Capítulo 37: Uma ópera "italiana"

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Claudia estava olhando para aquela pequena caixa em cima da cama já há alguns minutos, sem saber o que fazer. Ela já estava completamente pronta, cabelo e maquiagem, e vestia seus sapatos pretos preferidos e um vestido de gala alugado por Lucinha em um esforço hercúleo em cima da hora. Poderia ir embora sem olhar o que havia na caixa.

E então Cazarotto... não, Claudia, fora da empresa ele se dá essa liberdade de me chamar pelo primeiro nome, coisa que nunca assenti... e que também não impedi. Pft! E então, Claudia, o que achou do que tinha na caixa? Caixa? Não sei de caixa nenhuma, nem vi. Aí, ele pensa que a Lucinha pegou... não... Caixa? Ah, nossa, estava com pressa e nem vi. E ele faz aquela cara de cachorro sem dono cheio de elegância, mas que não consegue disfarçar, ao menos não pra mim. Aquele sorrisinho sem graça de canto de boca. E ai eu vou pensar; ah, ele fica tão lindo assim desconcertado... E vou me sentir mal. Porque obviamente, sou uma mulher maluca. Completamente doida. Claudia abra a caixa, veja o que tem e se for pra usar, use. Ele ficará felizinho e a cara dele de satisfeito é menos atraente da que a de irritado ou de coitado. Assim você não cai nessa armadilha. Isso mesmo. Não seja seu próprio inimigo. Segura a Claudinha-da-construção-civil ai dentro dessa calcinha e não a deixe se manifestar. Ela é péssima conselheira. Você não sabe o que vai acontecer, aja assim até que entenda o que está acontecendo. Depois continue agindo como se não soubesse ou entendesse. Aí, finalmente, eles não estarão prestando atenção em você, e você pode ir embora. De novo. Igual antes.

Claudia levou sua mão relutante até a caixa e a abriu.

Dentro, havia um bilhete escrito à mão, com aquela caligrafia forte e não muito bonita: "Querida, um grande amigo desenhou essa pequena preciosidade e me pediu o favor de mostra-la às pessoas. Você seria perfeita para isso. Poderia ajudar a divulgar o trabalho dele por essa noite?".

Embaixo do bilhete um colar, quase gargantilha, feito em ouro e bem estruturado. Eram como linhas que lembravam plantas, traços típicos do Art Nouveau, mas com ares contemporâneos e com um detalhe no centro; duas pequenas esmeraldas como se fossem diminutas flores ou sementes. Era elegante e discreto, incontestavelmente bonito.

Não era um presente. Claudia suspirou, mas não era possível dizer que estava exatamente aliviada. Colocou o colar e admirou sua beleza no espelho. Ficou ainda mais confusa.

Independente do que queria ou sentia, sua campainha tocou e ela seguiu para o compromisso da noite.

Que seja o que for pra ser!

***

Como sempre ele a aguardava dentro do carro. Por ele, sairia e a cumprimentaria, mas não devia se mostrar tanto. Não que fosse incomum que o homem fosse buscar sua acompanhante, menos ainda seria segredo que seriam a companhia um do outro naquela ópera, visto que qualquer um poderia vê-los lá. Mas quanto menos ele atrair olhares indesejados sobre ela, melhor. Mais seguro.

A viu sair pela porta do prédio, seguida de Jimmy. Não importa o quanto a visse, ela sempre o surpreendia. Aquela era uma mulher bela seja qual fosse sua apresentação, mas uma coisa ele tinha certeza; ela foi feita para desfrutar do melhor da vida. E ele estava disposto a oferecer todos os ornamentos para que quem ela é pudesse ser realçada.

Ela usava um vestido de gala tomara que caia e ele pensou que foi sorte ter conseguido abordar a secretária dela.

A senhorita Botelho fez um ótimo trabalho na escolha do vestido - Pensou, julgando o tom do vestido e seu modelo perfeito para usar com aquele colar, e agora que Claudia sentou-se ao seu lado, perfeito para realçar aquela cor escura e inconstante de seus olhos verdes.

Ela parecia um pouco desconfortável, mas logo essa impressão sumiu no decorrer do caminho até ao Metropolitan.

***

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora