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Quando entrei na cozinha pela manhã, tive uma visão bizarra de Caleb vestido com um avental, manuseando uma frigideira.

Aquilo, apesar de sexy, também era assustador.

Me sentei em uma cadeira e fiquei observando a sua performance na cozinha, e eu até diria que ele levava jeito.

Em seguida, ele se aproximou de mim com a frigideira e usou uma concha para despejar um grande pedaço de carne sobre o meu prato.

Olhei em volta e notei que o ambiente estava decorado para o parecia ser um jantar especial.

Depois eu voltei os olhos para ele, confusa.

—– Mas o que exatamente estamos comemorando? — Perguntei intrigada

Ele não respondeu, apenas me lançou um olhar sombrio.

—– Você sabe que isso engorda, não sabe? — Voltei a perguntar, olhando para a carne suculenta em meu prato.

—– Não se preocupe, essa carne é a sua preferida — Ele disse com um sorriso malicioso nos lábios.

Comecei tremer ao pegar o garfo e a faca, e quando olhei para o meu prato novamente, percebi que aquela carne era um tanto estranha para o meu gosto.

Havia mais gordura do que o normal e era muito escura.

Levantei os olhos para Caleb, que estava parado na minha frente com um olhar sinistro, e percebi que suas mãos estavam manchadas de sangue, assim como o avental que ele estava usando.

Então comecei ficar apavorada.

—– Caleb, o que você fez? —  Perguntei levantando da cadeira assustada, e dando dois passos pra trás.

Ele me acompanhou com os olhos, depois franziu as sobrancelhas simulando confusão.

—– Ora, o jantar,  não gostou?

Olhei na direção da janela e notei que chovia bastante. E todo aquele cenário contribuía para uma verdadeira cena de terror.

—– O que você fez com ele? — Gritei atordoada, já com as lágrimas inundando os olhos.

—– Ele quem? De quem você  está falando?

Passei por ele, atordoada, e sai correndo em direção à porta e assim que eu abri fui agredida subitamente pela intensidade da chuva.

Mas apesar disso, eu não me abalei, corri relutante até a casa de Vicent e bati na porta com o coração na boca,  completamente encharcada.

E como ninguém abriu, eu acabei entrando.

—– Vicent? 

Como não obtive nenhuma resposta, comecei a vasculhar a casa inteira, sem sucesso, até que subi as escadas, entrei em seu quarto e vi uma das cenas mais horripilantes da minha vida.

Havia pedaços dele por toda a parte e sua cabeça estava sobre a cama com os olhos abertos vidrados em mim.

Tampei a boca horrorizada, e direcionei os olhos para a janela, vendo que Caleb estava do outro lado com uma expressão ameaçadora segurando uma grande faca.

De repente ele voltou a faca para si mesmo, e passou-a lentamente em sua garganta, caindo logo depois.

—– Nãooooo

Comecei a gritar sem parar, até conseguir finalmente abrir os olhos e perceber que tudo não passou de um terrível pesadelo.

Escorei apavorada na cabeceira da cama com o coração acelerado e a respiração ofegante.

Além de uma sensação terrível.

Enquanto isso, Caleb dormia calmamente do meu lado com a respiração profunda e parte do seu cabelo cobrindo o rosto.

Afastei o cobertor com cuidado, atenta a cada movimento dele, depois me levantei da cama e caminhei na ponta dos pés até a janela.

Mas a janela do quarto de Vicent permanecia fechada, e a sensação de não vê-lo me deixou inquieta.

E eu não tinha sequer um celular para ligar para ele, só o fato de escutar a voz dele já me deixaria aliviada.

Passei esses últimos dias alimentando paranóias na minha cabeça sobre Caleb ter matado ele.

Sofrendo por antecipação, depois de imaginar toda a dor que Caleb infligiu a ele.

Eu andava de um lado para o outro, roía as unhas, bebia até o último gole da garrafa para tentar lidar com a frustração e ansiedade.

Todos os dias, eu me levantava exatamente às onze da noite para ir até a janela na esperança de encontrá-lo. Ele costumava aparecer nesse horário para fumar.

Eu estava prestes a enloquecer.

Prestes a explodir e revelar toda a verdade para Caleb, e implorar para que ele dissesse onde escondeu o corpo,  para que eu possa pelo menos dar um enterro digno para Vicent já que eu era a única que poderia fazer isso.

Eu era a família dele.

De repente, eu escutei o barulho de um carro.

E um sorriso de esperança se acendeu em meu rosto.

"É ele".

Sai correndo para o lado de fora e vi um carro parado em frente à sua casa.

A porta se abriu e Vicent desceu do carro, aparentemente debilitado, entregou um dinheiro para o motorista, que saiu às pressas depois, sem se importar com o seu estado.

Depois disso, Vicent deu dois passos e acabou por cair na calçada.

Assustada, eu corri até ele e me ajoelhei diante do seu corpo no chão.

—– Vicent, o que aconteceu? — Perguntei preocupada e assustada ao mesmo tempo.

As suas roupas estavam sujas e ensanguentadas, e seu rosto estava todo inchado e com hematomas assim como seu corpo.

—– Ella — Balbuciou olhando pra mim e logo depois fechou os olhos.

Senti o meu corpo gelar.

—– Não, você não pode morrer — Chorei

Apoiei o ouvido em seu peito para ouvir seu coração, e para o meu alívio, ele ainda estava batendo, embora fraco.

Então rapidamente arrastei relutante o seu corpo pesado para dentro da sua casa, depois procurei desesperada por algum telefone.

Por sorte, o seu estava em seu bolso e desbloqueado.

Rapidamente disquei o número da emergência.

—– Calma, vai ficar tudo bem —  Assegurei com o telefone no ouvido, e ao mesmo tempo passando a mão em seu rosto.

Eu estava tão aliviada em encontrá-lo vivo, que poderia facilmente flutuar.

A ambulância não demorou muito pra chegar, e os socorristas imediatamente fizeram os primeiros atendimentos e depois o encaminhou às pressas para o hospital.

E eu, estava exatamente do seu lado, segurando firme a sua mão e repetindo para ele e para mim mesma.

" Calma, vai ficar tudo bem".

O vizinho Where stories live. Discover now