Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]

Capítulo 18: A rotina da Blue Velvet

Durante dias a fio teve que topar com a cara de Seth nas reuniões dos setores, em reuniões com ela e pelos corredores da empresa. Tinha semanas que ela jurava que se visse esse homem mais de três vezes no dia, quando ele estivesse entrando pela porta, ela sairia correndo e se trancaria no banheiro. Ana Lúcia Botelho (sua secretária contratada, por acaso tinha o mesmo nome de sua mãe) ria quando Claudia dizia essas coisas, achando graça do jeito que ela falava (brabo e sério ao mesmo tempo). A secretária creditava essas reclamações ao fato obvio de que, realmente, é um pouco chato ter o chefe da empresa toda hora falando com você. As pessoas costumam se sentir pressionadas.

Mas o real problema de Claudia era outro. Para ela, Seth Cunnings fazia discretas (porém perceptíveis) demonstrações de interesse. Sempre que podia, ele dava um jeito de seduzi-la. Não era invasivo, não impunha nada, mas ficava lá, se exibindo sempre lindo, gentil, de dentes brancos e aquele maldito meio sorriso misterioso.

E ainda por cima fala coisas interessantes, o maldito!

Fazendo com que, mesmo sem perceber, ela conversasse com ele por vários minutos animadamente. E ele sorria, satisfeito com o sucesso de suas pequenas armadilhas. Enquanto ela falava, ele ouvia e pensava na próxima pergunta ou observação que faria, a fim de manter o interesse dela e descobrir mais a seu respeito. Depois, Claudia percebia. O xingava de vários nomes mentalmente, enquanto dava uma desculpa para se retirar (ou que ele se retirasse) a fim de cuidar dos afazeres.

No dia que ele não fazia isso, ela sentia falta, mas ao mesmo tempo agradecia.

Na primeira quinzena do segundo mês de empresa, Claudia foi chamada pela primeira vez à sala do diretor. Nunca havia precisado ir até lá, pois ele estava sempre em movimento pelo prédio. Mas naquele dia ele pediu que ela levasse alguns relatórios e apresentasse.

A sala de Seth Cunnings ficava no ultimo andar designado para a empresa, mas não o ultimo do prédio (Dizem que o ultimo andar é na verdade uma penthouse que pertence ao próprio "Cunnings-Wayne"). A saída do elevador dá em um hall grande, decorado com o mesmo padrão cinza do prédio, mas o carpete é de um azul bem escuro. Algumas obras de arte nas paredes de estilo minimalista ou concretista. E algumas esculturas de mármore e vidro, obras de arte moderna e contemporânea. Entre aquelas, Claudia pode identificar trabalhos de Donald Judd e para sua surpresa e satisfação, Max Bill (famoso artista naturalizado no Brasil).

Após um breve momento de surpresa devido à pequena, porém impressionante, coleção de arte, Claudia repara que existem duas grandes mesas ocupadas por duas secretárias. À esquerda, ficava próxima à uma porta com o nome de Summers, e à direita, ficava a de Cunnings. A secretária de Summers continuou o trabalho, enquanto a de Cunnings, já ciente da vinda de Claudia, olhava em sua direção. Era uma mulher de aproximadamente cinquenta anos, um pouco acima do peso, elegante e levemente simpática. Quando Claudia se aproximou, ela se levantou e se apresentou: Meredith Brooks. Pediu que Claudia a acompanhasse a abriu a porta para ela.

A sala era muito grande. Decorada basicamente com elementos de aço escovado, concreto armado e um ou outro toque de madeira, que ficava por conta da mesa principal de trabalho. O pé direito era alto em todo o andar, desde o hall até à sala. Além da mesa, havia uma estante com livros de um lado e outra com equipamentos eletrônicos do outro (Televisão, aparelho de som, etc.). No meio da sala, um jogo de sofá de três lugares, dois lugares e uma poltrona, todos em couro preto. Era tudo bem sóbrio, elegante e masculino. Tudo em tons acinzentados. Mas com um destaque incrível para um quadro abstrato todo em tons vermelhos, atrás da mesa do diretor, o que conferia uma iluminação especial àquela parte da sala. Fora a beleza da decoração, a única coisa que chamava mais atenção no lugar eram as janelas que ocupavam uma parede inteira do chão ao teto.