisa pro tal Maguire. Ele bem sabe, segundo seus contatos na policia de Nova York, o tal policial paladino tem família na policia e um irmão no FBI que há um tempo estava mexendo seus pauzinhos para que o detetive saísse do departamento de homicídios e fosse para o famoso Bureau. Para ele, era certo um jogo de interesses nessa relação. Além disso, havia o interesse de Seth pela contadora, que já estava deixando West irritadiço devido aos altos gastos que Cunnings estaria tendo não só para mantê-la no cargo, mas com os tais extras de segurança e outras coisas que poderiam ser dispensáveis à funcionários da empresa. Não era bom para os negócios ele dedicar tanta atenção assim à uma pessoa de fora. Para Drake, era uma trepada muito cara pro gosto dele.

Passou mais uma semana naquela rotina de acompanhar o que a moça fazia, e pelo visto, ela não era uma mulher de grandes surpresas. O que o decepcionou um pouco, aquela cara provocante dela lhe inspirava uma personalidade desafiadora, aventureira. Ele esperava vê-la ir à alguma balada ou ao menos achar algum indicio de drogas e vários amantes (quem sabe uma amante?) no apartamento dela. Nada. Careta e caseira. No máximo bebidas, em especial vinho.

O chatão do Seth vai adorar saber disso! Que desperdício, uma mulher daquelas podendo fazer um estrago nessa cidade, enfurnada em casa ou trabalhando... pior ainda, saindo com aquele enfadonho daquele policial. Como ela não cai no sono com aquele pamonha do lado?

Porém, ela tinha coisas interessantes a seu ver, a coleção de discos dela era ótima e ele ficou muito curioso sobre a bateria que ela ainda não havia montado e deixado em um quarto que usava como escritório. Achava difícil que ela tocasse, pois não parecia ter o perfil, mas depois de considerar a quantidade de discos de grunge, punk e rock clássico, reconsiderou seu primeiro julgamento.

— Opa, perai... – um CD um tanto quanto escondido entre os outros lhe chamou atenção – The Cranberries? Ah, quem diria! Eu ouvi muito disso. – riu do seu segredo pessoal compartilhado com Cazarotto (sem o consentimento).

Sobre o escritório ele não encontrou nada relacionado a empresa. Pelo visto, Claudia não levava trabalho para casa, menos ainda documentos da empresa, o que era uma boa coisa.

Mas outra coisa lhe chamou atenção: a rotina diária dela nas corridas. Algum tempo atrás, ela não estava fazendo isso, e pelo o que ele pode observar tinha um ótimo desempenho. Isso era bom e ruim ao mesmo tempo. Observando o jovem segurança dela, Drake não acreditou que ele fosse capaz de lidar com alguma situação mais séria. E sendo ela a chefe do departamento da contabilidade, não faltariam interessados em suborná-la ou se preciso fosse (em casos extremos), interceptá-la. Essas corridas eram uma ótima oportunidade para os mal intencionados.

Esses pensamentos estavam especialmente em sua cabeça em uma manhã qualquer daquela semana. Acordou pensando nisso e quando saiu de casa pela madrugada, observando a cidade ainda fria ir ganhando aos poucos aquela cor levemente amarelada do sol da manhã, tomou uma decisão incomum. Aquelas manhãs de "vigília da corrida" lhe trazia uma sensação estranha de nostalgia. De certa forma, incomodado por isso, Drake começou a correr.