Capitulo 70

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Iran

Acordei de madruga sentindo todo o meu corpo tremer, eu suava frio e minha barriga doia como o tivesse uma cólica tão forte que atingia também minha lombar e pernas.

Me afastei dos braços de Kendra que resmungou se ajeitando no colchão ao sentir a falta do meu corpo ali. Ela tem o sono leve, quando estavamos em seu apartamento nas terras humanas, se eu desse qualquer passo para fora na cama, por mais silencioso que fosse, ela acordava de imediato perguntando se eu estava bem, sempre alerta, eu me perguntava se ela de fato dormia ou se apenas fechava os olhos e esperava com os ouvidos atentos por uma ameaça.

Continuei deitada na cama com os joelhos encostados no peito para ver se a dor passava e tentando controlar o tremor do meu corpo. Eu estava cansada, exausta pelo dia de trabalho, meus olhos quase não conseguiam se manter abertos, então mesmo com todos aqueles sintomas, eu cai no sono ou talvez na verdade tivesse desmaiado.

Acordei algum tempo depois, provavelmente horas ja que eu escutava o canto dos pássaros mesmo que o dia ainda não estivesse totalmente claro e meu corpo doia tanto que conforme o passar das horas aquilo  tinha se espalhado como uma enorme dor muscular.

Minha cabeça girava quando eu levantei da cama, rapido demais, mas eu não podia ficar ali, uma náusea horrivel tomava meu estômago e eu sabia que cedo ou tarde iria vomitar, preferi manter o minimo de dignidade que me restava e me esgueirar até o banheiro para que quando vomitasse que pelo menos fosse na latrina.

– Oque aconteceu? -Kendra perguntou preocupada assim que coloquei os pés para fora da cama.

– Apenas vou ao banheiro, volte a dormir. -respondi a ela que murmutou um "hmhum" rouco e fechou os olhos outra vez.

Andei devagar até o banheiro ja que não enxergava quase nada pelo escuro e mau conseguia me manter de pé pela tontura e os tremores, mesmo assim consegui não fazer muito barulho no caminho mas falhei ao me apoiar demais na porta para abri-la oque me fez tropeçar para dentro do banheiro.

Mãos firmes e frias agarraram meu corpo antes que eu fosse de encontro ao chão, obviamente aquelas mãos eram de Kendra, mas eu não sabia o porque dela estar gelada ja seu corpo era, literalmente, mais quente que o das outras pessoas e isso aumentava ainda mais depemdendo de suas emoções, se ela deixasse uma delas, como a raiva, se descontrolar, seu corpo poderia queimar outra pessoa apenas se a tocasse.

Kendra levou uma mão até a lateral do meu pescoço, depois para minha testa e então a minha bochecha quando disse:

– Está ardendo em febre Iran, suas bochechas estão rosa -ela disse preocupada

Então era por isso que seu toque parecia tão gelado, não era a temperatura de seu corpo que estava baixa, era a minha que estava muito alta.

Eu iria dispensar a sua ajuda, dizer que poderia me virar sozinha mas o vômito subiu pela minha garganta e só tive tempo de virar de costas para ela e me jogar em direção ao chão batendo forte com os joelhos no piso e me debruçar sobre a latrina deixando toda a minha janta ali.

A feérica deixou escapar um grunhido, provavelmente por causa do cheiro do vômito incomodar seu olfato feérico mas ela mesmo assim se aproximou por trás de mim e segurou meu cabelo o impedindo de se misturar ao vômito e o prendeu num coque para que não grudasse no suor das minhas costas mas ainda continuou segurando.

Minha respiração ofegava quando eu me afastei da latrina e me recostei na cerâmica fria da banheira.

– Está melhor? -ela me analisando, procurando mais sinais de que eu vomitaria outra vez

Neguei com a cabeça, quando ia responder de fato a pergunta, o vomito subiu pela minha garganta denovo e me debrucei ainda mais sobre a latrina.

– Sinto como se fosse vomitar todos os meus órgãos -me recostei outra vez na banheira gelada – Tenho que estar no trabalho daqui a quatro horas.

– Você não vai -ela disse em tom de autoridade

– Você não manda em mim -disparei emburrada e ela estalou a lingua em resposta

– Não aja como uma criança birrenta Iran, não tem condições de ao menos sair deste banheiro e tenho certeza de que seu chefe não gostaria nada de te-la vomitando em todos os clientes da loja e em seus sapatos. -ela mantinha o tom firme enquanto me encarava. – Você fica e se limpa dessa merda.

– E oque vou dizer por ter faltado o trabalho?

– Você não vai faltar, vai tirar uma semana de licença por causa da sua frágil saúde humana.

– Estou no trabalho a uma semana, acha que ele vai acreditar nisso?

– Se não acreditar eu entro na mente dele e gentilmente o convenço do contrário -ela disse como se fosse uma simples coisa entrar na mente de alguém e a convencer de fazer oque você quiser.

"Talvez para ela fazer isso a um desconhecido realmente seja tão simples quanto passear por Velaris" pensei comigo mesma.

Parei de questionar quando senti o vômito queimar minha garganta outra vez.

Corte de chamas e pesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora