Capítulo 37: Uma ópera "italiana"

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Passou o sábado inteiro estragada pela noitada anterior, vagando pela casa de pijamas e descabelada, tomando doses cavalares de analgésicos e qualquer coisa que conseguisse lembrar de que curava ressaca.

Tentava puxar da memória a última vez que fizera isso, e foi há alguns bons anos atrás.

Que desperdício, preciso de mais noites assim!

Apesar das consequências, havia lá sua boa dose de divertimento. Mas apesar de saber que não tinha mais a energia de uma adolescente, ainda havia bastante o suficiente para que ela pudesse se divertir assim mais vezes. E pensando agora, ela não tinha uma vida social agitada desde que saiu do Brasil e sentia muita falta disso. Ela vivia rodeada ou pela família ou, principalmente, pelos amigos. Claro que a vida adulta dava uma freada nos encontros, mas ainda assim ela tinha o que fazer todo final de semana se assim estivesse disposta. Aqui, ela só tinha a Rebecca e por vezes sentia-se solitária. Não que a amiga fosse chata, mas ela queria mais pessoas por perto, era o mais familiar à ela, queria também que a própria amiga pudesse ter oportunidade de se relacionar com mais gente, se assim quisesse. Mas Rebecca não tinha amigos, só alguns conhecidos que Claudia nunca conheceu e que, sinceramente, a própria Rebecca nem fazia questão de apresentar nem mesmo de andar muito com eles. A noite passada, sob esse aspecto, pareceu ainda mais divertida.

Se aquele Drake Valentine não fosse um bandido, seria um amigo divertidíssimo!

Ele é divertido de qualquer forma, mesmo sendo bandido. O que não significa que ele seja bonzinho, mas que pode ser um ótimo companheiro de balada.

Ai gente, o que eu tô pensando? Eu vou ficar maluca que nem todo mundo nessa cidade, nesse mundo, nessa vida!

Dor de cabeça. Tomou mais uns três comprimidos e foi dormir. Estava bem melhor do que quando acordara, mas teria que colocar o despertador para acordá-la pelo menos às cinco da tarde. E teria que empreender uma busca quase impossível por um salão de beleza que desse um jeito básico no seu cabelo e maquiagem para que ela não fosse apontada como a gata borralheira ao lado do promissor empresário em ascensão. Estar impecável seria uma forma de chamar menos atenção.

Depois de rodar por uma hora em um bairro distante em busca de um salão desocupado num final de tarde de sábado (em Manhattan era impossível achar um que fosse), ela consegue um salãozinho no Hell's Kitchen. E enquanto a cabelereira puxa e estica suas madeixas para serem arrumadas em um elegante e com certo ar romântico penteado, com algumas pequenas tranças irregulares e pensados fios soltos, Claudia tem sua mente distante. Ela não sabe o que esperar do que virá, e isso ao mesmo tempo em que a deixa nervosa, lhe provoca um estranho torpor na forma de agir.

Seu celular recebe uma mensagem. Era Lucinha. "Claudia, seu vestido está em ordem. Deixei arrumado em cima de sua cama, junto aos sapatos e o Sr. Cunnings enviou uma caixa que deixei ao lado. Espero que se divirta! Boa ópera!" Claudia que sorria ao ler a mensagem de Lucinha, que era sempre atenciosa, desmanchou o sorriso ao compreender que Cunnings enviou algo.

Eu não estou à venda.

Aquela linha tênue que habita os esforços de um homem para conquistar uma mulher, entre a gentileza e sedução e a tentativa de conquista através de benefícios materiais, parecia cada vez mais confusa para ela. Intimamente não sabia o que pensar, se ele a estava querendo comprar ou se, por ser rico, poderia dispor de recursos diferentes para lhe dar prazer. No fim das contas, o problema mal chegava a ser esse, mas o mecanismo de defesa de Claudia precisava agir, ela precisava reunir o máximo possível de coisas ruins para reparar e pensar sobre Cunnings. Só assim ela conseguiria se afastar da sedução dele, que verdade seja dita, era feita de forma um tanto desengonçada, mas que exercia grande influência sobre ela.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora