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Cheguei na cafeteria por volta das dez horas, e depois de pagar o motorista, desci do carro apressadamente.

Chegando na cafeteria, avistei de longe uma mulher sentada, e notei que era a única ali. Então me aproximei.

—– Bom dia — Cumprimentei educadamente, mas assim que ela me olhou, o meu estômago revirou.

Diante de mim estava a mulher que fez tanto mal a Caleb, e que provavelmente o transformou em um ser cruel e impiedoso.

—– Bom dia — Respondeu enquanto olhava para os lados como se procurasse por alguém.

—– Antes que pergunte, fui eu quem mandei a mensagem.

Ela voltou os olhos pra mim e sorriu com os lábios selados. Arrastei uma cadeira e me sentei de frente pra ela, movida pela ansiedade.

—– Dois cafés por favor — Fiz um sinal para um moço que estava atrás do balcão, e ele assentiu

Depois voltei os olhos para a mulher, e um silêncio repentino pairou sobre nós.

—– Creio que deve estar aqui em busca de respostas  — Deduziu, se recostando na cadeira, enquanto me observava atentamente.

Reparei um pouco nela, e notei que ela  tinha uma aparência um pouco febril e descuidada, como se tivesse passado um tempo morando na rua, nem parecia ser a mãe de Caleb. Mas embora apagados, ali se notava seus grandes olhos azuis.

—– Por que você fica ligando para o meu marido, o que você quer? — Fui direto ao ponto, e fui correspondida por uma risada monstruosa que me fez remexer na cadeira...

—– Eu sou a mãe dele, e as mães ligam para os seus filhos — Ironizou.

—– Não mães como você.

—– Caleb teve uma puta sorte de ter encontrado uma boa família — Ela retrucou com uma voz falha — Uma mãe de verdade, que deu todo o carinho e amor que eu não fui capaz de dar, não fui uma boa mãe...

Senti uma raiva imensa ao imaginar que muita coisa poderia ter sido evitada, se ela simplesmente tivesse feito o seu papel de mãe.

Caleb não seria tão vazio de amor, como ele é hoje. E provavelmente teria sido um marido incrível.

—– Engravidei muito cedo, fui expulsa de casa, comi o pão que o diabo amassou, mas sei que isso não justifica nada, eu estava lá, e ele era o meu filho, tudo o que eu deveria ter feito era ter cuidado dele como uma mãe que se preze faria.

Eu só  conseguia sentir raiva dela. Uma mulher desprezível, sem caráter, uma pessoa que você nem pode comparar com um animal.

Como ela teve coragem de machucá-lo, era só uma criança.

As lágrimas saiam sem controle dos meus olhos, enquanto eu me espremia para aguentar só mais um pouco, eu precisava saber os motivos dela, eu precisava sair dali com alguma certeza de que Caleb não era o único culpado.

—– Era só eu, e ele contra esse mundo cruel e tenebroso, mas eu estava revoltada com tudo e todo mundo,  o pai dele era um desgraçado que só me batia e abusava de mim o tempo todo, e quando Caleb nasceu e pensei que a paz reinaria em casa, mas ficou pior...e ele sempre enfrentava o pai pra me proteger e acabava apanhando, eu tinha consciência de tudo isso, mas eu ficava paralisada sem consegui fazer nada pra tirar o meu filho das mãos daquele monstro..eu não fiz nada pra para-lo...eu simplesmente o abandonei...ele presenciou o pai tirar a própria vida, e depois disso algo parece ter mudado dentro dele...

O vizinho Where stories live. Discover now