Capitulo 153

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Kendra Archeron

O alvorecer chegou, dourando as névoas baixas que serpenteavam sobre as planícies das terras mortais. Hybern devastara tudo, desde a Corte Primaveril até os poucos quilômetros em frente ao mar. Inclusive a aldeia onde vivi com minhas irmãs. Não restava nada além de cinzas fumegantes e escombros quando marchamos por ali junto ao nosso exército.

Era um ataque pessoal. Todos sabíamos. O rei ordenara que o rebanho da família fosse morto. Feyre havia retirado os cães e os cavalos na noite anterior — assim como os criados e as famílias. Mas as riquezas e os pertences pessoais foram saqueados ou destruídos. Não fariam falta de qualquer forma.

O s exércitos de Hybern não ficaram para dizimar o que sobrara da casa, sugeria que o rei não queria que nos aproximássemos demais. Era óbvio, ele estabeleceria sua vantagem, escolheria o campo de batalha certo. Não tínhamos dúvidas de que encontrar as aldeias vazias pelo caminho tinha intensificado seu ódio. Esvaziar as aldeias, contou Feyre, em tese era um feito mais fácil em que na prática.

Isso também era óbvio, com um exército do tamanho do nosso e composto de tantos soldados com treinamentos diferentes, com tantos líderes dando ordens a respeito do que fazer era dificil manter as rédeas de todos. Os illyrianos testavam os limites, puxavam a coleira, mesmo sob o comando rígido de Devlon. Estavam irritados porque precisávamos esperar os outros, por não podermos simplesmente voar à frente e interceptar Hybern, impedir suas forças antes que pudessem escolher o campo de batalha.

No intervalo de três horas, Cassian ja havia dado uma bronca em dois capitães diferentes, o ajudei a realocar soldados resmunges para puxarem carrinhos e carroças de suprimentos, tirando de alguns a honra das linhas de frente. Assim que os demais viram que o general era sincero em cada palavra, cada ameaça... as reclamações cessaram.

Keir e os Precursores da Escuridão observavam a mim e a Cassian ao longe, era nítido, mas estes foram sábios o bastante para guardar qualquer insatisfação longe da língua, da expressão do rosto. Para continuar marchando, a armadura escura ficando mais enlameada a cada quilômetro.

O couro de combate illyriano se agarrava ao meu corpo, os pés afundando na lama e o calor os esquentando deixava tudo bastante incomodo. Não importa o quanto eu ja tivesse passado por situações parecidas, fosse no tempo em que eu morava com minha família naquela aldeia lamacenta de pobres pelas vezes em que caçava minhas vítimas do lado humano ou pelo tempo em que passei no rito, a sujeira sempre me incomodou. Na guerra era inevitável, eu sabia, mas meu descontentamento era notória assim como o dos illyrianos mas ao contrário deles eu não me importava com a glória da batalha, queria apenas que tudo acabasse para que assim eu pudesse tomar um banho decente na minha casa.

— Vai reclamar sobre esperarmos os outros também? -perguntou Cassian quando me sentei ao lado dele em um dos raríssimos momentos de descanso

— Não -respondi simples

— Então oque é? Porque eu sei que tem algo sobre oque reclamar -disse ele

— As terras do lado humano, tão lamacentas -resmunguei — essa merda gruda em tudo, é nojento e quente, me sinto como um porco.

Cassian apenas riu. De qualquer forma, não havia nada que pudesse fazer sobre aquilo. Vi Feyre e Nestha sairem de uma das tendas vestindo couro illyriano de combate, confesso que não entendi o motivo ja que elas não entrariam no combate direto, podiam ter vestido calças de não tão quentes, as de couro comum eram um pouco mais leves, mas eu não questionaria de qualquer forma, havia mais com oque me preocupar do que quais calças minhas irmãs vestiriam.

Assisti, sem me levantar de onde estava, quando Cassian se aproximou de minhas irmãs e insistiu que Nestha prendesse uma faca na lateral do corpo por precaução mas admitiu que, como ela não era treinada, a probabilidade de se ferir era igual à de ferir outra pessoa.

Corte de chamas e pesadelosWhere stories live. Discover now