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-- Ella

Uma voz distante me chamava na escuridão.

Abri os olhos e vi a imagem embasada de Caleb ficando nítida aos poucos.

-- Meu amor, o que houve? - Sua voz soou como música para os meus ouvidos.

-- Hum - Resmunguei, sentindo novamente uma pontada na cabeça. Olhei ao redor e percebi que eu estava um bom tempo caída no chão. Meu corpo doía um pouco.

Caleb me ajudou a levantar e me conduziu com cuidado até o sofá.

E de pensar que antes se ele me visse nestas condições me arrastaria pelos cabelos e me daria um banho de água fria.

Por que será que ele mudou tanto? Parece até outra pessoa.

Às vezes eu fico pensando se não tem dois dele, um gêmeo mal e o outro bom. E ele deve ser o gêmeo bom.

Caleb já é perfeito, imagina dois.

-- Por que está me olhando desse jeito? Sua bêbada - Ele perguntou com um sorriso radiante nos lábios.

Deixei escapar um sorriso.

Nem percebi que eu estava o secando assim.

-- Para, eu só bebi um pouco

-- Um pouco - Ele zombou olhando para a garrafa vazia.

Segurei a minha cabeça que parecia que estava sacoalhando.

-- Não acredito que eu vou ter que te dar outro banho - Ele reclamou.

-- Banho, de novo não - Fiz corpo mole

Ele me pegou no colo e me carregou pela escada até o banheiro de cima

-- Sabe, eu não me importo que você tenha matado ele, eu gostava dele, mas estou do seu lado, você é meu marido, e as esposas ficam do lado dos seus maridos , não é mesmo? - Confessei com a voz alterada e olhos abrindo e fechando.

Ele olhou pra mim e franziu as sobrancelhas, confuso.

-- Do que você está falando sua louca?

Ele me levou para o outro banheiro que ficava no corredor, porque esse tinha uma banheira.

Eu me perguntava pra que tantos banheiros nessa casa, se a gente só usava um.

Na verdade, essa casa é grande demais para duas pessoas que não têm filhos e muito menos recebem visitas.

Eu não me importaria de morar em um barraco.

Mas minha mãe teria amado a cozinha, é enorme e ela poderia cozinhar à vontade.

Ela sempre reclamava da cozinha lá de casa e vivia dizendo que ficava ainda mais apertada quando eu e o meu pai ficávamos atormentando ela.

Meu pai até que ajudava, cortando verduras, mas eu só estava esperando a oportunidade perfeita para enfiar minha mão suja na massa do bolo e sair correndo.

Eu olhava pra trás e minha mãe estava na porta rindo, segurando uma colher de pau e ao mesmo tempo ameaçando quebrar ela na minha cabeça.

Quando eu olho pra trás agora, eu não vejo ninguém.

A frieza da água me tirou a força dos meus pensamentos tristes.

Meu corpo inteiro enrijeceu.

-- Desculpe, eu abri a torneira de água fria ao invés da quente - Caleb disse, em seguida abriu a torneira com a água mais quente pra quebrar a frieza.

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