Capitulo 84

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Eu estava no alto dos picos, e a cerca de 100 metros, um chalé repousava, enfiado entre os dois picos mais altos das montanhas, protegendo-o do vento. A casa parecia escura, não havia nada ao redor até onde eu enxergava.

Rhys me emprestou as chaves do chalé entre as montanhas, disse que eu poderia ficar aqui o tempo que quisesse mas eu duvidava que fosse passar mais de uma noite, talvez ficasse ainda mais fodida da cabeça se insistisse em dormir muitas noites seguidas sozinha.

A casa estava protegida, para que ninguém pudesse atravessar para dentro e ninguém podia entrar sem a permissão da Familia de Rhys.

Sem o vento, o dia estava ameno o bastante para me lembrar de que a primavera tinha chegado, logo seria o verão, logo eu faria vinte e seis anos, logo a guerra nos alcançaria, tivesse Hybern conseguido usar o caldeirão e invadir as terras humanas ou não, logo mais mortes nos alcançariam e a respeito disso, eu só queria, pedia todos os dias a mãe, aos deuses e ao caldeirão, que a guerra não levasse nenhum dos meus amigos.

Stribog uma vez disse que a eternidade agora lhe parecia tempo demais, eu concordo. Desde que descobri meus poderes soube que era imortal mas eu achava que era imortal como qualquer um dos outros feéricos, que pudesse ser morta por freixo ou assassinada por outro feérico ou que fosse até mais frágil devido a minha herança humana, e eu esperava por isso, contava com o fato de que talvez nem chegasse aos trinta anos e estava, completamente, confortável com isso.

Eu esperava pela morte mas agora eu sei que não posso morrer por nada nesse mundo e então, de repente, é como se todos os planos para o meu não-futuro tivessem ido por água abaixo, de repente, a eternidade me parecia tempo demais, palpável demais, assustadora demais.

Aquele poder que corria em minhas veias e não me deixava morrer, passou a parecer sufocante demais, pesado demais, a ponto que, as vezes, quando havia muito poder acumulado, ele parecia querer tomar controle de mim, até minha mente entrava em conflito consigo mesma, o poder Daemati e minha consciência numa briga interminável de quem assumiria o controle, talvez fosse por isso que Rhys havia me colocado em função da Mor na cidade escavada, para que eu pudesse, todos os dias, gastar nem que fosse um pouco daquele poder enquanto aplicava as sentenças.

No incio, era perturbador aplicar chibatadas, os gritos e pedidos de ajuda me acompanhavam para todos os lados mas agora ja eram tantos que eu passei a ignorá-los, durante e depois das chibatas, eu só... não me importava.

O chalé tinha um cômodo principal, com painéis de madeira, consistindo de uma cozinha à direita, e uma sala de estar com um sofá de couro coberto de peles à esquerda e um pequeno corredor nos fundos que dava para dois quartos e um banheiro compartilhado, nada mais.

A casa estava sob algum tipo de feitiço, encantada para cuidar de quem estivesse nela, Rhys disse que se eu precisasse de algo para apenas desejar ou falar de coisas, e tudo seria entregue, então pedi:

– Casa -disse um pouco alto – Casa -chamei outra vez

Talvez eu não devese esperar uma resposta.

– Hãn, certo, eu... quero vinho -pedi passando os olhos ao redor – mas não uma taça, eu quero um barril, não vinho ruim também, quero um barril de vinho bom.

Esperei por alguns segundos, não sabendo exatamente oque fazer agora.

A porta de um armário da cozinha se abriu, revelando um barril de vinho.

– Você podia fazer o serviço completo e trazer aqui não é?

Nenhuma resposta, nem um armário batendo.

– Tudo bem, mal educada, eu mesma pego -resmunguei levantando do sofá.

Me abaixei na frente do armário e puxei o barril para fora, estava completamente cheio e o levantei o colocando em cima da bancada da pia.

Corte de chamas e pesadelosWhere stories live. Discover now