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A depressão de Caleb não durou muito, e logo ele estava impossível de novo.

Não sei por que eu ainda penso que seria diferente.

De manhã, enquanto eu preparava o seu café, pensei seriamente em batizá-lo com veneno pra rato, mas depois repensei.  Eu só estava com raiva e aborrecida e não poderia tomar essa decisão baseada em paranóias da minha cabeça, e também com certeza eu iria me arrepender.

Mas tantas vezes me veio esse pensamento na cabeça, de fazê-lo simplesmente desaparecer, sofrer por tudo de ruim que ele me fez passar, cada humilhação, cada lágrima derramada. Só assim a minha vida teria um pouco de paz, e eu me livraria dessa vida medíocre da qual eu estou vivendo.

Eu poderia estar vivendo feliz na minha casa, ajudando o meu pai na oficina, ou a minha mãe a fazer bolos deliciosos e logo após iniciar uma guerra de farinha.

Por um momento as lembranças se espalharam pela casa, e eu pude ouvir as risadas da minha mãe, como se ela realmente estivesse ali.

Senti um largo sorriso se curvar em meus lábios, mas logo se desfez ao perceber que não era real, e a tristeza fez com que uma lágrima rolasse pelo meu rosto.

Balancei a cabeça afim de me desprender dessa ilusão, peguei a bandeja do café e segui para a mesa onde estava sentado a frieza em pessoa.

Me sentei junto a ele e evitei seu olhar, porque eu não o suportava, e contentei em canalizar todo esse ódio na minha torrada, passando a faca nela, imaginando o pescoço dele sendo degolado.

Um pensamento nada saudável para a hora do café.

Senti que as lágrimas embasavam o tempo todo os meus olhos e a angústia beirava meu peito.

Não conseguia respirar.

Me sentia sufocada.

Eu queria fugir, queria derrubar aquela mesa e sair correndo pela rua gritando por socorro, mas sei que seria em vão. Caleb criou uma boa reputação entre os vizinhos, ninguém acreditaria em nenhuma palavra que eu dissesse, iriam pensar que era só mais uma crise, como daquela vez que eu surtei e sair correndo pelo bairro, descalça e machucada, pois Caleb havia me batido pela primeira vez. Jamais vou esquecer de como as pessoas me olharam.

Como se eu fosse uma dissimulada.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo ardor do meu dedo, logo percebi que eu havia me cortado, e além disso a torrada estava toda esfarelada em cima da mesa. E meu coração disparou com a possibilidade de Caleb me punir pela sujeira.

—– Sua Inútil! - Rosnou

Levantei os olhos e o encarei enfurecida, e sua expressão endureceu.

—– Quer mais café? — Perguntei cerrando os dentes e apertando a toalha da mesa pra conter a raiva.

—– Não, e já que tocou no assunto, esse café está horrível.

Ele se levantou, e eu o segui com os olhos

E assim que ele passou por mim, as lágrimas de raiva e desespero invadiram os meus olhos, mas eu as contive rapidamente.

—– Porco - Cuspi as palavras.

O serviço da casa, por mais exaustivo e tedioso que fosse, era o que me mantinha no controle, às vezes ter o que fazer ajuda a manter a mente ocupada e longe de pensamentos paranóicos e suicidas.

Então eu colocava uma música e dançava pela sala, balançando a vassoura de um lado para o outro alegremente, como ela fosse a minha parceira de dança, relembrando os bons tempos que eu dançava na escola, e todos aplaudiam o meu talento, e aquilo me deixava tão feliz, diferente de hoje que ninguém me elogia, nem mesmo o meu marido.

O vizinho Where stories live. Discover now