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Olhei para o prato recheado de Caleb, e comparei com o meu, onde tinha mais salada e cenouras do que outros alimentos.

E a fome imediatamente fez meu estômago roncar.

____ Se bem que eu poderia ignorar a dieta só hoje, estou com muita vontade de devorar esse bife suculento - Confessei com água na boca, mas Caleb me lançou um olhar que me fez engoli todas aquelas palavras.

____ Ok já entendi, nada de bife.

Entediada, eu olhei em volta e reparei que havia vários casais ali, interagindo entre si, diferente de Caleb e eu, que pareciamos dois estranhos tendo um primeiro encontro.

Quando você não sabe nada sobre o outro, e tentam iniciar uma conversa para descobrir o que tem em comum.

No caso de Caleb, nem isso.

Ele estava cabisbaixo evitando me olhar diretamente, enquanto devorava seu bife, mas da maneira dele. De garfo e faca, sem permitir que um grão fugisse do prato.

Com a fome que eu estava, eu tinha agarrado aquele bife com as mãos mesmo, e enfiado ele todo na boca.

Mas como estavamos em um restaurante, e considerando que Caleb arrancaria meus dentes se eu fizesse isso, prefiri ficar na minha.

_____ Vou ao banheiro - Resmunguei irritada, arrastando a cadeira pra trás.

...

Me olhei no espelho e vi toda uma beleza jovem desperdiçada pelo estresse e a raiva.

Quanto tempo eu perdi sendo rejeitada, quando eu poderia ser amada e desejada, cobiçada o tempo todo. Eu vi os olhares furtivos de outros homens assim que entrei, eram olhares de desejo, de cobiça, e tudo o que eu mais queria era que Caleb me olhasse assim.

Mas sei que isso é impossível, senti ciúmes até da forma que ele olhava para aquele bife.

Vi uma lágrima prestes a ameaçar a minha maquiagem, mas respirei fundo e consegui me controlar.

Eu estava horrorosa, vestindo um vestido que não me valorizava em nada, porque Caleb não me deixava usar roupas muito expositivas.

Que tenha algum decote ou qualquer outra abertura que me exponha a olhares curiosos.

Caleb odeia o fato de alguém desejar o que é seu.

Mas se nem ele deseja, quem dirá os outros.

Quando eu estava voltando pra mesa, o avistei de longe, pagando a conta se eu nem sequer ter tocado no prato, senti uma raiva tão grande me consumir, que me virei e fui em direção a porta dos fundos e comecei a andar com os olhos embasados pelas lágrimas.

Eu não queria ir embora com ele, queria ir pra qualquer outro lugar, menos voltar pra casa, para aquele inferno, no qual estou cansada de ser humilhada, de ser desprezada por um homem que deveria me amar e cuidar de mim.

Quando eu lembro de ter ouvido isso sair da boca dele quando estava na casa dos meus pais, sinto náuseas.

_____ Ella? Ouvi o som perturbador de sua voz me gritar, mas ao invés de obedecer como sempre faço, acelerei os passos - Ella, pra onde está indo? volte agora. Ele tentava manter um certo controle em sua voz, mas eu sabia que ele queria berrar, gritar como sempre fazia. E isso aumentava ainda mais o meu desejo de fugir. Comecei correr, ignorando o toque das pessoas preocupadas ao longo do caminho.

Algumas até tentaram me agarrar, me fazer voltar para os braços daquele monstro, mas eu consegui me desvencilhar, pena que isso custou um nariz quebrado.

E justo do gerente do restaurante que urrou de dor.

Mas eu não podia parar, Caleb estava atrás de mim como um lobo faminto atrás de sua presa, prestes a devora-la. Cada segundo contava, e meu coração estava prestes a sair pela boca.

E quando eu finalmente cheguei na porta, eu...

Travei.

Quando eu finalmente tive a chance de fugir, sentir a liberdade formigar nos meus pés e soltar um grito de socorro.

Eu simplesmente travei ali, não consegui sequer dá um único passo.

Até que senti meu braço ser puxado violentamente pra trás, e enquanto eu era arrastada, vislumbrei aquela porta aberta ficar cada vez mais distante.

Pela forma como Caleb me segurava, e as veias saltadas em seu pescoço, era evidente que ele estava furioso ao ponto de me matar.

Eu não acredito que não consegui fugir, mesmo estando com a faca e o queijo na mão.

____ O que pensa que está fazendo sua idiota? Caleb Sussurrou entre os dentes ao mesmo tempo que olhava para as pessoas no restaurante com um olhar confiante, assegurando de que tudo aquilo não passou de um mal entendido, e que seria resolvido.

Com uma severa punição.

Puxei meu braço, e comecei a andar do seu lado, sendo ameaçada o tempo todo pela sua presença assustadora.

Cruzei os braços, aborrecida e decepcionada com as pessoas que não moveram um dedo pra me ajudar.

Olhei para uma mulher com um olhar de misericórdia e os lábios trêmulos.

Mas ela me ignorou amargamente.

____ Você vai se arrepender de ter me envergonhado dessa maneira - Caleb rosnou.

Do lado de fora ele abriu a porta do carro e praticamente me jogou lá dentro.

E não disse uma palavra o percurso inteiro, enquanto eu seguia cabisbaixa e emburrada.

Morrendo de fome.

Sentindo um combinação de frio e medo, como se eu estivesse sendo levada para a morte.

____ Caleb me desculpa - Apelei. Nunca mais vou fazer isso.

Ele ignorou minhas súplicas e continuou dirigindo normalmente.

Atordoada, comecei a chorar desesperada e a bater com as mãos no vidro do carro, pra talvez chamar atenção de alguém na rua.

Mas ele me parou com um tapa no rosto.

Assim que o carro parou, ele desceu apressado, deu a volta do outro lado, abriu a porta e me arrancou violentamente de dentro pelo cotovelos.

Já dentro de casa, ele seguiu me arrastando escada acima, até chegar no quarto escuro, que foi quando ele parou, abriu a porta, e me empurrou lá dentro sem o menor cuidado.

Levantei do chão para protestar, mas senti uma forte dor no braço me imobilizar por inteiro.

Não tem castigo pior que passar a noite com fome e com medo.

Então já que eu estava no chão, deitei agarrando os joelhos, depois comecei a chorar e soluçar, desejando ser consolada outra vez pelos braços do vizinho.

O vizinho Onde as histórias ganham vida. Descobre agora