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—– Ella? — Uma voz distante me chamava na escuridão. Mas eu não conseguia abrir os olhos, e pra falar a  verdade, eu não queria abrir os olhos.

Eu não quero ver nada disso.

Por que diabos me tiraram do chão?

Será que aqui tem alguma cela vazia para que eu possa me trancar e morar lá pra sempre?

Parece mais confortável do que dormir na minha casa, sondada por demônios, que me vigiam o tempo todo.

Quando eu finalmente decidi abrir os olhos, vi que a detetive me olhava. Havia confusão em seus olhos, e o seu rosto estava tão próximo, tão redondo.

Isso é assustador.

—– Ella, podemos continuar essa conversa depois, você não parece bem.

—– Eu estou bem  — Procurei uma posição mais confortável na cadeira.

Olhei em volta e percebi que estávamos em outra sala. Essa era mais sombria, tinha paredes cinzas e uma única luz no teto, acima de nós.

Se tratava de uma sala de interrogatório.

Não tinha nada pra prender a atenção, então fui obrigada a olhar nos olhos da detetive. Olhos esses, extremamente marcantes e intimidadores.

—– Tem certeza que quer continuar? — perguntou com uma expressão séria.

—– Sim.

A mulher respirou fundo, em seguida foi se sentar no seu lugar. Ficando de frente pra mim novamente.

—– Eu fui no hospital outro dia, te  procurar, mas não te encontrei...eu queria que soubesse a verdade..antes que o acusado acordasse. Assim não correria o risco dele te manipular novamente, visto que vocês  planejavam fugir.

—– Eu não planejava fugir com ele.

—– Não?

—– Nāo,  eu só pensei que sua vida estivesse em perigo, e pensei que se ele fugisse, estaria á salvo, mas eu não fazia ideia de nada disso.

—– Não tem como fugir de si mesmo, Ella Watson, você pode ir para o lugar que for, que o seu passado vai está lá com você.

—– Como sabe o meu nome?

—– Porque por coincidência,  eu estava investigando o  desaparecimento de uma garota, e ela tem suas características, embora você seja mais velha ...

Como assim, eu estou desaparecida?

Ela estendeu o celular e mostrou uma foto de um cartaz com a minha imagem e meu nome logo abaixo dela.

Isso me encheu os olhos.

Só me dei conta de que o tempo passou, quando eu reparei que eu estava muito jovem, com traços angelicais. Tão ingênua.

—– Fiquei comovida com dois pais desesperados, que procuravam pela sua filha que havia desaparecido, após ser levada por um homem que dizia ser seu namorado ...

Agora tudo faz todo sentido. Por isso eles nunca me ligaram. Nunca procuraram saber como eu estava. Na verdade, eles não faziam ideia de onde eu estava.

Limpei as lágrimas e olhei para a mulher.

—– Eu não estou desaparecida, estou apenas morando em outra cidade, mas a correria ...

—– Ella você não precisa mentir pra mim ...

—– Não estou mentindo.

—– Conta o que aconteceu...ou o que está acontecendo...você está sendo ameaçada, é isso?

O vizinho Onde as histórias ganham vida. Descobre agora