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Caleb entrou em casa falando ao telefone sorridente e focado. Sua postura estava tão ereta que minha coluna doía de inveja.

Ele passou pela sala, subiu as escadas e seguiu para o quarto. Parei o que eu estava fazendo, e o segui furtivamente, afim de escutar a conversa.

Afinal, quem seria a alma capaz de arrancar um sorriso daquele homem.

[ ..Sim, ela está bem, não se preocupe.

Escutei ele comentar, porém com a voz baixa. Então me aproximei sorrateiramente dele para escutar melhor, e fiquei empolgada por alguém está perguntando sobre mim.

-- Quem é? - Sussurrei com um sorriso solto nos lábios, mas ele me ignorou entrando em outro cômodo da casa.

...Sim, fizemos uma festa de aniversário, ela adorou.

Festa, que festa?

Chama aquela humilhação de festa.

O único que se divertiu foi ele, ainda bem que Vicent estava aqui, aquilo sim foi diversão.

Deixei escapar um sorriso bobo, mas balancei a cabeça me desprendendo dessa ilusão, depois adentrei no mesmo cômodo que Caleb.

E vi o quanto sua expressão estava diferente, nem parecia ele. Ele estava com um sorrisinho vagabundo no rosto. O mesmo sorriso que agradou a minha mãe logo de cara.

Foi tão ingênua quanto eu.

Até que escutei a voz dela do outro lado da linha, e senti uma imensa vontade de chorar, seguida de uma necessidade de amparo.

Me senti como um filhote perdido, longe do calor e da proteção da mãe.

-- Caleb, me dê o telefone, deixa eu falar com ela - Pedi aos plantos e ao mesmo tempo, rindo de desespero.

[ .. Sim, visitaremos quando possível -Ele disse me olhando com ironia.

-- Caleb, me dê o telefone - Berrei, impaciente com a sua demora, avancei nele afim de tirar o telefone de suas mãos asquerosas, mas ele me empurrou violentamente, me fazendo cair no chão.

[..... Então, eu falei com ela...disse que iria ligar pra vocês assim que puder, portanto não posso obrigá- la, ela acha que vocês de alguma forma queriam atrapalhar o nosso relacionamento... principalmente o Ramon.

Caleb me olhava friamente enquanto inventava toda uma história fictícia.

Meu pai tinha razão, Caleb tem muitas faces.

Era possível ouvir os soluços da minha mãe do outro lado da linha, e isso me doeu na alma, e doeu ainda mais não poder dizer que era tudo mentira

Agora sei por que meus pais não vêem me visitar. Caleb enfiou um monte de mentiras na cabeça deles, forçando -os acreditar que eu não quero contato por escolha minha.

-- Mãe, não é verdade - Choraminguei - Eu amo muito vocês, estou morrendo de saudades.

Caleb chutou o meu rosto na intenção de me manter calada.

...Outro, obrigado por ligar..foi o vento batendo na janela..

Levantei rapidamente do chão e tentei a todo custo, arrancar o celular das mãos dele para pelo menos dizer um "olá" para a minha mãe, e pra ela saber através da minha voz embargada que tudo que Caleb disse é mentira, e que eu amo eles mais do que tudo nesse mundo, e que se eu pudesse pegaria o primeiro avião pra voltar pra casa, de onde eu nunca deveria ter saído, mas Caleb simplesmente jogou o telefone no chão, e a minha única esperança se converteu em cacos.

-- Eu quero a minha mãe - Choraminguei, mas não vi nenhuma ruga de preocupação se formar em seu rosto, o que me irritou ainda mais - É o meu aniversário e os meus pais deveriam estar aqui comigo...seu desgraçado.

Eu o empurrei e comecei a esmurrar agressivamente seu peito, afim de canalizar toda a minha ira, mas ele continuava inerte com uma expressão dura e fria.

As lágrimas desciam sem parar, pelo meu rosto enquanto eu era devastada pela raiva e a angústia. Eu queria arrancar os olhos dele, mas também queria implorar para ele ligar para os meus pais, assumir toda culpa e me deixar ir.

-- Cretino - Cuspi as palavras, e voltei a bater nele com toda a força que eu tinha.

Até que um dos golpes acertou em cheio o seu rosto. Eu me afastei, sentindo meu corpo inteiro tremer, e o ar fugir dos meus pulmões. Ele virou o rosto lentamente na minha direção, e assumiu uma expressão impiedosa.

-- Caleb, eu não..

Dei dois passos pra trás e me encolhi, enquanto via aquele homem fatal crescer diante de mim.

Ele então agarrou pelo pescoço e me prensou na parede, tentei respirar por todas as vias possíveis, mas era inútil.

Eu estava com os olhos arregalados, e meu coração batia tão rápido que me causava um tremendo desconforto. O seu olhar era tão mortal que não me deixou nenhuma dúvida de que aquele era o meu fim.

-- Por favor - Implorei com o pouco de ar que me restava, tentando parar suas mãos que me apertavam. Enquanto o prazer mórbido tomava conta do seu olhar - Me desculpa, eu não vou mais fazer isso, eu prometo.

Quando ele por fim me soltou, eu cai no chão de joelhos como uma boneca de pano, profundamente aterrorizada.

Comecei a tossir, sentindo meu rosto queimar e minha garganta presa a sensação ruim de suas mãos apertando-a.

Olhei para ele e comecei a chorar desesperada.

-- Por que fez isso? - Berrei, tentando me levantar, porém sem forças - Você poderia ter me matado.

Nunca tinha visto ele daquele jeito, por um momento pensei que ele não iria mais me soltar, senti uma angústia terrível dentro de mim.

Ele me olhava, e seus olhos azuis tinham um tom escuro e sombrio. Era como se aquele nem fosse ele. Estava parado com os punhos cerrados e a respiração acelerada que fazia seu peito subir e descer rapidamente.

Me arrastei pra trás até encostar na parede onde agarrei os joelhos e fiquei ali horrorizada com aquela figura monstruosa na minha frente.

-- Fica longe de mim - Gritei assim que ele deu o primeiro passo.

Ele parou e suas expressões se normalizaram, e eu pude notar em seus olhos, algo que eu nunca tinha notado antes.

Culpa.

Mas ele prefiriu recuar ao ter que admitir.

Traumatizada, eu passei a mão pelos cabelos e comecei pentea-los com os dedos, murmurando uma canção que a meu pai costumava cantar pra mim, antes de dormir.

" Só me sinto feliz quando estou com você, você é doce como cupcake, e sua pele me lembra sorvete..sorvete de coco e doce com leite ..você é doce como cupcake..

Sorri eufórica com a lembrança.

Enfim, parabéns pra mim.

O vizinho Where stories live. Discover now