Capitulo 151

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Kendra.

A terra estremeceu atrás de nós. Não ousamos virar.

Havíamos encontrado Azriel e Feyre alguns metros atrás, junto de Elain. O encantador de sombras tratou de nos tornar invisíveis aos olhos de todos.

— Os cães ainda podem nos farejar -lembrei a eles.

— Nós sabemos, obrigado pelo incentivo -respondeu Azriel, enquanto corria.

— De nada - ironizei

Chegamos perto de uma estante de armas, saqueei todas as adagas que encontrei enquanto passamos em disparada as embainhando-as em meu corpo. Também peguei um arco e uma aljava de flechas, assim como Feyre, que logo encaixou uma flecha no arco. Azriel cortou para a direita, desviando de uma tenda. E com o ângulo ela se virou, e disparou.  Sua flecha atravessou o pescoço do cão mais próximo.

Não era um cão. Nenhum deles era. Eram alguma criatura parecido com os naga — uma coisa monstruosa e escamosa que avançava sobre quatro patas; seu rosto viperino grunhia, cheio de dentes afiados a ponto de serem capazes de destroçar ossos. Ele caiu, e demos a volta pela tenda, correndo para aquele horizonte oeste ainda sombrio. Lancei um flecha na direção de um dos cães que nos seguiam, matando-o. Helion tratou de atirar de matar mais um deles com uma flechada entre os olhos. Haviam ainda mais três cães em nosso encalço, mais próximos a cada passo.

Comandantes hybernianos corriam com os cães a nossa volta, rastreando as bestas porque ainda não podiam nos ver. Aquela flecha disparada informou muito bem a eles da distância. Mas, assim que os cães nos alcançassem... aqueles comandantes surgiriam. E nos matariam ou capturariam, mas, a essa altura, depois da fuga, depois de Helion me buscar no meio daquele acampamento e me roubar bem diante dos olhos do rei, eu duvidava que ele apenas nos capturasse, a qualquer um de nós.

Fileira após fileira de tendas, vagarosamente despertando com o alarde no centro do acampamento. O ar ondulou e pude ver a chuva de flechas de freixo disparadas atrás de nós, haviam muitas. Aquilo era uma tentativa às cegas de atingir qualquer alvo.

O escudo azul de Azriel estremeceu com o impacto, mas se manteve. No entanto, nossas sombras tremeram e se dissiparam.Os cães se aproximaram, dois se desgarraram e cortaram pela lateral. Para nos arrebanhar. Pois um pouco mais a frente estava o penhasco, no outro limite do acampamento. Um penhasco com uma queda muito profunda, e um rio imperdoável abaixo. E de pé na borda, aninhada em uma capa escura...

Estava uma garota. Eu a reconhecia, algumas horas atrás ela estava sendo torturada por alguns dos soldados hybernianos, eles se divertiram com ela, e com as outras que vieram antes.

Alguém a deixara lá para que a levássemos, provavelmente Jurian, provavelmente a pedido de Feyre. Sempre a salvadora.

Atrás de nós, preenchendo o ar, como se usasse magia para tal... o rei.

— Que ladrões intrépidos -disse ele, lentamente, as palavras por todo lado, e ao mesmo tempo em lugar algum. — Como devo puni-los?

As proteções terminavam logo além da margem do penhasco. Isso foi confirmado pelos grunhidos dos cães, que pareciam sentir a iminência da fuga de sua presa. Menos de 100 metros... se pudéssemos saltar longe o bastante para nos afastar.

— Tire-a daqui, Azriel - implorou Feyre a ele, ofegante. — Eu pego a outra.

— Vamos todos...

— É uma ordem.

Uma chance, um caminho livre até a beira daquele penhasco, e para a liberdade além.

— Você precisa... — as palavras de Feyre foram interrompidas.

Corte de chamas e pesadelosWhere stories live. Discover now