Seth de repente não soube o que dizer para contra argumentar e sua única reação fora puxar o ar pela boca entreaberta. Tinha entendido que seu temor se cumpriria caso ela revelasse o que queria saber: sua relação com seu irmão corria risco de sofrer algum abalo. Ele não sabia o que fazer, sentiu-se imóvel como poucos momentos e situações na vida havia sentido.
O repentino silêncio de Seth denunciou que ele a havia compreendido. E pelo visto, ela julgou certo: ele não quer ter que ir contra o irmão.
Ou talvez ele não consiga ir contra o irmão. Contra a família.
Pensou enquanto encarava Seth. Mas não demorou muito senão a situação poderia ficar constrangedora. Aproveitou e saiu à francesa.
***
Assistiu Claudia sair da sala passivamente.
Sentou-se com uma sensação que não sabia muito bem definir. Estava decepcionado pela possibilidade do irmão ter feito algo contra alguém que, independente da personalidade, era conhecida de infância e ainda mais: parceira de missão. Isso era algo que nenhuma organização admite, sendo licita ou ilícita, a regra é: sempre proteja os seus.
Repassou tudo o que sabia e havia vivido com seu irmão e sentiu uma imensa raiva pela quantidade de vezes que Marcus se meteu em confusões inúteis. A explosão veio em forma de soco em sua mesa de madeira maciça. Sua mão de boxeador experiente não se afetou tanto, mas a dor o ajudou a se acalmar. Respirou fundo e foi até uma parte de sua sala, quase como um tipo de closet onde tinha um saco de areia pendurado. Tirou seu paletó e blusa calmamente, deixando apenas a regata de baixo. Vestiu as luvas e começou a socar o pesado saco de areia. No inicio, golpes pesados, que faziam o saco balançar fortemente. Em pouco tempo, sua respiração e seus socos se harmonizaram entrando numa cadência hipnótica, quase coreografada.
Enquanto pensava se realmente iria querer saber o que houve com Copas e Marcus, também lhe passava pela cabeça as atitudes tão comuns do irmão, que ele sabia (muito embora nunca admitisse para ninguém), tinha a moral frouxa. Assim como Cristine e sua mãe. Muito diferente dele e de seu pai. Mas dentre todos, Cristine e sua mãe ainda confiavam a liderança e os julgamentos à Seth. Marcus era conhecido pela ousadia turbulenta: um dos motivos de ter sido preso. Ele conhecia poucos limites e dificilmente obedecia alguém, mesmo que devesse. À parte de seus defeitos, ele ainda era seu irmão mais velho. Ainda era o cara que o iniciou nesse mundo, que o ajudou a vingar a morte do pai, que lhe possibilitou vários contatos e pontes importantes. Hoje em dia, seus negócios são independentes, mas Seth nunca seria ingrato a ponto de não reconhecer a influência do irmão em seu sucesso.
No entanto, se o motivo fosse justo, Marcus iria sofrer uma punição e ele não poderia impedir. Mas talvez conseguisse amenizar, se conseguisse manter o irmão sob controle. Deixar Marcus com seus movimentos livres lhe rendeu alguns bons anos na cadeia. Talvez fosse a hora de Seth trazer o irmão para perto, antes que ele se prejudicasse e começasse a afetar a família e os sólidos objetivos de Seth e da Blue Velvet.
Suado e já com as ideias clareadas, Seth se livrou das luvas e das roupas enquanto caminhava para o seu banheiro particular a fim de tomar uma ducha gelada.
Abotoou o ultimo botão de sua camisa limpa já a caminho da porta e sem o paletó caminhou pela empresa com seu típico andar resoluto em direção à sala da chefia da contabilidade, chamando atenção de alguns poucos funcionários mais perceptivos menos pelo cabelo molhado do que pelo fato de estar sem o paletó.
Ao chegar a frente da porta grafada com o nome "Cláudia Cazarotto" por um segundo pensou em dar meia volta e ir embora. Intimamente, sentia vergonha pela mulher que tanto admirava saber de alguma atitude deplorável do irmão.
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Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]
General FictionROMANCE + THRILLER DE CONSPIRAÇÃO Claudia Cazarotto é uma contadora brasileira que decide esquecer o turbulento passado em São Paulo e busca em Nova Iorque uma nova chance de recomeçar sua vida. Depois de dois anos sem um bom emprego, ela é...
Capítulo 44: Filhinhas dos papais
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