Capítulo 75: o verdadeiro rato

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Apesar de estarem os dois distantes, trocaram algumas amenidades. Ele continuava trabalhando muito como sempre, mas andava com uma rotina bem melhor. Ela tinha passado umas férias no Brasil com a família.

— Você soube da boate, é claro.

— Uma tragédia daquelas...

— Mas agora que não tá mais na homicídios, não deve ter nenhum envolvimento com essa investigação né?

— Não diretamente — ele fez uma pausa longa – ...mas você já parece saber disso.

Claudia soltou um ar pelo nariz como se isso fosse um riso irônico.

— Bem, você sabe... uma teoria é criada em cima de uma possibilidade que a gente acredita que exista. Mas para comprová-la, precisamos de provas. O principio de Ockham coloca que dentre todas as respostas, a tendência, a grosso modo, é que a verdadeira necessita menos variáveis, a que, digamos assim, segue o fluxo de forma mais "natural".

— A solução poderia estar na hipótese mais simples e não na mais rocambolesca.

— Certo. E por muitas vezes ela é utilizada para identificar algo que pela simplicidade (ou obviedade) extrema, é possivelmente uma teoria falsa ou simplista.

— A resposta pode ser uma, mas não significa que seja aquela?

Claudia levantou os ombros em concordância.

— E é claro, para escrever uma boa história de detetive costuma se começar pelo final. O autor sabe aonde quer chegar e por isso cria todo o caminho para aquele fim. Quando começamos a ler não percebemos, mas tudo foi bem definido e pensado. É um tipo de engenharia reversa.

— Por isso que criar provas algumas vezes pode ser bem simples – Maguire provocou.

— Mas só se você tiver toda a visão do enredo, conhecer todos os caminhos com menos obstáculos – ela respondeu o que ele queria ouvir — Por isso que informação vale ouro e quem tem não compartilha, não é?

Sorriu sem alegria. Pegou uma coisa dentro de sua bolsa, um tipo de pendrive e colocou em frente ao detetive.

Olhou para aquele objeto com desconfiança, embora já imaginasse o que iria encontrar dentro. Levantou o olhar duro para Claudia.

— Eu não acredito em tudo que uma fonte me passa.

— Não pensaria diferente de você.

— E não me deixo manipular, nem mesmo por você.

Claudia sorriu ao se levantar, e antes de sair completou:

— Conto com isso.

***

— As fotos ficaram boas? – a menina perguntou animadamente quando Claudia entrou no pequeno laboratório, ou como ela apelidou em outra ocasião o almoxarifado da skynet. Era uma sala sem janelas que media por volta de três por três metros, mas ocupada quase inteiramente de cabos, placas, monitores, telefones e mais uma sorte de aparelhos difíceis de descrever a função exata.

Claudia sorriu confirmando. A menina ficou um pouco mais tranquila, quando a viu no dia anterior ela passou a impressão de ser uma mulher horrível.

— Sendo justa, estavam impressionantes.

A menina sorriu.

— Bem, enquanto eu não posso ter meu próprio satélite, os colegas ricos e governos que me perdoem, mas vou pegar emprestado o deles mesmo! Mas oh, — ela se interrompeu – tem mais tarefa pra mim certo? – levou um susto quando virou a cadeira e reparou que atrás de Claudia tinha uma moça que mascava um chiclete ruidosamente.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora