18

703 51 13
                                    

Não me lembro da hora exata que eu desmaiei no sofá. Quando acordei tudo estava na mais perfeita ordem, como se nada tivesse acontecido. Um silêncio perturbador pairou no ar, me rendendo alguns calafrios.

Levantei meio desorientada do sofá, passei a mão pelo cabelo que estava levemente bagunçado e limpei a baba do canto da boca.

Depois subi relutante as escadas, para  me certificar se Vicent tinha conseguido fugir, porque eu só me lembro de ter visto Caleb subir para o quarto, depois disso não lembro de mais nada.

Entrei no quarto e nem sinal dele, o que me fez pensar que talvez Caleb tivesse o matado e sumido com o seu corpo para não gerar nenhuma suspeita.

Porém a ideia de que ele conseguiu escapar ileso parece ser a mais confortável.

Naquele quarto estava uma mistura de perfume de dois homens, ambos com personalidades diferentes, mas com o mesmo objetivo.

Ficar com a mesma mulher.

Eu, por outro lado, até gosto da ideia de ter dois homens disputando a minha atenção, faz com que eu me sinta mais desejada, porém eu sei bem como essa história vai terminar, e não vai ser com Caleb tirando o seu da reta para permitir que Vicent e eu, tenhamos um final feliz.

Eu o conheço suficientemente pra saber que ele é capaz de matar uma pessoa e pendurar a cabeça dela em um poste  em meio a praça pública só para servir de exemplo para quem ousar cruzar o caminho dele.

É preciso arrancar o mal pela raiz, antes que o mesmo nos contamine, mas como. A conexão que Vicent e eu temos, é algo inexplicável, ele desperta em mim emoções positivas, ele me faz dá risadas, e tem anos que eu não me sinto assim, viva. Confesso que com ele aqui tudo tem sido mais suportável.

Ele é como remédio para a minha dor.

—– Você demorou, então eu resolvi tomar um banho —  Uma voz grave e atraente soou atrás de mim, fazendo os cabelos da minha nuca se arrepiarem.

Abri um largo sorriso, mas quando me virei para encara-lo, esse mesmo sorriso desapareceu dos meus lábios ao vê-lo usando o roupão de banho de Caleb que estranhamente ficou perfeito em seu corpo.

Não sei por quê, mas isso não me pareceu nada sexy,  e sim assustador.

Ele seguiu os meus olhos aflitos, e olhou para si mesmo, despreocupado.

—– Ah, eu não queria ficar andando por aí pelado atrás de uma toalha, então...

Fiquei paralisada, olhando para as suas feições de deboche, era como se por um momento ele estivesse rindo da minha cara.

—– Tira isso — Ordenei um pouco incomodada.

—– Como?

—– Agora — Gritei

Ele levantou as mãos em rendição, depois as levou até o laço com os olhos grudados nos meus.

Lentamente ele desamarrou o roupão, e o deixou cair sobre o piso, deixando  transparecer  o seu corpo nu e bem definido.

Fingi ignorar o fato dele ser bem dotado, e recolhi suas roupas do chão, depois as empurrei contra o seu peito.

—– Se veste e dá o fora daqui.

Ele sorriu confuso.

—– Pensei que gostasse de me ver nu —  Provocou, vestindo a calça apressadamente

Peguei o roupão de Caleb do chão, e o mantive nas mãos, enquanto eu procurava as palavras certas pra dizer, e como não encontrei, decidi agir na emoção mesmo

—– Eu sei que vai ficar jogando na minha cara o fato de eu ter te espionado durante esse tempo todo, e tudo bem, eu cometi um erro, mas isso não te dá o direito de entrar na minha casa, sentar na poltrona do meu marido e vestir o roupão dele, como se você fosse ele...e você não é ele, entendeu..

O sorriso logo sumiu do seu rosto, e ele assumiu uma expressão séria.

—– Ella, se acalme, foi só uma brincadeira, e quanto ao roupão, eu...

Ele parou de falar, assim que viu a impaciência estampada no meu rosto.

Eu claramente, não estava afim de ouvir seja lá quais eram as explicações dele.

—– Deixa pra lá — Resmungou

Ele terminou de se vestir e passou por mim

Fechei os olhos, atordoada, e suspirei cansada.

Em seguida desci as escadas, fui até a lavanderia e coloquei o roupão de Caleb pra lavar.

Escorei na máquina e coloquei a mão no peito afim de parar meu coração descontrolado.

Que loucura foi essa? E por que eu não consigo respirar?

Corri para a cozinha, ofegante, e preparei um copo de água com açúcar, depois  enfiei goela abaixo.

Agora que eu me toquei do quão arriscado tem sido tudo isso.  Embora a presença de Vicent tenha sido indispensável, eu não posso mantê-lo como visita frequente na minha casa, uma hora Caleb pode chegar mais cedo do trabalho e encontrá-lo aqui ou os vizinhos podem vê-lo entrando ou saindo qualquer dia desse e informar ao meu marido, que não irá pensar duas vezes antes de mata-lo. Eu não posso permitir isso, nunca vou conseguir conviver com essa culpa.

Então respirei fundo, levantei a cabeça e fui até a casa de Vicent, colocar um ponto final em tudo isso.

Ou pelo menos tentar.

—– Quero que pare de ir na minha casa —  Soltei assim que ele abriu a porta.

—– Como é? — Ele me encarou com misto de incredulidade e raiva

—– Você ouviu muito bem, sei que suas intenções são as melhores possíveis, e eu sou muito grata por tudo que você  fez por mim, mas isso tem que  acabar, desculpa, se de alguma forma eu alimentei as suas esperanças, mas eu amo o meu marido e não pretendo deixá-lo tão cedo.

—– Desculpa, mas isso não é amor, é uma doença..

—– E por acaso você entende alguma coisa sobre amor, não passa de um mero conquistador que vive a vida correndo atrás do que não pode ter

Ele se calou, e assumiu uma expressão passiva, enquanto eu descarregava toda minha frustração em cima dele, inconscientemente.

—– A relação entre eu e o meu marido, e algo que você jamais vai conseguir entender, então para o seu próprio bem, fica fora disso — Endureci as palavras.

Ele soltou o ar profundamente e expressou através de suas pupilas esverdeadas sua total insatisfação.

Mas assim que eu virei as costas, as lágrimas encheram os meus olhos, e eu não parecia mais tão segura na minha decisão.

Na verdade, eu só disse tudo aquilo por que eu queria acima de tudo  protegê-lo da fúria incontrolável de Caleb.

Ele é um bom rapaz, jovem, bonito, que não precisa passar por isso, e lamento que em meio a tantas mulheres por aí, ele foi se interessar justo por mim.

Uma pessoa que deixou de amar a si mesma para amar um homem tão  desprezível quanto.

Dói ter que deixá-lo, mas é preciso, antes ele vivo e magoado do que morto com toda uma vida interrompida.

Só eu sei os danos irreversíveis que Caleb causa nas pessoas, para ele não basta machucar, ele tem que humilhar a pessoa ao extremo até que ela mesma desista de viver a própria vida.

É assim comigo, será assim com todos que cruzarem o seu caminho.

O vizinho Where stories live. Discover now