Capitulo 49

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Passei o dia de ontem cuidando de Iran, seu corpo estava começando a sentir falta do ópio, mas, por enquanto, ela tinha apenas um leve tremor nas mãos, facilmente passava despercebido a qualquer um, essa não era a pior parte, por enquanto ela ainda tinha consciência de que devia ficar longe dos cachimbos mas conforme seu corpo fosse se limpando, a fazendo vomitar, desmaiar e ter febre, conforme o corpo implorasse por ao menos um pouco, ela imploraria também, tentaria fugir, ir atrás de mais, eu prometi a ela, prometi que me manteria firme, que a amarraria na cama se fosse preciso e assim farei.

Ontem era o dia que minha irmã enfrentaria a Tecelã, bem, eu tenho certeza que enfrentou e saiu bem, sem lesões graves além de alguns arranhões e sujeira de chaminé, soube disso quando contatei Rhys pela mente, do outro lado de Prythian mas graças ao caldeirão, a mãe ou quem quer que seja, os poderes de ambos eram fortes o suficiente para fazermos este contato a longa distância parecer brincadeira de criança.

Eles partiriam para a casa de minhas irmãs amanhã, as 10 horas, eu me encontraria com eles um pouco mais tarde e levaria Iran comigo, dependendo da forma com que reagir a Feyre e os Illyrianos talvez eu possa leva-la comigo para a corte.

– Você não me contou -disse Iran para mim.

Ela estava no sofá ao meu lado, eu rescostava sobre as almofadas de forma relaxada, não me importava em ficar aqui mas ja estava se tornando entediante ficar no apartamento mesmo com todas as risadas que eu dava com a garota.

– Não contei sobre oque? -me virei para ela

– Se encontrou sua irmã ué, e se encontrou, porque simplesmente não a trouxe de volta para cá?

– Sim, encontrei minha irmã e ela está bem ou pelo menos está melhorando, digo, na questão psicológica da coisa, fisicamente está perfeitamente saudável. -expliquei

– E porque não a trouxe de volta? -insistiu –A deixou com os feéricos? -Iran arregalou os olhos

– É complicado explicar -começo receosa –De qualquer forma descobrirá amanhã

– Como assim amanhã? -ela franziu o cenho

– Vamos nos encontrar com ela, na casa de minhas irmãs.

Como o de custume, uma meia verdade e falta de detalhes sobre oque fariamos mas Iran não continuou a perguntar, como se ja soubesse que não conseguiria muito mais informações sobre o assunto.

– Sloane esteve aqui semana passada -falou enrolando com o dedo uma mecha de seu cabelo, agora um pouco mais laranja pela falta de sol do inverno – Disse que você era resistente feito uma barata e que eu era tola por acreditar que estava morta.

– Bem, aquela vaca estava certa, devia te-la escutado - dou de ombros mas deixo escapar um sorriso.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, eu estava presa em meus pensamentos, em como estava em divida com o entalhador por ele ter me ajudado.

– Nunca mais faça isso -disparei depois de um tempo

– Isso oque? -Iran franziu a testa

– Ser imprudente por achar que eu estava morta, você própria quase se matou por fazer as coisas do seu jeito e mesmo se... -me interrompi por um segundo  –Mesmo se eu estivesse morta, voltaria de seja la onde eu estivesse para te dar uma surra apenas se pisasse numa casa de ópio, quanto mais se colocasse um cachimbo na boca.

Iran prestava atenção em mim, em cada palavra do meu mini esporro, eu podia notar que ela sabia que era verdade, tinha certeza, sabia por causa cada pessoa que matei por ter feito mal a ela.

– Desculpe. -ela disse abaixando a cabeça.

Algo como vergonha se formava em seu rosto quando ela se virou para mim.

– Eu menti -seus olhos encheram d'água encarando os meus.

– Sobre oque? -mesmo que um aperto surgisse em meu peito, minha voz não tremeu.

– Nenhum cliente me ofereceu nada, eu procurei sozinha, comprei assim que consegui o dinheiro, eu não sabia como -um soluço escapou da garganta de Iran

Algo como alivio surgiu em meu corpo, eu sei, deveria me sentir pessima com isso, deveria me sentir péssima por cogitar uma traição de Iran e me sentia mas também estava aliviada por ter sido apenas coisa da minha cabeça ferrada.

–Você e Sloane foram as unicas pessoas que me acolheram de verdade, mesmo com o jeito esquisito e bruto de vocês, fizeram eu me sentir em casa, fizeram eu me sentir segura, me sinto horrivel por dizer isso mas nunca tive algo parecido com a minha familia, mesmo com o meu irmão que apesar de ser um bacaca tentava ser presente comigo e contratou você para acabar com a vida do general que me machucou. -ela precisou para para respirar por alguns segundoa antes que continuasse –Mesmo que tenha sido ensinada, criada para matar pessoas, foi você quem me deu carinho, cuidou de mim e eu não consegui, não soube como lidar com a sua morte

A esse ponto Iran ja estava falando enrolado entre soluços e a voz embargada de choro e eu tentava muito, tentava de verdade, conter minhas lágrimas para não chorar junto dela.

– Venha aqui -a puxei para perto.

Enrolei Iran em meus braços, a garota se agarrou a minha cintura com força, como se jamais quisesse me deixar ir embora outra vez.

– Está tudo bem, eu estou aqui, não estou morta e nem estarei tão cedo. -sussurrei acariciando os cabelos da garota.

"Está tudo bem" eu dizia para ela repetidas vezes, até que ela se acalmasse, até que ela se convencesse daquilo, até que eu mesma me convencesse de que estava tudo bem, de que ela não estava morta e nem morrendo, eu tinha chegado a tempo, tinha acabado com as vidas daqueles que a machucaram, sem sentir remorso algum com aquilo e tinha a plena certeza de que jamais sentiria.

Nunca, eu nunca senti remorso, culpa ou peso na consciência pelas pessoas que matei, fosse em trabalho ou por pura vingança, por puro ódio, isso jamais me tirou o sono, as vezes eu imagino oque Feyre pensaria, oque ela sentiria ao saber sobre todas as pessoas que matei.

Callie sabia do meu trabalho, sempre soube, parecia não se importar, talvez porque nunca tinha me visto matar alguém, talvez porque as pessoas que eu matava sempre mereciam ser mortas, nunca matei nenhum homem bom, nenhum pai de familia decente, nenhum inocente mas mesmo assim eu conseguia ouvir a voz de Callie em meus pensamentos sempre que matava alguém, imaginava se ela estaria vendo aquilo, a crueldade, a frieza, imagiva se agora, depois de morta ela talvez pudesse sentir nojo de quem eu era.

Era isso oque me assombrava a noite, não o fato de matar, apenas o pensamento de que ela talvez tivesse vergonha de mim agora que podia me olhar de onde estivesse.

Corte de chamas e pesadelosWhere stories live. Discover now