Capítulo 40: Vendo de cima

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Seth puxou ar. Pigarreou de leve e concertou sua postura, voltando a olhar para frente.

— Big Maze, hunf – falou com desprezo – Se eu pudesse, o trazia de volta a vida só pra macerá-lo novamente com minhas próprias mãos – apertou os punhos a ponto de se ouvir o estalo – Aquele desgraçado matou a pessoa que eu mais amei no mundo...

Virou-se para Claudia, encarando-a nos olhos, com uma expressão dura:

— O que você faria no meu lugar?

Claudia sentiu o ar faltar por alguns segundos enquanto encarava os olhos escuros de Seth, que não eram frios e calculistas, mas sim lampejavam cheios de emoções intensas.

— Eu... — desviou o olhar e voltou sua cabeça para frente, encarando a cidade que agora nem percebia estar lá — ...faria o mesmo — confessou.

Não podia acreditar no que acabou de falar.

Não soube o que pensar da sinceridade que saltou de si sem querer com uma entonação quase furiosa.

Respirava irrequieta.

Seth meneou a cabeça.

— Eu sei. Nós somos parecidos nisso também.

— Do que está falando? — bufou com incredulidade.

Seth a encarou por alguns segundos, e ela sentiu que ele lia sua mente, como havia feito no jantar alguns dias antes.

— Você é o tipo de pessoa que mataria por alguém que ama.

Claudia estremeceu.

Como ele poderia saber disso? Como poderia afirmar tal coisa? Viveram coisas intensas nesse pouco tempo, mas será que ele a conhecia a ponto de saber sobre isso?

Deu uma risada incrédula, enquanto balançava a cabeça negativamente.

— Como você poderia saber isso? – estava defensiva.

— Eu cheiro esse tipo de coisa... vejo perfeitamente do que é capaz. Pelo seu jeito de se mexer, seu olhar, suas ações, seus pensamentos... você não segue as regras dessa sociedade doente Claudia, você só se mantém adaptada... mas é uma pessoa muito intensa e fiel para se manter fria diante os acontecimentos absurdos do mundo. Você não absorveu esse sistema. E há alguma coisa de destemida em você, posso dizer até selvagem, que me diz que suas reações ao extremo não seriam de fuga, mas de ataque... posso ter vários defeitos minha querida, mas a minha maior qualidade é essa; sei ver como as pessoas são. E eu reconheço você.

Seu corpo estremeceu.

Por um momento, não sentia o vento frio em sua pele. Estava quente. Em sua testa, dezenas de gotículas de suor se aglomeravam. Ela estava ali, em cima de um prédio em Manhattan, mas seus ouvidos escutavam perfeitamente os gritos de seus amigos, o barulho dos coturnos arrastando no asfalto, precedendo os chutes desferidos nas costelas, cabeça e barriga daqueles carecas. O som surdo da ripa de madeira a bater nas costas. Os gemidos de ambos os lados. Sentiu o gosto de ferrugem em sua boca. Os passos dos carecas fugindo, correndo. Os dois rapazes no asfalto. A dor lancinante em seu dedão do pé, que havia quebrado de tanto chutar aquele corpo, agora imóvel, no chão. Foi assim que aconteceu?

Por algum tempo ecoou sua própria voz na cabeça

"ele vai pagar pelo que fez com o Max".

Sentia os braços serem puxados.

"Os canas tão chegando!"

O careca caído no chão.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora