Capítulo 3: Na Taverna do Duende

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Oitava Avenida, A taverna do duende.

Ficava bem próximo ao Harlem. O lugar não parecia ser do tipo que as pessoas procurem para se divertir. Na verdade, era daqueles lugares de frequentadores diários. Ou assíduos. Nada requintado. Olhando bem no entanto, se não fossem os estereótipos das pessoas ao redor, não seria muito diferente da maioria dos bares da cidade. E esse tinha algumas mesas de sinuca.

Claudia e Rebecca notaram que a quantidade de mulheres era um pouco menor do que elas costumavam ver nos bares que frequentavam. Os homens estavam vestidos de maneira simples, com jeans e algumas jaquetas mais surradas, ninguém ali parecia preparado para uma "festa", por assim dizer. Elas entraram discretamente, mesmo assim atraíram alguns olhares.

A decoração do bar era semelhante ao que elas estavam antes. Menos bem cuidada. Também era um pouco mais escuro e tinha fumaça.

Claudia passou os olhos pelo local e conseguiu identificar Maguire. Ao lado dele, um homem em seus trinta e poucos anos, bem apessoado e de traços latinos típicos dos descendentes de mexicanos.

— Ali Becky, tá vendo aquele moreno? É o seu!

— Oh! Bem, vamos lá!

Rebecca não estava muito acostumada com esse tipo de saída, mas se animou. O tal amigo era mesmo bonito, muito embora ela nunca tivesse saído com um latino; os achava estranhos. Maguire as viu e acenou. Elas caminharam até a mesa para sentarem-se com os dois.

Os quatro começaram a conversar com pouca desenvoltura. Batista, o amigo de Maguire, era extrovertido, mas Rebecca realmente parecia travada. Depois da apresentação e de uma bebida, Claudia sugeriu que eles fossem jogar sinuca.

— Bem, senhoritas e Maguire... vou deixar escolherem as duplas. Afinal eu sei que entre nós dois aqui, sou o melhor...

— Ah, sim, certo... cinco a três, mais dez tiros de tequila, te lembra alguma coisa, mi amigo?

— Tsc... no amigo, tsc... não se deve comentar sobre fatos que as pessoas à volta desconheçam. É falta de educação. Igual falar, em um grupo, um idioma que a maioria não fale, sabe como é?

— É sim, sei... educação esmerada vindo à tona em momentos oportunos, mas que seja! Moças, sou muito bom nisso aqui! Vocês escolhem!

Maguire alcançou quatro tacos. Jogou um para Batista e os outros dois entregou para as duas moças. Mantendo os olhos em Claudia.

— Certo, eu não jogo absolutamente nada, então eu vou fazer time com o que joga melhor!

Rebecca declarou decidida.

— Assim é fácil! E eu?

— Ué, você não sabe jogar, Claudia? – disse Rebecca com sarcasmo.

Claudia ficou levemente irritada. Ela sabia do que Rebecca estava falando. Por várias vezes elas conversavam sobre o que pensavam de comportamentos masculinos e femininos, e várias vezes o fato de Claudia gostar de beber, paquerar e ter uma personalidade forte (quase sisuda às vezes) era criticado por Rebecca através de indiretas. Ela por vezes o comparava à um homem do estilo meio-oeste-americano-jogador-de-sinuca-bebedor-de-cerveja (já chegando a evocar essa imagem em uma conversa). Apesar de ser uma mulher de negócios e estar numa grande cidade conhecida por suas mulheres feministas, Rebecca carregava, as vezes sem perceber, algumas ideias terríveis acerca de papéis de gênero. Por isso, ao fazer a pergunta, usou um tom teatral que aos rapazes soou sarcástico engraçadinho, mas que Rebecca entendeu como um sinal que Claudia reprovara totalmente a intenção de brincadeira que havia insinuado. E ela ficou levemente sem graça e murmurou um "deixa pra lá" quase inaudível.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora