Capítulo 18: A rotina da Blue Velvet

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A primeira semana de trabalho foi cheia, mas basicamente de adaptação.

Depois de sua rotina pessoal de corrida e café da manhã, Claudia chegava a empresa por volta de nove da manhã, almoçava entre meio dia ou uma hora e finalizava o expediente às sete da noite.

Aproveitou as primeiras semanas para fazer seus contatos no departamento, com os colegas. A divisão hierárquica dentro de corporações era bem rígida, especialmente em uma sociedade onde processos são coisas corriqueiras. Sobretudo em lugares onde há grande competitividade, e você não tem muitos meios práticos de atestar o caráter pessoal de sua equipe. Claudia entendia esses limites e sabia também que para uma boa relação com os colegas, ela precisa ser uma figura respeitada. Mas ela não se contentava só com respeito, ela gostava de conquistar as pessoas e isso era relativamente fácil para ela. Sempre foi. Na experiência pessoal de Claudia, ela percebeu que quando os colegas tem certo carinho entre eles, costumam ser mais colaborativos. E muitas vezes conquistar a simpatia de alguém era apenas questão de tratá-la de forma gentil, perceber a presença da pessoa e dar a devida importância à ela. Para Claudia, o segredo de seu sucesso profissional era, além de sua competência e fidelidade, a empatia e reconhecimento para com os que trabalhavam junto.

Temor, ela só gostava de causar quando chegava às prefeituras para fazer suas auditorias, especialmente as de interior (antro de proliferação de famílias de políticos corruptos que acham que nunca, ninguém vai notar o que fazem com suas parcas ou pacatas comunidades), e via a desconfiança e pavor nos olhos daquele monte de funcionários contratados graças ao nepotismo dos candidatos eleitos. Mas eram outros tempos. Agora, ela poderia ser menos carrasca.

A Blue Velvet era na verdade uma empresa grande. A diferença é que a maior parte dos funcionários (pelo o que Claudia podia perceber) foram colegas de trabalho dos diretores, ou recomendados por pessoas de confiança. Todos do alto escalão eram, minimamente, bons amigos. Além disso, colaborava para o entrosamento o fato de parte deles já estar acostumados com o trabalho um do outro. Alguns vieram da sede central da Blue Velvet, que na verdade, é na Califórnia. O que explicava o comportamento de muitos dos altos executivos.

Os californianos eram, sem sombra de duvidas, muito mais amigáveis e colaborativos, o que gerava várias piadas dentro do setor. E na cidade. O pessoal da Califórnia costuma brincar com o jeito sisudo e pragmático dos nova iorquinos. E os nova iorquinos costumam desdenhar do pouco apreço à classe social/hierárquica que os californianos têm. Um dos chefes de segurança, Christus diz que nova-iorquinos são estressados e bairristas porque o máximo de praia que conhecem são os Hamptons e lá, nem tem espaço pra todo mundo, nem de perto é uma praia descente. Claudia sempre achava graça nisso, até porque concordava. Então, nos intervalos das reuniões, era comum Christus, Silva e ela falarem sobre o que era uma praia e sol de verdade e o quanto isso fazia falta para o bom humor das pessoas. Eles eram três pessoas solares no final das contas.

E o "Trio da farofa" (maldosamente apelidados pelos colegas ressentidos, do time do pró-inverno) tinha a oportunidade de espalhar a inveja entre os colegas ao menos uma vez por semana, pois essa era a quantidade de vezes que a diretoria reunia as chefias de departamento. Em geral, eram reuniões simples e objetivas, mas elas estavam constantes, pois haveria mais chefes de departamento (e mais pessoal) a serem contratados. Fora que a diretoria de administração estava desfalcada sem a liderança forte de Cristina Summers, que estava afastada devido a um atestado. Uma pena, Claudia estava bem curiosa e interessada em trabalhar com Cristina, e ela seria o diretor mais próximo de sua área.

A presença de Seth Cunnings então se tornou uma rotina, visto que precisava arcar com parte do cargo da irmã. A boca pequena dizia que o Darth Vader só descia da torre quando a coisa estava feia, então, a coisa devia estar feia. Já Cunnings dizia que, apesar de achar a referência curiosamente interessante, preferia ter como imagem o Batman, já que ele sempre sabe o que acontece devido a sua vigilância constante. "Câmeras, senhores. Somente isso, não se exaltem" explicava fazendo piada, já que trabalhavam numa empresa que desenvolvia armamentos e principalmente sistemas de segurança para a própria Defense Advanced Research Projects Agency, Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa do governo Americano, geralmente abreviada para DARPA. Para Claudia não fez muito sentido a brincadeira, mas depois entendeu que ele se referia ao fato de que, apenas via o que acontecia na empresa pelas câmeras, mas que não espionava ninguém. Vira e mexe falavam coisas assim e ela sinceramente, ficava perdida com os comentários.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora