Capítulo 14: Visitas Inesperadas

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Naquela terça feira, antes de raiar o dia completamente, os trabalhadores do porto sentiram um cheiro ruim e estranharam a forma que um contêiner estava colocado no porto e resolveram dar uma olhada. O que deu origem ao chamado que Maguire e Batista atendiam nesse exato momento, ainda pela manhã fria e enevoada de primavera.

Enquanto esperava em frente às faixas de contenção para que os peritos liberassem o local, Maguire olha distraidamente seu celular. Verifica as mensagens, as ligações e nada. nenhuma noticia dela. É no momento seguinte que o sono lhe deixa raciocinar que, na verdade, dificilmente teria algum contato de Claudia, visto que o celular dela ainda estava com ele. Ao lembrar disso, ele alcança o bolso interno do casaco e pega o tal aparelho, ao qual encara longamente. Ele ainda não havia tido a indelicadeza de ver o que continha. Depois do reaparecimento de Claudia, olhar as mensagens e contatos dela seria apenas pura curiosidade, não mais preocupação investigativa. Felizmente um berro de Batista em sua direção tira a atenção desse dilema. Eles agora poderiam entrar no local.

Ultrapassou a linha de segurança, se juntou a Batista e foram para o contêiner. Conforme se aproximavam, sentiam o cheiro que estava no local; obviamente encontrariam, o que outrora fora alguém, em decomposição.

— Tá com dor de barriga, Batista?

— Eu não, qualé?

— Tá com uma careta estranha...

— E essa sua? É de ressaca?

Nem comida estragada, nem ressaca, as caretas eram pra aguentar o cheiro podre. Mas como ambos gostavam de ser durões, preferiam deixar as caretas a usar um lenço para impedir o fedor de invadir suas narinas. O tom de provocações foi dissipado de imediato ao verem o tal cadáver: um homem negro, apenas de cueca, meias, anéis dourados nos dedos e uma corrente dourada com um pingente chamativo no pescoço. Porém, era apenas o que ele tinha. Faltava-lhe a cabeça, ou ao menos parte dela. O rosto dele estava completamente dilacerado.

— E além disso, esse cadáver está limpo. Isso daqui foi uma desova, não é o local do crime – disse o perito, adivinhando o pensamento dos detetives.

Maguire e Batista rodeiam o corpo, observando bem.

— Você quer apostar quanto que esse cara aqui é o Big Maze?

— Não entro em aposta furada, irmão...

Batista também tinha o mesmo chute que Maguire. Possivelmente aquele fosse o traficante sumido desde domingo de manhã. Pelo visto, ele tinha mesmo o que temer.

Após a visita ao porto, Maguire e Batista voltavam à delegacia, confiantes de que quando chegassem estariam com as analises de digitais do corpo que já davam como certo de ser o famoso traficante.

Atravessaram os movimentados corredores da 10 ª Delegacia de Polícia do distrito do Harlem, e ao chegar no seu andar, logo deparam com uma figura familiar. Batista o desconhecia, mas Maguire já havia visto aquele sujeito em algum lugar. George Davis, delegado desse departamento, chamou a dupla com um aceno e apresentou a tal figura; Drake Valentine. Maguire desconfia, o que eles teriam a ver com um sujeito com cara de conquistador barato?

— Ele é o responsável pela equipe interna de segurança de uma empresa chamada Blue Velvet, e tem uma autorização estadual de investigação.

— Como é que é? – Maguire encrespa, e Batista se une a ele, cruzando os braços e fazendo cara de poucos amigos.

— Senhor Davis, se me permite... – Drake se dirige ao delegado, e rapidamente volta para os detetives, com ares complacentes – Nossa empresa está em meio a uma investigação interna, pois sofremos um atentado recentemente, que atingiu alguns dos altos executivos e sócios da Blue Velvet. Estamos desconfiando do envolvimento de um grupo paramilitar, sendo assim, estamos liberando vocês do departamento de polícia local... assim, não precisarão perder tempo investigando alguns ocorridos na cidade, que estão especificados nos documentos, certo Davis?

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora