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Com passos relutantes se aproximava um rapaz franzino de cabelos raspados e escuros.

Se não fosse os seus olhos verdes e marcantes, eu não o reconheceria.

Ele estava algemado, e era possível ver a marca das agulhas em seus braços, além de estar com uma mancha avermelhada ao redor dos olhos.

Ele nem tinha se recuperado direito, esses policiais maldosos o arrancaram do hospital à força, assim que ele acordou.

E por que eu sinto pena dele? não é como se ele fosse injustiçado.

Ele é um assassino.

Balanço a cabeça afim de voltar para a realidade, onde ele é o manipulador, e eu sou vítima.

Não tão vítima, também fiz coisas ruins, mas quando você está dominada por um sentimento tão intenso como o amor, você é capaz de fazer qualquer coisa sem pensar duas vezes.

E metade das coisas ruins que eu fiz foram por causa dele, para protegê-lo.

Eu não tinha reparado que ele havia mudado tanto durante esse tempo que ficou internado. Estava com um aparência horrível. Febril, com algumas cicatrizes pouco visíveis em seu belo rosto.

Agora olhando bem pra ele, eu consigo enxergar o garoto do video. Pobre criança traumatizada.

Ninguém ensinou a ele o que era o amor.

Nem eu faço ideia de como é o amor.

O amor que eu conheço é um sentimento doentio e paralisante que te obriga a ficar em um só lugar a vida inteira. Se eu não amasse tanto Caleb, eu já teria ido. Mas parece que tem uma corrente presa no meu pé.

O policial retirou as suas algemas, e ele se sentou na cadeira e encarou meus olhos em silêncio.

Ele parecia muito calmo para quem iria passar o resto da vida atrás das grades.

Tinha algo errado com ele. Seu semblante me deixou completamente desconfortável. E não era assim que eu deveria me sentir.

Poxa, eu o amava. E agora eu nem sei mais o que eu sinto.

—– Eu pensei que nunca mais fosse te ver —  Ele disse com a voz falha, enquanto eu o fitava paralisada do outro lado.

Suas mãos estavam bem distantes de mim, e eu sabia que o policial estando presente na sala, não permitiria que ele me tocasse. Mesmo assim eu tinha pavor que suas mãos me fizessem voltar a sentir coisas que eu não queria.

As lágrimas molhavam os meus olhos. E toda vez que eu tentava apará-las, meus dedos eram inundados.

Eu olhava para ele e pensava.

Poxa, mas ele me salvou da escuridão, foi ele que meu deu forças pra continuar. Foi ele que quando eu estava no pior momento da minha vida, estava lá pra me consolar. Mas caramba, também foi ele que me magoou, me enganou, que me usou, ele fingiu que me amava e me fez ama-lo. Ele poderia ter me matado como fez com as outras vítimas, e por que não me matou?

É tudo tão confuso.

Isso não pode ser verdade.

Limpei as lágrimas e assumi uma expressão apática. Não, eu não estou aqui pra sentir pena dele, ele não merece, ele me manipulou, me fez perder o meu precioso tempo, correndo  atrás de uma coisa que sequer existia.


Mas isso também foi culpa minha, eu quem alimentei essa fantasia, eu não deveria ter ido na sua casa, eu não deveria ter dado esperanças pra ele. Eu não deveria ter feito nada.

O vizinho Where stories live. Discover now