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A noite depois que Caleb dormiu, eu caminhei na ponta dos pés até a janela e me deparei com Vicent ali parado, segurando uma garrafa de bebida na mão e me olhando de uma forma estranha como se não me reconhecesse.

Nem eu me reconheço.

E eu podia compreender muito bem sua indignação, afinal de contas eu saí da sua casa crente de que nosso plano daria certo, e nisso já se passaram duas semanas e eu não tive sequer coragem de procurá-lo pra dizer que falhei miseravelmente.

Eu sentia por cada lágrima que era derramada dos seus olhos, e cada gole daquela bebida que escorria para dentro de sua boca.

E mesmo se eu tivesse coragem, eu não poderia, Caleb passou todo esse tempo do meu lado encenando a peça do marido perfeito e prestativo cuidando da mulher doente e deprimida. Enquanto eu fingia acreditar em toda essa loucura.

Você engana um louco, participando das loucuras dele.

De manhã eu preparei o café dele, e deixei sobre a mesa, depois ajeitei sua gravata para ele ir para o trabalho, sendo retribuída com um beijo na testa.

Esperei ele sair pela porta expressando toda a minha gratidão através de um sorriso escancarado, para logo depois fechar a cara e limpar sua baba do meu rosto.

Eu sei que é tudo mentira, e que uma hora ou outra, ele vai surtar e voltar a me bater como antes.

—– Você não matou ele —  Uma voz soou atrás de mim, e eu respirei profundamente antes de me virar e encarar Vicent nos olhos.

E ele estava exatamente parado na sala, sem expressão e com um olhar vago.

—– Vicent —  Sussurrei arrasada e assustada ao mesmo tempo com sua presença repentina.


Eu não estava preparada para falar com ele, foram dias tensos e exaustivos pra mim.

Ele se aproximou, tirou o palito de cigarro aceso da boca, e apagou no canto da janela, depois virou pra mim absurdamente sério, esperando por uma explicação.

—– Eu não consegui — Suspirei com a voz embargada — Eu tentei, acredite.

—– Eu...vi você voltando do hospital outro dia, aconteceu alguma coisa? — Ele desceu os olhos para o meu braço machucado

Eu quis poupa-lo do que realmente havia acontecido, até porque eu teria que contar sobre o aborto e eu não sei se ele vai está preparado para a notícia.

Quem gostaria de saber que seria pai, e ao mesmo tempo saber que não poderá exercer o papel como tal.

—– Nada.

—– Não minta pra mim - Ele gritou, e eu estremeci.

—– Não estou mentindo, não aconteceu nada que você já não saiba — Falei aos plantos — Eu não posso mais fazer isso, é loucura, eu me envolvi com você em um péssimo momento da minha vida, eu estava carente de sexo e atenção, e vi em você uma oportunidade de me satisfazer. Eu sinto muito, não queria te magoar. Lá no início quando eu estava te espionando, nunca imaginei que as coisas chegariam a esse ponto...

—– Para — Ele interrompeu com os olhos cheios de lágrimas.

—– Não, não chore por favor, você foi a melhor coisa que já me aconteceu —  Agarrei seu rosto e colei nossas testas — Com você era como estar nas nuvens...

Ele arrancou as minhas mãos do seu rosto e se afastou indignado.

—– Com Caleb, é como se estivesse em queda livre, despencando, e nunca conseguisse chegar ao chão de fato...com ele, eu não me sinto firme, segura...ter passado esses momentos do seu lado foi algo que eu jamais vou esquecer... mas sinto muito, não posso levar isso a diante, e você sabe...

—– Tá, esquece o que eu te propus a fazer, vamos continuar do jeito que estávamos, sendo amantes, eu não me importo — Sugeriu desesperado —  Eu só quero ficar com você, não importa como

—– Não dá.

Ele socou a mesa e em seguida agarrou os cabelos, atordoado, e eu senti uma louca vontade de abraça-lo, ao mesmo tempo que achei que não deveria.

—– Ele vai acabar matando você, droga! - Soltou desolado.

Fiquei calada por um instante, porque eu sabia que aquilo era verdade, mas dói ter que admitir pra mim mesma.

—– Quero que vá embora da minha casa e não volte nunca mais — Endureci as palavras.

—– Você não quer dizer isso — Ele disse incrédulo.

—– Quero sim.

—– Quer saber de uma coisa? você não passa da porra de uma egoísta...

—– Não.

—– Sim, você é egoísta — Apontou — Você não liga para os sentimentos de ninguém.

—– É exatamente ao contrário, estou passando por cima dos meus sentimentos e das minhas vontades  para te proteger, Caleb é extremamente perigoso, ele é... louco, e pode machucar você

—– Eu não preciso que ninguém me proteja Ella, já sou um homem, sei me defender muito bem — Rebateu com convicção.

—– Não, você é apenas um garoto frustrado que vivia de sexo casual, e que agora está obcecado por uma mulher que não pode ter, caramba - Alterei a voz — Meu deus! Eu não aguento mais isso.

Ele ficou calado por um instante, e uma lágrima de repente escorreu dos seus olhos juntando-se à sua expressão de dor.

—– Vicent, me desculpe...

Tentei me aproximar , mas ele se afastou indiferente, depois saiu batendo a porta, me deixando completamente sem chão.

O vizinho Where stories live. Discover now