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Eu não precisei ter muitos namorados para aprender que amar dói, apenas  precisei de um. Eu o amei mesmo quando eu não sabia o que era isso, eu só sentia uma vontade incontrolável de estar perto dele, de ouvir sua voz, de sentir o toque dos seus lábios em minhas bochechas rosadas. E quando eu não tinha isso, parecia que era o fim do mundo. Ele me ganhou tão fácil com suas palavras, e a sua beleza me fez acreditar que me amaria pra sempre. Porém nada disso era verdade, Caleb nunca me amou, embora ele tenha dito diversas vezes e eu tenha acreditado em todas elas. Eu sim o amei, e muito, eu fiz tudo o que eu pude pra salvá-lo, mas não consegui, porque no final das contas ele não tinha salvação. Um psicopata nato, que só nasceu pra causar o caos na sociedade.

Descobri mais tarde que ele nunca foi uma criança abusada, ele com oito anos enloqueceu a mãe, e fez todo mundo acreditar que ele era a vítima, quando na verdade não era. Quando descobriu os maus tratos, ele foi mandado para uma instituição para menores, onde meses depois foi adotado por uma família rica.


Caleb me proporcionou os melhores momentos, mas tambem os piores. Eu não acredito que consegui sobreviver a ele, eu nem acredito que estou em casa, com a minha família. Às vezes eu acordo de manhã e automaticamente vou até a cozinha na esperança de encontrá-lo, ou fico olhando pra porta, e tenho impressão que a qualquer momento ele vai entrar e dizer.

"Pensou que iria se livrar de mim, está enganada, sua estúpida."

Perde-lo foi algo doloroso mas ao mesmo tempo, eu me senti aliviada por não ter ele aqui. E isso é assustador.

Hoje faz um ano que eu não sinto mais a necessidade de morrer pra estar perto dele, faz um ano que eu não me sinto perdida. Faz um ano que eu me encontrei, e nem percebi que eu tinha desistido de mim há muito tempo, para viver em função dos outros.

Eu sei que eu nunca vou poder ser mãe,  mas o meu irmãozinho me deu a oportunidade de exercer bem esse papel. Eu amo muito ele. E sinto uma extrema necessidade de protegê-lo como se fosse o meu filho, embora a minha mãe acha que estou sendo obsessiva demais.

Richard continua sendo muito gentil e acolhedor comigo, e eu tento não misturar as coisas. Porque eu sei que as consequências dessa confusão de sentimentos seria terrível.

Porém, fantasio com ele todas as noites.

Eu não quero mais estragar a vida de ninguém, quero ser feliz com o pouco que tenho.

Ele, minha mãe, meu irmãozinho e a Joy, que são a minha verdadeira família. Se eu perdê-los, perco tudo.

Carrego cicatrizes no corpo e na alma, mas acredito que com o tempo elas vão se curar.

Eu me sinto estranha, como se eu tivesse perdido a indentidade, eu não sei muito bem quem eu sou. As vezes me pego lavando pratos na madrugada, ou dobrando alguma roupa pela milésima vez. E tem vezes que eu tenho ataques de pânico ao apagar das luzes. E acordo chorando toda vez que sonho com o meu pai. Mas acredito que seja apenas um processo, que vai passar. E estou fazendo terapia para lidar melhor com isso.

Eu estava passando e dobrando a roupa de Zyan. Quando resolvi abrir a janela para tomar o ar, pois estava muito calor, considerando que estávamos no verão. E de repente me deparei com a fisionomia perfeita do vizinho da casa ao lado.

A casa estava à venda até esses dias, e agora parece que não está mais.

Ele tinha exatamente cabelos negros e olhos azuis. Que de imediato me despertou um puro fascínio.

Mas balancei a cabeça tentando me desprender dessa ilusão.

Não, Ella, de novo não, você ainda não está preparada.

O vizinho Where stories live. Discover now