Capitulo 77

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Era madrugada quando Helion e eu voltamos para a propriedade, na verdade fomos para outra, a da praia, onde ele me trouxe no dia do Wag.

Helion disse que esta casa era apenas para ele, ninguem morava nela além do próprio e ela era "aberta" apenas para o Wag ou para Solstício de verão e só durante a festa, não mencionei que meu aniversário caia exatamente no dia do Solstício.

Sempre achei interessante essa questão, de Feyre e eu termos nascido em feriados opostos, ela no Solstício de Inverno, eu no de verão.

Nós duas não gostamos de aniversário, do nosso pelo menos, presente da nossa mãe que dizia ser um absurdo nós duas termos nascido em datas importantes, uma vez ela fez uma festa para Feyre em outro dia, para mim, depois dos meus quatro anos passei a não ter festas mas Nestha sempre fazia um bolo escondido para mim, com a ajuda das criadas da cozinha, sempre, até nossa mãe adoecer, até ela começar a me afastar e então toda a nossa amizade foi enterrada junto de nossa mãe.

Não me lembro dos aniversários anteriores e também não quero usar meu poder para lembrar.

Eu recebi um quarto apenas para mim, a sacada tinha vista direta para o mar escuro devido a madrugada e eu tentei, de verdade, não pegar no sono, tentei me manter a consciente durante o restante da noite mas não consegui.

Assim que deitei, meus olhos pesaram e então...

Eu estava de volta aquela sala de treinamento.

Homens de todas as idades me cercavam, todos em seus próprios treinos, nenhum prestava atenção na garota magrela recém chegada, todos achavam que eu morreria na primeira semana.

Dearil estava num canto da sala, observando "a nova demanda" que era como ele chamava a mim e aos outros da minha idade ou mais novos que eu, seu foco não estava em mim, ele provavelmente pensava o mesmo que os outros, que eu não passaria da primeira semana.

Eu suava frio, ainda não tinha recuperado o peso que perdi por causa da escassez do inverno, então gastar toda aquela energia em treinos que duravam mais de seis horas não fazia bem ao meu corpo mas eu não podia parar, Dearil avisou a mim e a todos os recém chegados que se parassemos sem a permissão dele, em suas palavras:

Tomarão a maior surra de suas vidas -ele disse em tom baixo, letal. – Não há lugar para fracos aqui e se quiserem desistir do treinamento, morrem, a escolha é de vocês.

Minha mente não estava de fato la, estava em Feyre, em como ela estaria tendo que caçar sozinha para alimentar a todos aqueles três encostados de merda.

Eu estava no meio de uma série de socos, uma gota congelante de suor escorria pela minha espinha, minha respiração estava ofegante e minha cabeça girava e latejava e eu não comia a horas, minha pressão estava baixa.

Minha consciência me deixou por poucos segundos mas foi tempo o suficiente para meus joelhos falharem e eu ir de encontro ao chão, exausta.
Recobrei a consciência aos poucos, alguns segundos depois, mas não consegui levantar, tudo girava e minhas pernas não tinham força para me erguer.

Eu conseguia ouvir risadas abafadas e burburinhos bem de longe, coisas como: "A primeira a cair" "Eu disse que ela era fraca" "É tão magrela que não tem força para se manter de pé"

Mãos agarram meu ombros com delicadeza forçada e então apertei meus olhos apenas para ver Dearil abaixado a minha frente me encarando, ele leva uma mão até meu rosto e acaricia minha bochecha.

Eu poderia ter vomitado com o seu toque.

Querida, oque eu disse sobre não parar sem a minha autorização? -ele perguntou com a voz suave, suave demais.

Corte de chamas e pesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora