Capítulo 47: Se resolvam sozinhas

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Os dias passam e embora o trabalho, a vinda do sobrinho e sua volta para a universidade tomem bastante espaço em seus pensamentos, Cláudia não consegue esquecer a situação que a jovem Yukie terá pela frente: se casar contra a vontade com um cara desconhecido. Isso era aceitável séculos atrás, mas hoje em dia? Cláudia então lembrou-se o quanto alguns japoneses poderiam ser tradicionalistas e concluiu que sim, era possível que ainda achassem isso normal. Mas uma menina nascida e criada nos Estados Unidos, por mais que tenha a influência cultural em casa, sempre vai ser afetada pelo meio. E esse tipo de coisa era difícil pra cultura "libertária" americana entender. De qualquer forma, além da situação ser delicada por trazer um choque cultural, havia o agravante de Yukie não ser simplesmente filha de japoneses, mas de gângsteres. As leis não se aplicavam à eles como à todos, eles tinham influência na política, nos negócios, enfim, tinham seus meios de viver uma vida com a regra deles, não a da sociedade em geral.

Dividia esses pensamentos com as contagens de suas séries de musculação que Matilda a pedia para fazer sempre depois do treino. No momento de descanso, Cláudia enxugava seu suor e tomava água. No aparelho ao lado, Drake Valentine também dava conta de suas séries de exercícios. Ela o observou pensativa e quando ele também fez sua pequena pausa antes de iniciar a série seguinte, ela o abordou:

— Hey Drake... – sorriu.

Ele fez um aceno de cabeça, ainda pegando fôlego.

— Porra... tô enferrujado! – reclamou.

— Logo você recupera – Cláudia riu e emendou – escuta, você que gosta de uma festa e boates... conhece a maior parte da cidade?

Cláudia não podia dizer qualquer coisa, menos ainda revelar sobre sua ligação com Yukie Nakashima. Aproveitou do que as meninas falaram entre si quando Yukie saia para ir ao banheiro ou algo assim: "ele tem uma boate no Queens, parece que o chamam de Zegen."

Drake a olhou curioso.

— Bem – soltou uma risada – digamos que frequento as melhores, mas acho que posso afirmar que conheço quase todas... qual é o lance?

— Na verdade, eu ouvi falar de uma no Queens... de um tal Zegen. Você conhece?

Pela cara que ele fez, conhecia. E tinha algo de errado.

— Esse cara te abordou ou algo assim?

— Ahn, não eu só... – fez uma cara fingindo estranhar a pergunta dele e emendou – Mas espere, por que?

— A fama não é boa... – vendo que Cláudia não pareceria se contentar só com essa resposta, ele resolveu contar o resto, até porque, melhor saber do que não saber – Esse cara é bandido.

— Sério? Ele é perigoso? – fez uma falsa cara de espanto.

— Porra! Se o que eu ouvi falar é verdade, ele é escória... o cara é traficante de gente, dizem por aí, que tem a ver com tráfico de mulheres e prostituição lá pela Ásia.

— Mas... se ele é tudo isso, não estaria preso?

— Ah sim, isso se provassem né? – Drake riu – esse seria o pulo do gato – E voltou para sua série de exercícios.

***

Cláudia passou o dia encucada com aquilo. Traficar gente? Isso era de alguma forma, pior do que traficar armas ou vender drogas.

Quer dizer, tudo é bem ruim, mas traficar gente? É escravidão da contemporaneidade. Ainda mais exploração sexual.

Ficava enojada só de pensar, mas considerava que era possível que apesar dele ser escroto com outras pessoas, ainda teria alguma decência com a família. Ao menos era assim que costumava ser, nas histórias que ela pode acompanhar: um demônio fora, em casa um santo. Mas essa ideia a reconfortava por apenas algumas horas.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora