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Eu demorei dez anos pra descobrir que todos os meus esforços para salvar Caleb de si mesmo foram em vão, e bastou uma única sessão de terapia para eu saber disso.

E vai precisar de muitas sessões até que ele melhore.

Caleb é o típico caso perdido, sua doença não tem cura, o que significa que seu temperamento agressivo faz parte da sua personalidade e não tem como mudar, sempre que uma coisa não sair do jeito que ele quer, ele vai reagir dessa forma, ou até pior, porque o seu cérebro não reconhece controle, nem limites.

Quando o terapeuta deu o diagnóstico, uma lágrima escorreu dos meus olhos e eu tentei apara-la antes que Caleb visse.

E tentei me manter inabalável, mas por dentro eu estava aos plantos.

Meu sofrimento nunca vai ter fim.

Caleb, por outro lado, fitava as próprias mãos se sentindo uma aberração.

Por isso tem sido um sacrifício ama-lo.

O terapeuta explicou sobre seus ataques de fúria, sobre o medo que ele tem da refeição e do abandono, tudo sintomas comuns da doença.

—– Seu marido é um risco para os outros e para si mesmo...durante o tratamento é essencial que fique do lado dele...

Em algum momento durante a sessão, a voz do terapeuta ficou distante, e os meus pensamentos fluíram.

Como posso ficar do lado dele, sabendo que a qualquer momento ele pode surtar e me espancar.

Bom, da mesma forma que fiquei do lado dele esse tempo todo.

Dez anos não são dez dias.

Parei suas mãos que tremiam instantemente, e o encarei profundamente.

—– Vai ficar tudo bem — Assegurei

Ele me lançou um olhar triste.

Saímos da sessão silenciosos e permanecemos assim até chegarmos em casa.

Caleb estava arrasado pelo diagnóstico, nem ele sabia que tinha um transtorno psicológico, nem ele mesmo se compreendia.

Ele até então achava que tudo era normal.

E outra vez ele estava descontrolado, quebrando tudo que via pela frente.

—– Caleb não é tão ruim, o terapeuta disse que tem tratamento, você só precisa frequentar as sessões e tomar os remédios corretamente e...

Parei de falar assim que ele  arremessou um copo na minha direção, por pouco os cacos não me atingiram.

Meu corpo ficou imóvel com o susto.

—– Mas não tem cura — Ele berrou.

—– Isso não faz eu amar menos você, a gente pode vencer isso junto, com a ajuda dos remédios, logo você ficará bom, controlado.

—– Eu não quero tomar porra de remédio nenhum —  Gritou, derrubando a mesa que ele mesmo havia comprado para substituir a outra que quebrou.

Seu ataque de fúria não tinha fim, ele avançava sobre móveis sem piedade, parecia um animal feroz.

Meu corpo estava tenso, e meu coração acelerado, sua expressão enraivecida me trouxe lembranças perturbadoras.

Nada do que eu dissesse, iria para-lo.

—– Caleb, para, você vai se cortar —  Falei puxando ele pra longe de todo aquele vidro quebrado.

O vizinho Onde as histórias ganham vida. Descobre agora